Sou do contra

Meus amigos virtuais e pessoais Douglas Ceconello e Daniel Cassol dizem que eu posso publicar no Impedimento quando quiser. É um blog incrível sobre futebol. Este texto Sou do contra resultou em 76 comentários e o anterior tinha chegado a 98. Ia publicá-lo também no OPS, mas ontem tivemos a estréia de João Luís Almeida Machado, também colunista de gastronomia, no futebol do OPS e não quis entrar no mesmo dia.

Crônica esportiva é problema no Brasil tanto quanto a política, esta muito mais grave. Há algo de muito errado com a falsa parcialidade, raramente quebrada por exceções como Juca Kfouri, que leva os cronistas e os textos a uma posição inteiramente artificial para quem aborda o futebol. Os artigos “equilibrados” e descompromissados que lemos são um saco. De certa forma, uso a experiência jornalística do pessoal do Impedimento para criar uma persona esportiva mais franca porém aberta a discussões. E que não esconda suas preferências, pois isto não tem nada a ver com desonestidade. Estou aprendendo. No texto que segue até exagero, entrando de sola, de forma furibunda e provocativa, mas o resultado foi uma discussão cheia de idéias. A melhor pergunta que apareceu por lá foi esta: por que o futebol brasileiro é tão menos próspero do que o mexicano e o turco, países economicamente semelhantes a nós e que são compradores? Cartolagem e corrupção? As “parcerias” entre dirigentes e empresários são mais lucrativas em nosso país?

Sou do contra

Eu não torço para a seleção brasileira e o motivo nem é o de ela não possuir técnico.

Minhas motivações são mais, digamos, indiretas. O que desejo é uma grande crise! Vejamos o que pensa este beócio escriba.

O Brasil é o país que menos se orgulha de si mesmo na América Latina. Nosso complexo de vira-latas é uma herança portuguesa. Eles são iguaiszinhos; odeiam-se tanto quanto nós. Aqui é tudo ao contrário: no mundo inteiro a direita é nacionalista, aqui não. Ou seja, os que governaram o país durante a maior parte de sua história sempre o viram com restrições. Por toda nossa história, desde D. Pedro I, fomos dirigidos por pessoas semelhantes às que escrevem na Veja, a fina flor que molda a opinião da direita brasileira.

E então a seleção brasileira entra em campo com seus jogadores… Todos eles saíram jovens de nosso país (de merda) para ganhar rios de dinheiro no eldorado. Todos eles ouviram falar que a Seleção é um sonho e objetivo de todos, mas pergunto:

– Se você fosse, por exemplo, o Gilberto Silva e estivesse no final de seu contrato com o Arsenal após toda uma carreira no exterior, você arriscaria sua perninha por quem não paga seu salário, por um país que é seu, mas de onde você fugiu na primeira oportunidade que teve e onde você jogou apenas alguns meses? O que um cara como Gilberto ganha correndo com um louco pelo Brasil-sil-sil. Ele já não é conhecido? Seus contratantes acompanham Paraguai x Brasil? Uma boa atuação neste jogo lhe garante um contrato melhor?

Não, né? E nem sobra o amor da disputa. Se o Gilberto olhar para o banco e ver aquela COMOÇÃO TÉCNICA formada por Dunga e Jorginho talvez uma voz interior lhe faça a pergunta “O que estou fazendo aqui?”.

Ele e Kaká – que foi liberado pelo Milan, mas mentiu que não tinha sido – não buscam mais glórias. Muitos dos jovens também não a buscam pois não são ufanistas e julgam estar no topo de suas carreiras. Creio que chegar à Seleção é um pedido que os empresários fazem a seus atletas para alcançarem grandes contratos no exterior. E só. Se o atleta obtiver sucesso no exterior, suas convocações tornam-se sinônimo de incomodação. Uma boa carreira na Seleção não é garantia de sucesso financeiro, mas sim um belo Campeonato Italiano, Espanhol ou Inglês. São eles que pagam.

