Costumo ler alguns blogues portugueses. Há vários bons e eles têm uma sede de literatura que é incomum por aqui. Porém, nos últimos dias, muitos falam muito de Maitê Proença. Com boa dose de razão. Engraçado, lá ela é considerada atriz, apresentadora e escritora. Não lembro de ter visto um livro ou uma linha sua, mas, enfim, parece que escreve algo. E o programa Saia Justa é um sucesso por lá.
Bom, só que o Saia Justa andou mostrando uma viagem que Maitê fez à Portugal onde ela tira um sarro do país. Talvez a “escritora” e atriz não soubesse que eles se comportam como aquele aluno que será alvo de todas as piadas e apelidos da turma: ou seja, eles se irritam e discutem com o ofensor e entre si. Então todos estão indignados e pediram uma retratação à “autora”, um pedido claro de desculpas ao povo português, seja por escrito, oral ou em vídeo. Maitê gravou um vídeo de desagravo, porém antes, no programa, Maitê reclamara do técnico de informática que olhava para o mouse como se este fosse uma capivara, mostrara uma placa ao contrário — não está ao contrário, é daquele jeito mesmo — e cuspiu numa fonte, fato indiscutivelmente desrespeitoso e que fala mais mal de Maitê e do programa do que de Portugal. Para piorar, as outras três apresentadoras deram gargalhadas. Tudo irresponsabilidadezinhas, nada de muito grave, nada que não fosse esperado da capa da Playboy de um mês de 1987 e de outro de 1996, mas a reação foi imensa.
Eles levaram a sério. Acusaram-na de lusofobia, o que deve ser verdade, mas que… pô, quem dá importância aos pensamentos de Maitê Proença? Eu me preocuparia mais com o que ela disse sobre Salazar. Vejam abaixo.
Um dos mais tranquilos foi o excelente escritor Franciso José Viegas, que escreveu o que segue em seu blog:
Jantei com Maitê Proença em Lisboa, possivelmente na mesma altura em que a atriz gravou o vídeo que agora está na internet. Nele, Maitê (sempre bem tratada pelos portugueses, que inclusivamente lhe compram os livros) dá por adquirido que os portugueses são inábeis, atrasadinhos, enfim – o costume. Durante esse jantar, Maitê mostrou-se encantada com Portugal, e creio que era mais do que simpatia. Mas no Brasil é outra coisa. Faz parte do gene brasileiro esse apetite saudável por Portugal, a velha metrópole de padeiros, açougueiros e gente desajustada. As jovens nações, entusiastas e adolescentes, acham gracinha a tudo. Comportam-se como crianças quando descobrem a careca dos avós. É natural e compreensível. Depois crescem. Ou pedem que lhes apreciemos as pantomineirices.
Como resultado, a atriz teve de improvisar um patético pedido de desculpas:
O fato em si é desimportante. O que acho importante e digno de nota é a penetração da Globo nos países de língua portuguesa. Como nossa emissora não costuma primar pelas boas escolhas nem pelo bom conteúdo, ainda vai arranjar muitos probleminhas internacionais por aí. E uma péssima imagem para o país. Se os mexicanos são os fazedores de novelas lacrimosas, provavelmente nos tornaremos os reis da má educação e da grosseria. O que fazer?