Porque a Camila Pavanelli escreveu esta maravilha, revisei e ressuscitei esta historinha escrita há cinco anos às pressas no Aeroporto de Guarulhos, antes do embarque de volta para Porto Alegre.
Poderia iniciar estes flashes pelo jantar perfeito que a Stella nos ofereceu assim que chegamos à São Paulo. Ou seria melhor começar pela noite em que chamei Chico Buarque de “bobão” (*) ? Ou talvez por algumas das palestras? Não, prefiro começar pelo beijo que ganhei de Mônica Salmaso.
Mas antes quero saudar a FLIP. Foi uma longa sessão de oxigenação, gentileza e bom humor. Havia eletricidade no ar. As palestras de Sérgio Sant`Anna + Luiz Vilela, a de Miguel Sousa Tavares (conhecido em Portugal por MST), a Oficina com Milton Hatoum e a palestra de Chico + Paul Auster foram esplêndidas. Conheci pessoalmente muitos blogueiros. Porém, perdi a chance de conhecer meu querido amigo Guiu Lamenha, cujo blog acabou em setembro. Falamo-nos ao telefone e nosso encontro deu errado por culpa minha.
Bom, vamos ao beijo de que tanto me orgulho. Descobrimos que Mônica Salmaso faria um recital com Paulo Bellinati na noite de quinta-feira, às 23h. O local seria o pequeno Paraty Café. Depois de um rápido jantar, fomos para lá. O local estava lotado, cheio, cheíssimo. Havia apenas duas mesas livres; uma para o grupo de Caetano Veloso, outra para o de Arnaldo Antunes. Não havia o que fazer. Porém, na porta estava o tradicional aglomerado de chorões suplicando ao porteiro:
— Não tem um lugarzinho? Nada? Nenhum? Fico em qualquer canto…
— Não! Agora só entrarão convidados da FLIP.
Dei umas voltas por ali com a Claudia, enquanto a Stella desistia e ia às compras. Estávamos quase conformados quando vi que o grupo de suplicantes da porta era encabeçado agora por 3 belas moças. Era nossa chance. Obviamente, aquelas entrariam depois de seduzirem o porteiro — ele já estava todo risonho… — e, quando elas entrassem, eu daria um jeito de entrar junto. Peguei a Claudia pela mão e fomos passando entre as pessoas até a porta. Estava num dilema, pois minha intenção era a de entabular conversação com uma das três moças, a mais bonita, a da frente, mas estava junto com a Claudia, que pode tornar-se ciumenta. Acho que ela entendeu meu plano e comecei a conversar com a desconhecida. A conversação com ela era tão fácil quanto observá-la e, pela forma com que o porteiro já estava seduzido por seus lábios vermelhos e carnudos, era iminente nosso ingresso. Ela suplicava para entrar. Entramos os cinco juntos, enquanto as moças davam abaninhos para o terrível e incorruptível Cérbero (que nos dizia todo feliz para ficarmos bem quietinhos em pé no balcão…).
Lá dentro, pedi para a Claudia falar com um carioca que tinha — não sei como — dois lugares livres em sua mesa. Ela se vingaria de mim e obteria importante ganho secundário. Ela começou dizendo que tínhamos vindo de longe, de Porto Alegre, aquele papo. Ele, outro risonho, perguntou para que time ela torcia e ela lhe respondeu que era gremista. Ele replicou bestamente dizendo que “detestava” colorados… Então ela, de forma muito temerária, declarou que seu marido era colorado e me apresentou ao homem. Ele deu uma risada dando-me os parabéns pela goleada que seu Botafogo tinha imposto ao meu Inter e nos cedeu o lugar. É claro que ficamos todos amigos. A cariocada é sensacional — todo mundo ali era amigo e o que todo mundo queria era a Mônica! Já instalado, telefonei para a Stella.
— Stella, eu e a Claudia estamos aqui dentro.
— Como é que é? Me esperem que eu já vou entrar!
Três minutos depois, sinto alguém tocando meu ombro. Era a Stella e, atrás dela, toda uma cambada. Com sua autoridade natural de psicanalista “holandesa e voadora” que tudo sabe, com seus 1,80m de altura, tinha dito ao porteiro:
— Estamos com o grupo de Milton Ribeiro. Ele nos está aguardando aí dentro.
— Estejam à vontade, senhoras. Entrem, por favor.
Disse-me ela que havia muitos Famosos Alguéns na cidade e que, afinal, eu era o famoso blogueiro Milton Ribeiro!
O recital começou. Meu Deus, toda a malandragem utilizada ganhou um sentido consistente. Que cantora, como ela cresce no palco, como fica bonita, que intérprete! Sem dúvida, é a maior cantora brasileira. Ficamos hipnotizados pela hora e meia daquele recital perfeito. Soubemos depois que servirá de base para um CD da Biscoito Fino.
Após o bis, resolvi comprar o único CD da Mônica que não possuía. Fiquei na fila de autógrafos e, quando chegou minha vez, achei muito longos os segundos ao pé da deusa. Fiquei angustiado, ela não parava de escrever a dedicatória no CD. Então, comecei a falar sobre os contrastes de sua maravilhosa interpretação de “Véspera de Natal” de Adoniran Barbosa, sobre o show, sobre determinada frase que começava pateticamente feliz e terminava pesadamente triste e como ela conseguira nos passar isso, etc. Na verdade, não lembro bem o que disse sobre a música de Adoniran (só lembro que estava inspirado, meus 7 leitores, muito inspirado), mas sei que ela parou, levantou os olhos lentamente para mim, abriu um sorrisão que quase me fez dobrar os joelhos e se dependurou no meu pescoço, dizendo “Você notou? Que lindinho que você é!”. Só depois do beijo estalado na bochecha e de muita conversa é que a musa acabou a dedicatória. Até agora estou nas nuvens.
(*) Esclarecimento Importante: Sábado, em Parati, nós jantamos numa mesa ao lado daquela em que estava Chico Buarque e seus amigos. Eu o chamei de “bobão” em resposta a uma observação feita em voz altíssima por sua filha. Só que minha resposta foi dada em voz baixíssima, só para nossa mesa. Quem sou eu para ofender Chico, mesmo que de brincadeira? No próximo post conto esta história de cabo a rabo, certo?
Hahahahahahahaha
Isso é a cara da Mônica!! 🙂
E só para constar, o Afro-Sambas também está na minha lista dos 200… É uma pena que eu tenha visto esse duo ao vivo muito menos vezes do que eu gostaria.
Beijão e obrigada por re-compartilhar (com ou sem hífen, who cares) esse causo tão precioso!
Acho que sim, ela é muito afetiva e sem nenhuma pretensão à diva inalcançável.
Ah, e os afro-sambas são uma coisa!
Só para dizer que Paraty + FLIP, apesar de todo oba-oba, é um barato, só pelo cheiro de páginas no ar, e grande parte daquela gente ali voltada para a literatura, essa forma singular de conhecimento sem um axioma para vender (quando é mesmo boa). De resto, chamar Chico de bobão não é nada demais, não há quem não seja, de vez em quando, um; e já que falamos dele, bem, os livros que escreve são fraquinhos, fraquinhos… Não li o último e não pretendo ler o próximo. