As razões para a derrota: CBF, Felipão e uma geração de jogadores nem tão brilhante assim

As razões para a derrota: CBF, Felipão e uma geração de jogadores nem tão brilhante assim

Tudo começou lá em 2010, mais exatamente no dia 23 de julho, quando Muricy Ramalho foi convidado para assumir como técnico da Seleção Brasileira. A CBF avisou todo mundo, anunciou Muricy antes de um acerto que não aconteceu. Muricy preferiu honrar seu contrato com o Fluminense. Em seu lugar, entrou Mano Menezes já com o estigma de ser a segunda opção.

Mano permaneceu dois anos. Parecia estar fora de seu habitat e só colecionou maus resultados. Alguns já falavam o óbvio: a Copa no Brasil coincidiria de modo perverso com uma das piores gerações de jogadores brasileiros. Neste ínterim, em fevereriro de 2012, Ricardo Teixeira renunciou dando lugar a José Maria Marin, um esbirro da ditadura que, em novembro de 2012, fez retornar Felipão. Luiz Felipe Scolari não ganha títulos de importância desde que retornou ao país de sua aventura europeia. A meu ver, comprovou no Palmeiras estar desatualizado em tudo, desde a parte tática até a relação com a imprensa.

Marin e Felipão: o esbirro da ditadura e obsoleto
Marin e Felipão: o esbirro da ditadura e obsoleto

E Felipão retornou com o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira, que tinha sido condenado pela imprensa brasileira em 2006 por apenas isso: ele não dava treinamentos. Tal acusação não era vazia, pois os treinos eram televisionados. Lembram dos jogadores caminhando de um lado para outro, uns conversando, outros batendo bola?

Os resultados de Felipão foram melhores que os de Mano, ele ganhou a Copa das Confederações, mas o futebol da Seleção não empolgava ninguém. Havia uma vida nas propagandas — Felipão tornou-se o maior garoto-propaganda do país —  e outra dentro de campo, bem menos brilhante. A administração cabia à anacrônica CBF, com suas várias seleções, técnicos, convocações a toda hora e outras posturas caça-niqueis. A coisa não sabia bem até para quem, como eu, deixara de lado os assuntos deprimentes da CBF.

E chegamos à 2014. A convocação dos jogadores me pareceu uma piada. É estranho que um país do primeiro mundo do futebol vá a uma Copa com Fred e Jô de centroavantes. Por exemplo, em 1970, Zagallo, après João Saldanha, escalava um time sem centroavante. Na época, o único centroavante era o reserva era Dario, um bom centroavante convocado “a pedido” do ditador Emílio Médici e que nunca foi utilizado por Zagallo. Dario, Fred, Jô, etc. eram / são jogadores que nunca foram unanimidades como craques no país. O time teria que ser redesenhado, mas Felipão, desde Jardel, parece não saber jogar sem centroavante.

Na Copa do Mundo, fomos até longe demais. O Chile poderia ter eliminado o Brasil, que conseguiu a vaga nos pênaltis pelo fato de um chileno ter errado seu chute. O nervosismo dos jogadores — patente em suas lágrimas — demonstrava alguma coisa que não era repercutida pelo ufanismo das propagandas e dos locutores de TV.

É claro que os 7 x 1 para a Alemanha foram inesperados. Um primeiro tempo que termina em 5 x 0 é anormal até no Campeonato Gaúcho e nas primeiras fases da Copa do Brasil. É um resultado que só se obtém se o adversário ficar parado, pasmo. Foi o nosso caso. Fomos um grupo mal treinado que não soube o que fazer contra a organizada Alemanha. Mas tudo continuará igual. A partir de abril de 2015, o atual presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo Del Nero — homem que tem o mesmo estilo e ideias de Teixeira e Marin –, será o novo manda-chuva da CBF. E tudo seguirá assim até que uma grande geração de jogadores nasça, entre em campo e vença, não obstante a CBF.

Merval Pereira, nosso representante na ABL, defende Ricardo Teixeira

Pobre Ricardo Teixeira. Segundo Merval Pereira, um injustiçado. A peça que se lê abaixo demonstra toda a compaixão do colunista de O Globo para com a saída de um dos homens que mais acumula denúncias no mundo do futebol — talvez o campeão — e que sempre tirou sarro das mesmas, como pode ser comprovado nesta franca e bem humorada reportagem da Piauí.

Teixeira presidia a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) há 23 anos, cargo que ocupava por indicação do então sogro João Havelange, e via-se envolvido em uma série de denúncias de irregularidades, tanto no Brasil quanto no exterior. As acusações do jornalista Andrew Jennings, da BBC, autor do livro Jogo Sujo: o mundo secreto da Fifa pareciam cada vez mais inequívocas. Joseph Blatter, presidente da Fifa também acusado por Jennings, e o Palácio do Planalto não conversavam mais com ele. Sentindo-se isolado e sacaneado, o capo pediu para sair. Romário, um gênio dentro do campo e um mestre da objetividade fora dele, autor da célebre e exata súmula sobre Pelé, “Pelé calado é um poeta”, recumiu tudo num pouco brilhante mas não menos exato lugar-comum: “Hoje podemos comemorar. Exterminamos um câncer do futebol brasileiro”.

Quem fica em seu lugar não é muito diferente. José Maria Marin é velho aliado de Maluf e antigo cartola amigo de Teixeira. Teve seus momentos de fama este ano: em 25 de janeiro, foi flagrado colocando no bolso uma das medalhas destinadas aos jogadores do Corinthians na cerimônia de premiação dos campeões da Copa São Paulo de Juniores. Na ocasião, a Federação Paulista de Futebol disse que a medalha já estava reservada a Marin (?), mas no fim da solenidade um dos goleiros do Timão, Matheus, acabou sem receber seu prêmio. Estamos em boas mãos.

Mas, voltando a Teixeira, Merval e o Jornal Nacional da Globo ficaram tristes com sua saída. Não vi o JN, só li a prosa escorreita, bela e compassiva de Merval.

As angústias de Ricardo Teixeira

As acusações de corrupção no Brasil e no exterior certamente pesaram na decisão de Ricardo Teixeira de se demitir da presidência da CBF.

Pelo menos na Fifa a solução é imediata: a saída do dirigente brasileiro suspende investigações que porventura estejam tramitando. No Brasil, ele espera que seu desaparecimento da cena pública atue como sempre, fazendo com que o esqueçam.

Mas, recentemente, ele se revelou a amigos angustiado mesmo foi com o fim de seus sonhos. A realização da Copa do Mundo no Brasil era o sonho de Ricardo Teixeira para chegar à Presidência da Fifa, o reconhecimento público de seu trabalho era uma ambição que alimentava.

Achava que, finalmente, iriam dar valor ao que fizera nesses 23 anos à frente da CBF. Mas o sonho tranformou-se em pesadelo.

Na nota de renúncia, ele abordou o tema dizendo que suas vitórias foram subvalorizadas e os erros superdimensionados.

Não tinha mais interlocução com a Presidente Dilma Rousseff, e nem com o Presidente da Fifa Joseph Blatter. E via a cada dia os trabalhos para a realização da Copa mais e mais atrasados.

Temia que a culpa final recaísse sobre ele, tinha medo de se transformar no bode expiatório dos dois lados, governo e Fifa. Como Presidente do Comitê Organizador, é claro que tinha culpa, mas sentia-se a cada dia mais isolado, sem capacidade de reação.