As Olimpíadas de Pequim, seus narradores e circunstâncias

De quatro em quatro anos, temos a chateação olímpica. Hoje pela manhã, já tivemos Galvão Bueno substituindo o jornal matinal, que já não é grande coisa, mas é mais variado. Galvão, normalmente desinformado a respeito de tudo o que não seja Fórmula 1 (*), narrava o jogo de futebol feminino entre Brasil e Alemanha, que acabou em 0 x 0. Uma droga. Francamente, é um período frustrante para o consumidor de esportes. Aquele monte de modalidades, cada uma exigindo conhecimentos que nossa imprensa não domina e nem procura aprender é das coisas mais lastimáveis, apesar da comicidade involuntária que às vezes surge. O lutador cai, o locutor grita “ippon!” ou qualquer palavra que saúde o homem que permaneceu em pé, mas o juiz dá a vitória para quem está no chão… Uma desgraça. O judô e uma série de esportes são coisas para especialistas, não podem ser descritos por neófitos. Outro fato desagradabilíssimo é a oferta nauseante de esportes inteiramente diferentes entre si. A gente está vendo as eliminatórias dos 800 m rasos e a TV corta para apresentar a sensacional final do pólo aquático, onde só se vêem os jogadores do peito para cima… Uma beleza. Mas o ápice visual é o tiro ao alvo, esporte especialmente televiso, onde não se vê absolutamente nada dinamicamente, só se ouve um estampido e vê-se um furo num pedaço de papel. Ou não.

Como se não bastasse, esta Olimpíada traz junto de si a questão da falta de liberdade na China, porém, como os EUA e todo o mundo gostam do comércio com a China não se falará muito em Direitos Humanos. Já sobre o Tibete… Ai, que saco! O mundo parece subitamente obstinado em recriar um país teocrático. O Ocidente vê o Tibete como uma maravilha localizada no telhado do mundo — quase saindo para fora –, que seria governado por monges bonzinhos, não fosse o malvado governo da China. OK, sou sensível àquilo que tem relação à identidade cultural de um povo, mas só há problemas no idílico Tibete da China? E alguém acredita mesmo no Nirvana representado por uma sociedade dedicada à paz e à sabedoria mesmo que a história do Tibete só nos mostre matanças, Dalais Lamas apoiados pelo exército chinês e um feudalismo recente apoiado em milhares de servos e escravos? Sim, escravos! Sim, uma teocracia brutal. No Tibete dos anos 50, o escravo que roubasse uma ovelha receberia a punição de ter seus olhos vazados e uma das mãos mutiladas… Sim, os Dalais Lamas são bons e nos mostram uma filosofia de vida super, só que do ponto de vista medieval.

A vereadora e candidata à prefeitura de São Paulo Soninha Francine (PPS-SP), a Soninha da MTV, da ESPN e da Folha, é budista e já escreveu sobre o Tibete, depois de ver o filme de Annaud. É impossível discutir com quem só vê pureza, elevação e altos conhecimentos — de auto-ajuda? — nos Dalais Lamas. É óbvio que lá ocorreu um genocídio e que hoje a China tenta destruir a cultura do país à fórceps, o que não entendo é esta mania de Tibete. Por que não a Chechênia ou o Leste do Congo? E os palestinos que foram retirados de suas terras por um inimigo que exibe-se como vítima, que é mais popular no Ocidente e que chama de anti-semita quem fique indignado com as mortes palestinas? Bem…

Voltemos à chateação do evento multi-hiper-esportivo. OK, um homem vai lá e dá dez tiros na mosca. Aplausos e medalha de ouro para o homem de boa mira. Observemos o vôlei e comparemo-lo com o homem dos tiros. No vôlei, são disputados muitos jogos que envolvem um sexteto e mais seus reservas. Há fases classificatórias, pontos decisivos, um estresse espetacular e, no final, a equipe de verde a amarelo ganha o torneio. Aplausos e uma medalha no quadro geral. Uma medalha? A mesma do homem de boa mira que nem suou muito para acertar seus tirinhos de brinquedo? Sim. Eu, se fosse do Comitê Olímpico Brasileiro, daria um monte de dinheiro para o boxe. Sim, o boxe tem categorias aos montes, distribui um monte de medalhas e como a violência tem sido uma especialidade de algum destaque em nosso país, esta poderia ser direcionada para algo mais sistemático. Já pensaram quantas medalhas viriam? Outra providência seria criar e treinar algumas equipes de badminton. A gente poderia destinar o Acre, o Piauí e Tocantins como pólos do badminton nacional. Rio Branco, Teresina e Palmas viveriam o esporte e, de quatro em quatro anos, seriam manchete nacional. (Ora, se é para escrever bobagens preconceituosas, também sei!).

Então não falemos mais em Olimpíadas como um todo, tá? Falemos talvez de forma individual em alguns torneios interessantes, como vôlei, futebol, tênis e… esgrima? E esqueçam essa coisa de boicote. Só aceito boicote se derem uma paulada na China, outra em Israel, outra na Rússia, etc. OK?

