Globo x Bolsonaro e Frota

Sei muito bem que, nas redações, os jornalistas recebem muitas denúncias, boa parte delas furadas, apenas nascidas da vontade de se vingar de alguém, etc.

Mesmo assim, as denúncias que valeria a pena investigar sempre superam o número de jornalistas disponíveis, pois, é claro, ir atrás de uma denúncia requer tempo para checagem, para estabelecer contatos, enfim, é caro manter uma equipe como a do filme Spotlight para correr atrás de denúncias que às vezes não darão notícias, mas que sempre darão muito trabalho. Ainda mais que, por outro lado, há a necessidade de alimentar o sempre pantagruélico jornal com novidades diárias.

Porém, tudo isso se altera quando um beócio como Alexandre Frota — sim, aquele que fala pelo “Jair” — avisa que vai destruir a Globo e se aproximar dos pastores da Universal. Resultado: a emissora vai atrás de cada denúncia que recebe sobre a famiglia Bolsonaro e descobre horrores. Aposto que a Globo até segura o que já sabe para dar um escândalo a cada 2 ou 3 dias, como um conta-gotas. E também aposto que há um crescente time de denunciantes ligando para a Redação.

Quem planta inimizades não pode ter telhado de vidro.

(E Moro permanece silencioso como um capanga)

A novela Meu Pedacinho de Chão deixa estarrecida a família brasileira

A novela Meu Pedacinho de Chão deixa estarrecida a família brasileira

Os telespectadores da — adivinho — maravilhosa novela chamada Meu Pedacinho de Chão (ou seria Meu Pedacinho de Seio?) vêm movimentando as redes sociais nas últimas horas. No capítulo de segunda-feira (30) da novela das seis da Rede Globo, a professora Juliana, interpretada pela atriz Bruna Linzmeyer, abusou do decote e mostrou algo chocante, aquilo que parece ser parte de sua aréola direita.

Os admiradores da Mulata Globeleza ficaram ruborizados, certamente.

pedacinho de areola

O que querem os protestos?

Por Ramiro Furquim/Sul21
Clique para ampliar | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Tudo. Os protestos querem tudo e… Como fazer para direcionar esse pessoal que se organiza nas redes e organiza protestos imensos como incrível rapidez? Quando eu era jovem, a gente marcava um comício ou um ato público. Estes eram temáticos e, para que pudesse ter gente, nós precisávamos criar panfletos, acertar o desenho e o texto da chamada, reescrever as palavras de ordem (ai, que saco), anunciar em salas de aula, distribuir nas ruas, etc. Não estou falando em tempos de ditadura, estou falando nos tempos das Diretas Já e depois. De tempos efêmeros em minha vida, pois hoje os protestos organizam-se abertamente nas redes sociais, e vai quem quer, não se sabendo o grau de comprometimento de cada um com a pauta inicial.

Pois não são só as passagens. É a frustração de não se ver representado na política, é a péssima qualidade de vida e do transporte em nossas periferias, é um Congresso cheio de personagens de opereta discutindo a cura gay e tantas outras bobagens, são leis novíssimas que são votadas e que já nascem anacrônicas, é a judicialização do estado, é a péssima imprensa — por que os protestos via de regra buscam a Rede Globo e a RBS? — que pensa que pode mudar o protesto para algo “contra a corrupção e a impunidade”, é a editora Abril e sua Veja fascista, são os bancos, são os índios assassinados, é a classe média e seus inarredáveis e incontornáveis probleminhas, é a classe C mais informada, é o mensalão na forma como foi vendido, são as polícias militares sem comando — pois os políticos ainda se cagam quando veem uma farda –, é inclusive a corrupção e a impunidade, mas é muito mais o Planalto desconectado, que vê os manifestantes como incompreensíveis mímicos e financia a mídia que sonha em matá-lo. Read More

Vai para o trono ou não vai?

