Direto de Pink Floyd para Bach

Direto de Pink Floyd para Bach

Fui um adolescente tarado por música. Aliás, até hoje sou assim. É claro que ouvia muito Milton, Chico, Caetano, Edu Lobo e outros, mas minha preferência era pelo rock inglês. Grosso modo, meu mundo artístico girava em torno de Beatles, Led Zeppelin, Stones, The Who, Pink Floyd e Deep Purple.

Mas, entre 1973 e 74, entre os 16 e 17 anos, deixei rapidamente o rock de lado e me apaixonei pelos meninos J. S. Bach, Beethoven e Bartók. Eles pareciam ser fontes inesgotáveis, com os quais poderia viver minha vida até o final. Apesar de ouvir — sem exagero — mais uns 400 compositores eruditos, mantenho aquela impressão até hoje. Poderia ficar só com aquele trio. Afinal, há algo melhor do que Bach ou do que os últimos Quartetos de Beethoven e os 6 de Bartók? Não, não há.

Mas derivo. O que desejava dizer é que conheço e sei tudo de rock até 1973. Tenho os vinis da época em bom estado e a Elena, por exemplo, gosta muito de ver rodar meus discos dos Beatles no toca-discos que ainda mantenho. Mas não sei de mais nada do que aconteceu depois de 1974.

Então, neste domingo, a Ospa vai fazer um de seus concertos populares tocando Pink Floyd. Olhei a relação das canções e nada, não conheço porra nenhuma. Só o medley de The Dark Side of the Moon, claro, disco que conheço de verso e reverso. Do resto, nada.

Este foi um corte muito estranho. Após comprar o álbum duplo dos Concertos de Brandenburgo com o Collegium Aureum, tudo mudou e, olha, só segui comprando os discos do Chico (todos), da Mônica Salmaso (todos) um do Queen, um do Prince e outro do Beck.

E sei lá porque estou contando isso procês. Ah, por causa da Ospa.

Tchau.

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Ipanema FM: fiquei até com vergonha

Adeus!

A ex-Ipanema FM de Porto Alegre trocou The Who, Stones, Beatles, Radiohead, Amy Winehouse e todo o rock gaúcho e brasileiro por Luan Santana, Bruno Marrone e todo o sertanejo universitário. A importância da Ipanema, principalmente para os músicos do rock gaúcho era enorme. Eu gostava dos programas do Alemão Vitor Hugo — que sempre desencavava coisas surpreendentes — , Hot Club do Mutuca e, principalmente do Música Mundi, onde a gente podia saber das novidades do rock romeno, italiano ou da Malásia.

A morte da rádio é mais um indício da decadência cultural que solapa o RS, coisa que já vemos em outros contextos. O gaúcho emburrece e involui rapidamente, ao contrário do que vendem alguns meios de comunicação.

Quando a Rádio da UFRGS tocava algo que não me interessava, ouvia o Vitor Hugo de manhã. O Alemão era um baita programador musical, em minha opinião o melhor da rádio. Mas hoje pela manhã, fiquei com vergonha ao ouvir Begin the Beguine com Julio Iglesias e aquela música da “explosão de sentimentos, meteoro da paixão”. Fiquei fascinado pela ruindade. É tão ruim, mas tão ruim que até parece pegadinha. Quando entrei num posto de gasolina, mudei para a Rádio da Universidade. “O que o frentista pensaria?”, refletiu Milton Ribeiro de forma bastante idiota.

É claro que a Ipanema tem dono e este faz o que quiser com ela, mas também é verdade que não deveria ser assim. Porto Alegre trocará a diferença por mais do mesmo. E isto é medíocre.

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