Fazendo uma análise dos atletas da competição, achei interessante esta brasileira:


É a Jaqueline Carvalho, do volei. Ah, e a Ana Ivanovic estará presente!

(*) Está todo mundo tirando o maior sarro da minha cara porque eu pensava que o Galvão entendia muito de F1. Na verdade, eu é que não entendo patavina do dito esporte e fui enganado pelo homem do “Bem, amigos”. Peço desculpas pela ignorância crassa.

27 comments / Add your comment below

  1. Oi Milton,

    o maluco do Slavoj Zizek publicou, na folha, um pequeno ensaio cujo título era “O Tibet não é grande coisa” que falava dessa convergência Nova Era em defesa de um Estado que não era lá essas coisas. Mas, apesar de concordar que o Tibet não é grande coisa, e que o Dalai não é o tal, não posso deixar de usar uma lógica indentitária: a china não é o Tibet e o Tibet não é a China. Há tempos essa lógica identitária não valia de nada. Como assim que a Hungria não é a Austria: agora é. Como assim que a Polônia não é Alemanha: agora é. Penso que os chineses serão capazes de produzir uma lógica identitária com o Tibet. Mas o modo de construção de lógica identitária é muito, mas muito, triste. Prefiro que o Tibet não seja a China.

    Um abraço,

    Cesar Kiraly

  2. “Galvão, normalmente desinformado a respeito de tudo o que não seja Fórmula 1”

    Isso quer dizer que tu considera o Galvão informado sobre F-1? Te digo que não é, che. Nem um pouco.

  3. Ai, até que enfim! Não agüentava mais aquele “erro” não sei das quantas! Que bom!
    depois eu volto para ler tantas letrinhas, pq hj mesmo não tô boa!
    Flávia

  4. Ery e Francisco (bem-vindo!)

    É QUE EU NÃO ENTENDO COISA NENHUMA DE FÓRMULA 1, ENTÃO PENSO QUE O GALVÃO ENTENDE!!!

    Ele fala com tanta propriedade…

    :¬)))

  5. Amigo César, de acordo. Eu acho justa esta emancipação, meu problema é a hipocrisia ocidental que elegeu os tibetanos como os coitadinhos do momento. Há outros tão ou mais.

    Flávia, o estranho é que eu estava entrando no blog e nem notei nada…

    Alfredo, nem começou e já estou cheio…

    Dario, uma sarninha, né? Mas não estou querendo confusão só pela confusão. É minha opinião mesmo.

    Abraços.

  6. a Soninha aprendeu sobre história do Tibete assistindo a um filme???
    ela tá indo de bicicleta a todos os eventos da campanha. vai ficar em 5º na votação, mas pelo menos magrinha, em forma.

  7. É milton, (agora eu li) ainda se tivesse campeonato de beijos espetaculares…
    Olha por uns 2 dias só aparecia uma página azul com “erro” e um número lá. Isso no lugar do texto e aqui no ladinho as coisas normais, cheguei a abrir os arquivos do mes de julho!
    Foi só aqui é?
    Os outros blogs e sites abriam normalmente e eu tentei com o firefox e com o safari!
    Tá difícil… Olha que eu me esforço!
    bj, f

  8. Também passei pela mesmo problema da Flavia e contornava entrando no pensador selvagem e depois procurando seu blog. Mereço ou não uma medalha de ouro? Ou seria uma temporada no Tibet pela paciência dalai-lamática?
    O que mais acho difícil é a pontuação dos saltos ornamentais.
    Quando acho que foi executado um maravilhoso triplo-mortal-parafusado-carpado-com-chute-à-lua-de-viés-com-entrada-perfeita os juízes teimam em descontar kilos de pontos pq o cabelo do gajo(a) estava desarrumado.

  9. é, milton, eu tbm tive esse problema pra acessar aqui, mas fui atrás de outro link e te achei de novo…
    concordo inclusive sobre o galvão bueno saber sobre fórmula 1… bom, é o q acredito, tbm não entendo mto… e toda reta é uma curva, isto eu me lembro de teer aprendido num primeiro ano

  10. Milton,

    “Galvão, normalmente desinformado a respeito de tudo o que não seja Fórmula 1”. Desde quando ele é informado em Formula 1?

    O caso Tibete, lembro o platonismo que nos singra. É o bom selvagem transmutado em etnia ou nação. Foi assim em 1948, na criação de Israel. É assim nas nossas escolhas políticas, comportamentais, etc. Eu sempre pensei assim sobre o Tibete e fui chamado de neo-liberal, direitista, do contra, comunista e até de colorado.

    Já que é pra pleitear esporte que tal aquele que pratico, o PADEL. Todos o conhecem, claro.

    Por fim, de um gremista que foi esgrimista: não dá pra assistir este jogo.

    Branco

  11. Pois é, cansei de criticar os chinas!

    Vamos deixar de hipocrisia!

    Na china quem brutaliza um animal é mal visto, e quem come carne de caes e gatos é considerado caipira ignorante! sao pequenas minorias de chineses que brutaliza e come cachorros e gatos. isso é um fato!