Publicado em 30 de junho de 2012 no Sul21

O Velho Guerreiro em ação num de seus programas

José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, deixou de balançar a pança em 30 de junho de 1988, após anos comandando a massa e dando as ordens no terreiro dos anos 50 aos 80. Mas certamente o terreiro de Chacrinha era bem menos organizado que os de umbamba. Porém, antes de avançar, talvez seja melhor começar fazendo a apresentação do Velho Guerreiro aos jovens. Chacrinha foi um famoso apresentador de programas de auditório. Eram basicamente de programas de calouros. O candidato a cantor se inscrevia e ia ao programa mostrar seu potencial. Se cantasse bem era aplaudido e até poderia voltar e ficar famoso e fazer carreira; se cantasse mal, o apresentador acionava uma buzina e interrompia o cantor ou cantora, que era simplesmente defenestrado e às vezes humilhado. Isto seria impossível nos dias de hoje, haveria processos por danos morais. Quem era buzinado recebia o Troféu Abacaxi, o qual consistia num abacaxi.

Durante seus programas, Chacrinha vestia-se como o mais estranho dos palhaços — algo efetivamente esdrúxulo — e não parava um segundo de caminhar. Ignorava os câmaras que o perseguiam em um palco com mulheres dançando sem muita sincronia, pessoas que simplesmente estavam por ali e técnicos. Pessoas passavam na frente da câmara e Chacrinha os afastava como podia. Seus programas eram uma zona. Quando não sabia o que dizer, largava seus bordões. Chamava “Teresinhááááááá”, afirmava que “Quem não se comunica se trumbica” e, quando acusado de copiar ideias de outros apresentadores, dizia que “Na televisão nada se cria, tudo se copia”.

Com Raul Seixas nos camarins de “A Buzina do Chacrinha”

Chacrinha revelou nomes como Roberto Carlos, Wando, Agnaldo Timóteo, Odair José, Nelson Ned e Raul Seixas, o que é um verdadeiro milagre quando se vê filmes onde o apresentador simplesmente seguia falando durante as apresentações. Quando o calouro chegava, ouvia a primeira pergunta – “Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?”. Quando era bom, às vezes era colocado num trono. O que decidia eram os aplausos e os gritos do auditório após mais um bordão berrado por Chacrinha em voz forte e muito rouca: “Vai para o trono ou não vai?”. E, quando se confundia com as atrações do programa ou com o horário dos comerciais dizia outro de seus célebres bordões: “Eu vim para confundir, não para explicar!”. Nada mais verdadeiro.

Seus programas eram “A Buzina do Chacrinha” e “A Discoteca do Chacrinha”. A “Buzina” era para calouros e a “Discoteca” apresentava os sucessos musicais do momento. Depois ficou complicado identificar um e outro e eles acabaram fundidos em um só: “O Cassino do Chacrinha”.

Elke Maravilha pontificando como jurada

Também havia a figura dos jurados, os quais destilavam seus estilos e teses no programa. Na verdade, faziam personagens, tipos que auxiliavam o clima de farsa e carnaval perpétuos: Carlos Imperial fazia o cafajeste; Aracy de Almeida utilizava seu real conhecimento musical para avaliar calouros e dizer absurdos; havia também o travesti Rogéria – uma novidade para a época (não o travesti, mas a aparição na TV) – ; mais Elke Maravilha, espécie de Chacrinha de saias; e o mal humorado bastião da moral: Pedro de Lara. Os jurados eram vaiados pela plateia enlouquecida quando descascava os calouros, enquanto os que estavam na primeira fila esfregavam o cabelo dele com as mãos. Outro elemento fundamental dos programas eram as Chacretes, as dançarinas. No início eram conhecidas como as Vitaminas da Chacrinha e faziam coreografias bastante simples. Recebiam nomes exóticos como o da mais famosa delas, Rita Cadillac. Também havia a Índia Amazonense, a Fernanda Terremoto e a Suely Pingo de Ouro, dentre outras.

Em pose especial com suas Chacretes

Certo dia, quando o bacalhau encalhou nas Casas da Banha, patrocinadora de seu programa na TV Tupi, Chacrinha reverteu a situação facilmente. Durante um programa, por vezes virava-se de surpresa para o auditório com postas de bacalhau na mão: “Vocês querem bacalhau?”, e atirava o peixe para o auditório, onde a plateia disputava a tapa o produto. No dia seguinte, faltou bacalhau nas Casas da Banha. Deviam ter previsto. Chacrinha passou a distribuir bacalhau em seus programas, claro.

E o playback rolava enquanto cantores os distribuíam beijos em mulheres da platéia — magicamente seguiam cantando — e os “jurados” conversavam com o microfone ligado. Tudo assumidamente kitsch.