A Seleção tornou-se apenas um passo dentro de um plano de carreira todo projetado para a Europa.

Agora, que crise desejo? Ora, uma bem grave que deixe o Brasil fora de uma Copa. Uma que crise que nos obrigue a repensar MESMO toda a estrutura do futebol brasileiro. Uma que faça com que tenhamos calendário europeu para que nossos times não mudem em meio às disputas. Uma que segure nossos jogadores até determinada idade, pois só aqui nascem em tal quantidade e os melhores sempre sairão. Uma que obrigue o comprador europeu a pagar um valor decente ao clube formador. Uma que permita contratos longos mesmo para jovens pré-púberes. Uma que torne a Seleção Brasileira uma importante vitrine para carreiras de jovens talentosos que, decididamente, acabarão no exterior. Uma que torne melhor nossos campeonatos.

14 comments / Add your comment below

  1. SENSACIONAL esse texto.
    Acho que tu é até foi sucinto demais, há mais motivos para torcer contra.

    Não vou mentir, não torci contra. Honestamente não torci contra ou a favor, apenas perdi o interesse. Não vi o jogo, não veria se pudesse.

    Na eliminatória que disputei com a patroa o placar foi 4 x 3. Isso sim, um belo jogo, com momentos muito disputados e com entradas duras, mas nunca desleais!

    Entendo quando o Juca chama a Seleção de “Seleção da CBF”.
    Entendo o ranço da maioria que está torcendo contra, com bons motivos e a até entendo a parcela pequena que se finge de cega e não só torce a favor como hostiliza quem tem a coragem de contrariar o coração em favor da razão.

    Olha, com todos os problemas que existem envolvendo nosso amado esporte bretão ainda consigo me divertir com futebol, notadamente com meu time. Até onde vai durar? Não sei.
    Acontece a mesma coisa com ele, tem problemas, técnico insípido, falta jogadores, mas afinal de contas, ele não é uma Seleção, um grupo com “os melhores dos melhores”, há esse enorme desconto.

    Como meu time não “é tão sério”, não me ofendo. Meu time não necessariamente é uma representação futebolística dos anseios políticos de uma nação fracassada. Torcer para meu time é muito mais divertido por isso, ganha ou perca ele é minha paixão , minha diversão, minha alegria/tristeza. Sem explicações, sem pretensões, sem desgastes.

    Deve ser esse o motivo da minha indiferença para a Seleção da CBF.

    Abs!

  2. Sou louca por futebol mas descrente da seleção desde seu campeonato aqui nos EUA, onde nã ovi o futebol brasileiro do meu tempo de criança e mocidade — 1957 a 1985, quando parti. Via os jogos de quarta e sábado na geral e nos domingos nas arquibancadas. Levei a todos meus três sobrinhos ao Maraca. Os mesu dois companheiro de geral eram Flamengo e Fluminense. Sou Botafogo.
    A seleção campeã aqui jogou um futebol furreca, tímido, nem sei como acabou sendo campeã.

    Depois do desastre na França, em que uma portenha me veio consolar, dei-me conta da morte do futebol nacional. É mais ou menos como o Kobe Bryant. A pergunta de ontem na capa do LATimes era: MVP or MIA? Ou seja Most Valuable Player or Missing In Action?

  3. Milton, é uma honra para nós contarmos com teus textos. E fico feliz cada vez que contribuis com o Impedimento.

    Acho que torço contra o Brasil desde 1995. Depois que o Brasil ganhou da Itália, percebi que não era muito divertido quando toda uma nação ficava feliz. Isto geralmente não acaba bem. Legal mesmo é quando apenas a parcela colorada desta nação tem motivos para comemorar e todos os outros apenas assistem. hrhshs

    Mas, agora falando um poquito mais sério, a atual seleção brasileira me enoja profundamente, assim como tudo aquilo que orbita em torno dela – sem-vergonhice sem limites, negociatas, propaganda, firula, fogos de artifício e crônica ufanista.