    Toda essa campanha contra china não passa de preconceito racial com interesses políticos e econômicos. Nos anos 30 ate anos 70 fizeram a mesma coisa com os japoneses, diabolizaram e incriminaram injustamente os japoseses, criaram mitos pejorativos sobre os japoneses com propósito de minimizar o genocídio que os yankees fizeram na 2 guerra mundial… os yankees justificaram orgulhosamente o genocídio de Hiroshima e Nagasaki, ocultaram Massacre de Dresden, ocultaram o estupro do Monte Cassino, os abusos no Iraque etc… Os americanos financiaram e apoiaram secretamente o regime de Mao tse tung durante a 2 guerra mundial, portanto, os E.U.A tem toda responsabilidade pelo comunismo chines, eles financiam e depois condenam. Ridículo!

    o povo chines são na verdade muito pacíficos, eles nao querem dominar o mundo, nao pensam em escravizar a humanidade, os asiaticos nao sao um povo racista, eles sao fechados culturalmente (preconceituosos), os verdadeiros racistas somos nós os ocidentais, que valoriza muito a Pureza racial, DNA, Eugenia, Nazismo, Illuminati, Bildenbergs, Hierarquia racial, Lembrando que tem racismo aki também, os loiros escandinavos são endeusados, e os latinos e mestiços são considerados inferiores, Normal?

    São pessoas arrogantes, presunçosos, racistas, sem ética, sem vergonha, sao todos brainwasheds!

  12. Romulo, há controvérsias!

    Em se tratando do ponto de vista geométrico, a reta, a curva e o ponto são conceitos. Nenhuma reta é curva, embora algumas curvas, em circunstâncias, possam ser assimiladas como retas.

    Existe a afirmação que uma circunferência de raio infinito é uma reta, o que se prova ao contrário através do conceito matemático de limite. Simplificando:

    Consideremos o valor de 1/x, onde x é potência de 10. Temos, então, infinitas possibilidades para 1/x: 0,1; 0,01; 0,001… Quanto maior seja o denominador desta fração, menor será o valor de 1/x. Entretanto, qual seja o valor positivo de x, o resultado ainda sempre será superior a zero. Com este cálculo é possível afirmar que, quando x “tende ao infinito”, 1/x = 0, ou seja, que a fração assume valor zero. Isto é genérico.

    Bem, o limite também é conceitual, pois a lógica permite dizer que por maior que seja o valor de x, sempre haverá uma possibilidade maior que zero no resultado da fração, exatamente pelo conceito de infinito.

    Se a partir desta conclusão traçarmos circunferências com raios cada vez maiores, e a estas circunferências aplicarmos uma mesma tangente “t” e nela definirmos um ponto de tangência “z”, observaremos que à medida que o raio aumentar os pontos da circunferência se aproximarão de “z”, mas nunca o conseguirão tocar.

    Conclusão: Podemos dizer que pelo valor infinitamente grande de um raio, a circunferência “tende a uma reta”. Isto é diferente de dizer que é simplesmente uma reta. É preciso lembrar que por maior que seja o raio, este sempre descreverá uma circunferência.

    Donde também se conclui que uma curva, por mais próxima que seja de uma reta, sempre será uma curva.

    Por fim, um ente geométrico não pode ser ao mesmo tempo reto e curvo.

    Depois disto te pergunto: Galvão saberá disto?

  13. A descrição das Olimpíadas foi sensacional. Magdão Bueno, é uma prova que o puxa-saquismo pode te elevar a um alto patamar na vida (aprendam crianças).
    De fato, enche o saco tudo isso, embora eu goste e tenha praticado outros esporte além do futebol. Sei que falar mal em um período de ufanismo falso muito oportunista, como se nós fôssemos “os chatos” mas… faz parte – é importante desafinar o côro dos contentes.

    Esporte amador devia ter um fundo útil: fometar o desporto, a cidadania e ensinar as crianças a prática de um esporte etc.

    Aqui servem como propaganda política e como fonte de renda para COI e outros espertos pegarem nossa grana. Então, que a Olimpíada vá pra PQP.

    Só preciso fazer um comentário sobre a questão do Tibet. Acho que uma coisa não justifica a outra, “teocracia feudal” ou não, um povo livre foi massacrado com a conivência de quem tem interesses econômicos para endossar invasões e matança.
    Ninguém é perfeito, mas nunca ouvi falar de tropas do Tibet tentando invadir outra nação ou interferindo na vida de outros povos. O que a China faz é uma vergonha e tentar encobrir isso para passar outra imagem com Olimpíadas é uma tragédia. No final das contas, ninguém respeita essa postura, apenas tolera por interesses comerciais. Em tempo: não vou deixar de comer yakisoba nem ler Confúcio.

    Abs!

  14. Oba!
    Vou começar a treinar badminton já que sou do Acre e sou de Rio Branco!!! (rs)
    Estou pensando tb em saltos ornamentais, aquele esporte eletrizante e super cheio de emoção, o que vc acha??
    Queria sua opinião tb sobre o levantamento de peso e arremesso de peso. Que tal os gaúchos treinarem já que são excelentes jogando … bocha.
    rsrs

    Abs. A propósito, adoro seu blog.

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