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Anos 50: recebendo um prêmio, com Cely Campello

Chacrinha nasceu em 1917 em Pernambuco, na pequena Surubim. Aos 17 anos, foi estudar no Recife. Começou a cursar faculdade de Medicina em 1936, aos 19 anos, e em 1937 teve o seu primeiro contato com o rádio na rádio Clube de Pernambuco ao dar uma palestra sobre alcoolismo. Era percussionista do grupo Bando Acadêmico e, aos 21 anos, viajou como músico no navio Bagé rumo à Alemanha. Porém, naquele exato dia estourou a Segunda Guerra Mundial e o jovem Abelardo acabou desembarcando no Rio de Janeiro com seu grupo. Foi tocar no rádio e acabou como sendo aceito como locutor na Rádio Tupi. Em 1943, criou na Rádio Fluminense um programa de músicas de Carnaval chamado Rei Momo na Chacrinha. Fez enorme sucesso a passou a chamado de Abelardo “Chacrinha” Barbosa. Nos anos 50, comandaria o Cassino do Chacrinha, ainda no rádio, no qual lançou vários sucessos da música brasileira, como Estúpido Cupido, de Celly Campelo, e Coração de Luto, de Teixeirinha. No programa, inauguro o estilo de misturar tudo a ruídos e conversas, como se estivesse no meio de uma festa.

As Chacretes nos anos 60: discrição das Vitaminas do Chacrinha

Em 1956, estreou na televisão com o programa Rancho Alegre, na TV Tupi, na qual começou a fazer também a Discoteca do Chacrinha. Em seguida foi para a TV Rio e, em 1970, foi contratado pela Rede Globo. Chegou a fazer dois programas semanais: os citados Buzina do Chacrinha — com seus abacaxis e “Vai para o trono ou não vai? — e Discoteca do Chacrinha, de lançamentos. Chacrinha foi fundamental para consolidar a audiência da Globo junto às classes mais baixas da população. Quando a Globo adotou o glamour como padrão, a assepsia de suas produções acabou por expulsar Chacrinha. Ele foi para a Tupi e depois para a Bandeirantes — sempre com seu público. Retornou à Globo em 1982, onde ocorreu a fusão de seus dois programas num só, apresentado aos sábados à tarde.

Coroando o Rei

Quem vê um programa do Chacrinha hoje, deverá chegar à conclusão de que se tratava de um comunicador e humorista absolutamente sensacionais. Porém, o espectador tiver tempo de ligar seu senso crítico, verá também um apresentador de humor cáustico que ria de tudo, mas principalmente do público que o adorava. Tudo bem, era um caso de amor. Porém, por incrível que pareça, mesmo o apresentador de um programa tão apolítico e non-sense foi incomodado pela censura. O conteúdo desta carta, escrita por Chacrinha em 1980, revela alguma coisa: “Já há um ano, a Censura de São Paulo vem tratando os meus dois programas de TV, Buzina Discoteca do Chacrinha, com arbitrariedades censórias para as quais não encontro explicações razoáveis. Essas arbitrariedades começaram de certa feita, quando um censor paulista ligou para os estúdios reclamando das roupas das chacretes e de algumas tomadas de detalhes anatômicos.”  O destinatário da mensagem era o presidente do Conselho Superior de Censura (CSC), Octaciano Nogueira.

Coamandando a massa já no final da carreira

“Comandando a massa” em plena ditadura militar, Chacrinha ocupava uma posição curiosa no cenário político da época. A esquerda o acusava de promover a “alienação do povo”. Por outro lado, era vigiado pelos censores do mesmo regime, que o perseguiam não somente em razão das chacretes como pelas piadas “imorais e de duplo sentido”. (Outra de suas frases: “A melhor lua pra se plantar mandioca é a lua-de-mel”). Ou seja, para os militares, Chacrinha era suspeito por promover pornografia e atentar contra a moral; para a esquerda, promovia um entretenimento de massa que em nada contribuía para mudar a situação política do país.

Porém, o fato é que antes da ditadura, Chacrinha atirava bacalhau para a platéia, tocava a buzina para os calouros e provocava os jurados. Durante a ditadura, ele passou a atirar bacalhau para a platéia, a tocar a buzina para os calouros e a provocar os jurados.

Em outubro de 1987 recebeu título de “doutor honoris causa” da Faculdade da Cidade, no Rio.

