O desfile de Páscoa, de Richard Yates (sem spoiler)

O Desfile de Páscoa (Alfaguara, 221 páginas), do estadonidense Richard Yates (1926-1992), é a segunda grande surpresa deste autor tardiamente publicado no Brasil. No ano passado, trazido pelo filme com Kate Winslet e Leonardo di Caprio, já tinha sido lançado o extraordinário Foi apenas um sonho (Revolutionary Road).

O romance começa pela seguinte frase: “Nenhuma das irmãs Grimes teria uma vida feliz e, olhando em retrospecto, sempre pareceu que o problema começou com o divórcio de seus pais”. E é notável a forma como Yates segue este pequeno apontamento durante todo o romance. Ele pontua cada ato importante da vida das irmãs Sarah e Emily em seu caminho rumo à infelicidade — uma casa jovem e logo tem três filhos, a outra busca a realização no trabalho. O desfile de Páscoa trata da condição da mulher na época pré-feminismo dos anos 1950, quando as opções pareciam ser as tomadas pelas irmã: ou o jugo sob um marido ou a solidão interrompida por pequenos casos com homens casados ou desinteressados.

Tanto a forma como as Sarah e Emily se relacionam quanto suas vidas em separado demonstra uma crudelíssima impotência frente a uma sociedade hostil à mulher. O grande destaque do romance é a forma como Yates trata a violência contra a mulher nos anos 50.

Um livro estarrecedor. Um grande livro.

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Foi apenas um sonho, de Richard Yates

Foi a Carol Bensimon quem indicou este livro em seu twitter. Ela escreveu, naquele espacinho de 140 caracteres, algo como: “Richard Yates é o sujeito que mais conhece a natureza humana”. Obviamente. ela articularia melhor sua opinião num espaço menos informal do que a algaravia das tuitadas. Depois ela escreveu um post dizendo que tinha visto o filme e pressentira que havia uma grande obra literária por trás. Duvidei, pois vi o filme e não pensara em nada disso, mas ela é a Carol e achei melhor conferir. Quase larguei o livro de volta na estante da livraria ao ver a capa com o cartaz do filme de Sam Mendes e a exata tradução de Revolutionary Road para o português… A primeira edição brasileira recebera o nome de Rua da Revolução, porém o filme rebatizou o livro.

A história do livro já foi contada por Sam Mendes, porém a leitura do livro vale demais a pena. Richard Yates (1926-1992) trabalha na mesma faixa de realismo do bom cinema americado dos anos 50 e dos dramaturgos Tennessee Williams e Arthur Miller. Seu grande diferencial está no tratamento, na extrema dedicação que tem com os personagens. A vida interior de cada um deles, suas motivações, absurdos, brilhantismos e loucuras são analisadas minuciosamente. Se Yates não chega ao grau de detalhamento, às vezes demasiado, de um Juan José Saer, não fica muito longe do argentino em expor pacientemente seus pensamentos opiniões.

O resultado é extraordinário. O romance efetivamente merece o status de clássico que alguns críticos americanos lhe atribuem e é uma delícia para quem gosta dos artifícios literários. Yates faz maravilhas ao interromper personagens falastrões com sua narrativa e revela interessantes possibilidades de diálogos imaginários. Estes podem acontecer não apenas na imaginação dos personagens, mas também em pleno diálogo, quando o autor releva o que o personagem diria se agisse de acordo com os conselhos da mulher e o que ele realmente disse.

Esqueça o filme médio de Sam Mendes. O livro é estupendo, muito melhor do que a versão cinematográfica.  É uma história tristíssima, mas não adianta, sad songs make me happy.

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