  4. Milton!
    Apertei no “enter” por engano. Desculpa.
    Como eu ia dizendo, desencantei da Seleção naquele fiasco de 1998. Mas agora, lendo seu post, confesso que quis acreditar que, se tudo der errado e conseguirmos uma grande catástrofe, as coisas podem mudar. E talvez eu tenha 12 anos de novo e consiga torcer pela Seleção outra vez… Ah, Milton, se eu abandonar minha santa indiferença e começar a torcer contra a Seleção, a culpa é sua.

  5. Milton,
    já defendi neste teu blog que somos sempre subjetivos ao descrevermos qualquer observação (mesmo factual). Aliás, decidir o que observar já é subjetivo. Daí concordar contigo.
    Agora, não entendi uma coisa: “a falsa parcialidade” seria im.. ou faltou-me neurônios?
    Gostaria de acrescer uns comentários:

    “beócio escriba” -> estais completamente fora da realidade, cre-te assim é caso para o Claudio Costa.

    “Aqui é tudo ao contrário: no mundo inteiro a direita é nacionalista” -> cuidado, há direitas bem internacionalistas (a civilizada) , assim como esquerdas também internacionalistas (a civilizada). Nacional capitalismo é um desastre, mas a sigla nacional-socialismo deu no que deu.
    Não sou exatamente um anarquista, mas detesto este conceito de nação. Viva o grego que debaixo da stoia chamo a si mesmo de cosmokoi.

    Quanto aos portugueses: sabias que recente pesquisa mostrou que a maioria da população quer ser espanhola?

    Ao futebol, creio que estás raciocinando em termos de convocação com os paradigmas pessoais teus. Para mim estes jogadores são suficientemente desintelectualizados para, mesmo tendo tudo, querer jogar na seleção. Eles não têm condições de atingir as abstrações que fizeste (ao menos a maioria). Foste, hehe, excessivamente subjetivo.

    Tem uma coisa legal que esta Comoção Técnica nos proporciona: A cara do Galvão. Passei até a assistir a Globo.

    Um abraço e, embora colorado, seja parcial SEMPRE.

    Branco

  6. É ! Acho que a solução mesmo seria o Felipão.
    Mas quem iria pagar o salário dele aqui no Brasil ?
    Teríamos que fazer uma vaquinha. Mas acho que nem assim ele viria. Ele está muitíssimo bem aonde está.

    E nós assistiremos uma baita de uma desclassificação … traumas da seleção brasileira de 1982.

  7. Portugueses nao se odeiam!!!!!Antes de diser disparates faz a prova do que dizes!!!!Se encontrares na internet um unico portugues que odei ser portugues dou-te toda a razao!!!!!Muitos portugueses odeiam sim os seus politicos!!!!!Temos muito orgulho de ser portugueses!!!!

  8. Acabei de postar sobre a superioriade do nosso barroco e lá veio a Dra. Daniela Mann, cujo blog conheço de trás pra fresnte e vice-versa. Lá veio ela puxar a brasa para a sua sardiha, literalmente. Eles têm muitas piadas regionais. Daí ao ódio há uma longa distância. E mais, despeito a herança da Igreja e de sua inquisição, o português é como língua “mátria” –disse Caetano.

  9. É bom saber que não se está sozinho. Pois eu torço contra a seleção canarinha (ou seria canalhinha?) desde 1970. Em plena copa, eu com 16 anos, preso e sendo torturado num quartel do exército, ao som do Basil sil sil, e ninguém segura esse país, da já irritante e canalha globo. Pois bem, já não gostava da seleção manipulada pelos generais, e passei a gostar menos, torcendo sempre contra.

    Como disse alguém, o patriotismo é o último refúgio dos canalhas, e piora muito, quando junta futebol, muito dinheiro, globo e patriotada.

    abraço,

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