Seu aniversário de 70 anos foi comemorado em setembro de 1987 com um jantar oferecido em sua homenagem pelo então Presidente da República, José Sarney.

Quando o programa acabava, dizia com ar sério: “Graças a Deus o programa acabou”.

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Selecionamos vídeos de alguns artistas nos programas do Chacrinha. A variação de estilos era intensa:

O clima geral desde a abertura do programa.

http://youtu.be/qNyxA2InL6g

Com Wando…

Gretchen…

Raul Seixas…

E Gilberto Gil cantando Aquele Abraço.

Armando Nogueira, o mais recente santo

Armando Nogueira, falecido ontem, tem recebido notáveis encômios post mortem. Na verdade, eu pouco sei dele além das discretas participações nos debates da SporTV e de ter sido o fundador e primeiro diretor do Jornal Nacional, um dos principais esteios da ditadura militar. Sei que havia a censura e que os milicos mandavam tirar isso e colocar aquilo, sei da concordância de Roberto Marinho, mas o papel de Armando é muito semelhante ao de Klaus Maria Brandauer no clássico Mephisto. Ele parece ser um poeta, um amante da palavra e do bom futebol romântico, porém passou 25 anos obedecendo aos militares e a Roberto Marinho no mais importante jornal da onipresente Rede Globo daquela época em que só tínhamos a TV aberta.

No documentário Muito Além do Cidadão Kane, Armando Nogueira critica acidamente a edição do famoso debate Lula x Collor de 1989, que beneficiou escarradamente o segundo e provavelmente decidiu a eleição. Virou exemplo de jornalista ético, apesar de sua longa relação com o braço jornalístico da ditadura. Estranho.

Mais. Há o bem mais claro escândalo da Proconsult de 1982. Havia a disputa Leonel Brizola x Moreira Franco e Nogueira — conhecido à época pelo delicado apelido de “armando nojeira” — ficou em maus, péssimos e malcheirosos lençóis por ter manipulado (ou colaborado com a manipulação) resultados das pesquisas de opinião, fato que se tornou depois corriqueiro. Brizola deixou às claras a atuação do educado e culto moço da Globo.

Sobre o caso Lula x Collor — vejam Santo Armando com o dedo na boca, todo torto na cadeira, tentando tirar o seu da reta da história:

Não digo que ele tenha sido culpado — o que sei eu? — , mas o Jornal Nacional era dele e estávamos numa época complicada. Difícil acreditar que tudo foi feito sem a presença do diretor, principalmente numa edição tão importante, não? E aqui está a beleza produzida pela Rede Globo para o Brasil no Jornal Nacional, um ou dois dias antes da eleição:

Nosso país não prima mesmo pela memória. Ninguém quis lembrar que o ameno, leve e simpático Fernando Sabino escrevera, provavelmente sob encomenda, Zélia, uma paixão, em homenagem ao amor da ministra da Economia do governo Collor, Zélia Cardoso de Mello, pelo ministro da Justiça Bernardo Cabral. Todos só queram falar em Encontro Marcado e nas crônicas. Então, tá. Viva Armando Nogueira!

Do livre falar e do chegar a lugar nenhum

Os grandes jornais brasileiros têm venda notavelmente decrescente — perdi o site que demonstrava cabalmente o fato, mas há comprovações medianamente aceitáveis aqui. Enquanto isso, prosperam os jornais destinados às classes C e D. Acho que podemos considerar que a internet começa a fazer baixas. Eu sou um consumidor médio de notícias e acho que sou exemplo claro disso. Exceção feita ao jornal de literatura Rascunho, não vejo outra publicação à qual cobiçasse receber em casa ou comprar. E sou um leitor compulsivo. Não obstante os fatos estatísticos, a maioria das pessoas continuam pensando na Folha, no Estadão e no Globo, por exemplo, como jornais muito influentes. OK, talvez eles influenciem aos leitores das classes A e B  das zonas urbanas de Rio e São Paulo, mas e o resto? Eles simplesmente não existem fora das regiões-sedes. Sua presença no interior do país é rarefeita e sua capacidade de mudar uma eleição nacional é risível. Porém, a gente fala muito neles. Muito! Talvez nosso silêncio fosse mais adequado.

(O mesmo vale para o RS a “nossa” Zero Hora.)

