Foi apenas um sonho, de Richard Yates

Foi a Carol Bensimon quem indicou este livro em seu twitter. Ela escreveu, naquele espacinho de 140 caracteres, algo como: “Richard Yates é o sujeito que mais conhece a natureza humana”. Obviamente. ela articularia melhor sua opinião num espaço menos informal do que a algaravia das tuitadas. Depois ela escreveu um post dizendo que tinha visto o filme e pressentira que havia uma grande obra literária por trás. Duvidei, pois vi o filme e não pensara em nada disso, mas ela é a Carol e achei melhor conferir. Quase larguei o livro de volta na estante da livraria ao ver a capa com o cartaz do filme de Sam Mendes e a exata tradução de Revolutionary Road para o português… A primeira edição brasileira recebera o nome de Rua da Revolução, porém o filme rebatizou o livro.

A história do livro já foi contada por Sam Mendes, porém a leitura do livro vale demais a pena. Richard Yates (1926-1992) trabalha na mesma faixa de realismo do bom cinema americado dos anos 50 e dos dramaturgos Tennessee Williams e Arthur Miller. Seu grande diferencial está no tratamento, na extrema dedicação que tem com os personagens. A vida interior de cada um deles, suas motivações, absurdos, brilhantismos e loucuras são analisadas minuciosamente. Se Yates não chega ao grau de detalhamento, às vezes demasiado, de um Juan José Saer, não fica muito longe do argentino em expor pacientemente seus pensamentos opiniões.

O resultado é extraordinário. O romance efetivamente merece o status de clássico que alguns críticos americanos lhe atribuem e é uma delícia para quem gosta dos artifícios literários. Yates faz maravilhas ao interromper personagens falastrões com sua narrativa e revela interessantes possibilidades de diálogos imaginários. Estes podem acontecer não apenas na imaginação dos personagens, mas também em pleno diálogo, quando o autor releva o que o personagem diria se agisse de acordo com os conselhos da mulher e o que ele realmente disse.

Esqueça o filme médio de Sam Mendes. O livro é estupendo, muito melhor do que a versão cinematográfica.  É uma história tristíssima, mas não adianta, sad songs make me happy.

9 comments / Add your comment below

  1. Não gostei muito deste filme. Já não estou perdoando tanto o Mendes por estes filmes medianos que vem produzindo. No princípio pensava: Pô, é dele o Beleza Americana! Ele pode tudo!

    1. olha, eu até gostei do filme. dizer q “talvez por ter visto nele mais profundiade q só poderia de fato ter encontrado no livro”, como se o tivesse subentendido, além de entendido, seria fazer média? talvez. mas não o achei médio.

      ontem vi o sherlock holmes e achei bem divertido. levemente desnecessárias algumas excentricidades, mas mto divertido.

  2. Um filme não deve nunca rebatizar um livro. Detesto quando o editor bebe gasolina para ganhar grana extra. Assisti o filme no cinema – como ontem vi Avatar (ou os malvados somos nós) que recomendo – e achei médio. A musa do Titanic está melhor neste papel (a cena da dança é muito legal) do que no Leitor.

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