É claro que todos estes órgãos têm seu equivalente na rede, mas — e volto a tirar os outros por mim — prefiro a página de esportes do Terra, as tabelas do Infobola, o Impedimento,  o Todoprosa e leio sobre política num, modéstia à parte, bem-montado mix de blogs e sites constantes no meu Google Reader. Este sim, o Google Reader, é meu jornal. E não pensem que só inscrevo publicações e colunistas de mesma coloração política.

Em faixa contrária, o Instituto Millenium reuniu em São Paulo os representantes da mídia jornalão-style e a conclusão foi… bem, sou obrigado a rir novamente. Ignorando a ameaça da rede e sem conseguir refletir sobre o fato de todos serem exatamente iguais, tais órgãos realizaram uma reunião pública, chegando à patética conclusão de que Dilma Rousseff, o PT e Lula são stalinistas e contrários à liberdade de expressão. Pior: se Dilma ganhar a eleição, vamos retornar às brumas da ditadura. É notável e vale a pena dar risadas aqui.

O absolutamente lastimável Arnaldo Jabor — ex-cineasta que escolheu vagar e ser influente na Rede Globo — , que costuma ser tão admirado pela classe média spammer, fez uma das declarações mais paranóicas:

“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.

Tudo isso é dito desconhecendo a liberdade que a Veja teve e tem, que a Folha Ditabranda teve e tem, a liberdade do Estadão para ofender os blogs e toda a mídia eletrônica, etc. Jabor quer assumir o papel de Regina “eu tenho medo” Duarte 2002, porém, olha, com aquela cara de louco vai ser difícil que o levem à sério. Em textos efetivamente brilhantes, Tchékhov e Thomas Mann demonstraram que a forma clássica de decadência é fazer de conta que nada está acontecendo, que o mundo não gira e que há, ainda, hordas de guerrilheiros prontos para voltarem ao Araguaia.

Dramaturgia de senzala

Hoje é o Dia da Consciência Negra e é feriado em grande parte do país. Pois curiosamente, justo nessa semana, a novela Viver a Vida mostrou uma cena que despertou a ira dos movimentos afro. Além da ira, reclamam do sumiço da cena em que a personagem Tereza (Lilia Cabral) humilha e dá um tapa no rosto de Helena (a belíssima Taís Araújo). Sim, concordo; não é muito fácil de encontrar, a Globo deve ter ido à caça, dando cabo da mesma. Mas pus meus cães gugleanos à procura e eles a capturaram facilmente. Está ao final deste post. Dá até para baixar, mas meu micro não vai abrigar porcarias de novelas.

Concordo que a dramaturgia é de senzala e a qualidade do texto torna obra-prima A Escrava Isaura. Quero quer que o movimento negro se indignou mais com a dramaturgia senhor-escravo do que com o texto. Este é muito mais ofensivo àqueles que defendem o aborto, meu caso e das feministas. A CUT também opinou, mas, como tem acontecido, consigo discordar de todos.

As novelas são verdades ficcionais, então não sei se cabem protestos à Globo. Acredito que os irados estejam sendo tolos ao desconsiderarem o fato de que, certamente, Tereza se tornará uma terrível vilã comedora de afrodescendentes — coisa típica dessas “obras” — e que será rejeitada até por sua filha caucasiana. Os protestantes acham que as pessoas que veem essas novelas imaginam que estão ouvindo a razão? Ingenuidade. O que estes “representantes da sociedade” desejam dizer à emissora é que ela não pode criar personagens racistas nem utilizar católicos que sejam contra o aborto? Claro que pode! Talvez até deva, pois eles estão aí mesmo. O que a “sociedade do politicamente correto” deseja é o silêncio, a censura? Menos, né?

O mico que veio do espaço

Não sou jornalista nem publicitário, mas penso que meus 51 anos me deram um pingo de sabedoria para poder refletir sobre meus erros e os de outrem. Quando a agência W3Haus (aqui e aqui, posts alusivos no blog da agência) intermediou a compra do nome de uma estrela por parte do Grêmio, deveria ter pensado em todas as piadas e no simbolismo que envolveria um negócio estranho como este. Por exemplo, uma coisa que a agência deveria ter considerado é que nossos clubes costumam pôr estrelas em suas camisetas. É como se desejassem imprimir suas maiores realizações no firmamento. Até aí tudo bem, o ser humano é ridículo mesmo. Só que tais estrelas são conquistadas, nunca compradas. Será que não pensaram que estariam dando de graça uma piada aos colorados e expondo seu cliente ao ridículo ao adquirir uma estrela num ano sem títulos?

Para uma pessoa da minha geração, o fato também lembra aquele dilacerante e várias vezes repetido especial da Rede Globo sobre Elis Regina, produzido em 1983, um ano após sua morte. Chamava-se Agora sou uma estrela. O especial utilizava escritos que a própria Elis deixara em diários e que eram, no programa, interpretados por Irene Ravache. A frase agora sou uma estrela, repetida à exaustão nas propagandas e no especial, tinha claro significado: morri, agora estou no céu, agora sou uma estrela. Aquilo ficou na cabeça de minha geração, mas acredito que a relação não exista apenas para nós, pois se consultarmos os livros de História e relacionarmos todos os povos que pensavam em seus mortos ao olhar para o céu — ou nas religiões que os enviavam e enviam para o mesmo local após a morte –, concluiremos que é coisa atávica.

Há mais: falei que o torcedor gosta de estrelas na camiseta, mas gosta ainda mais de estrelas em campo. Uma equipe cheia delas é “galáctica” como o Real Madrid. Eu compreenderia que uma instituição riquíssima comprasse uma estrela no céu para demonstrar aos outros que já tem tudo o que deseja na Terra, eu entenderia também que um time recém campeão do mundo adquirisse uma estrela para significar que aguarda, quem sabe, agremiações marcianas capazes de vencê-la. Mas não entendo que qualquer endividado clube brasileiro — ainda mais um abstinente de títulos — faça uma compra tão estapafúrdia.

Mas há muito mais: se os compradores de nomes de estrelas tivessem alguma habilidade com a Internet, poderiam descobrir facilmente o mico total, integral, definitivo:

The International Star Registry is not in the business of officially assigning star names; it is in the business of finding people willing to part with their money for a piece of paper that in a scientific sense means precisely nothing.

“We produce a good product, a fun product. We may have planted a seed with people, educated them even slightly about astronomy, about the stars,” said Rocky Mosele, vice president of marketing and advertising for ISR. “For people to say, ‘Well, it’s not official’ — I think people are OK that it’s not official. I’m sure of it. I know because customers call again and again and again.”

Ou seja, o vice-presidente de marketing da ISR, sigla que lembra outra a qualquer gremista desta galáxia, admite que a compra de estrelas é um fun product, uma brincadeira ou talvez um presente de cunho romântico, como fez Nicole Kidman ao presentear Tom Cruise com a estrela “Forever Tom” ou Winona Ryder com Johnny Depp. A compra de nomes de estrelas não é oficial, nem reconhecida pelos astrônomos. A IAU (International Astronomical Union), fundada em 1919, com 8300 membros individuais e 66 países membros, é a única instituição autorizada a nomear corpos celestes. E o Grêmio comprou o seu da ISR.

Basta comparar os linques acima. Com toda a razão, a IAU declara que a ISR é um deplorável truque comercial. Fundada em 1979, a ISR já comercializou 1 milhão de estrelas por US$ 50 cada. Todos os donos receberam belos certificados. Como há mais de 400 bilhões de estrelas disponíveis apenas em nossa galáxia, é um baita negócio.

Porém, mesmo que a culpada seja a agência de propaganda que o induziu a um mico, acreditamos que o Grêmio tenha acesso à rede mundial para descobrir a fama da ISR e seja PLENAMENTE MERECEDOR de todas as piadas (eu descobri a farsa em 5 minutos). Afinal, na noite de 11 de dezembro de 2008, na Sociedade Libanesa, em Porto Alegre, a diretoria do Grêmio anunciou séria, feliz e em grande estilo a adoção de uma certa Estrela Grêmio, localizada na Constelação de Órion, a mais brilhante. Se isso em nenhum momento lhes soou como uma compra de indulgências – cujas vendas fez Martinho Lutero escrever 95 teses em 1517 –, CÉUS, afirmaria que são um bando de tolos. Ou siderados.

Quando os gremistas pensavam estar extinta a voz de Flávio Obino cantando as maravilhas do Trovão Azul e do site, quando silenciaram os comentários sobre a alegre poltrona 36, chega-lhes um curioso problema de outro mundo: a fama de comprador de uma grande e distante estrela paraguaia.

E dizem que nem pode ser vista a olho nu.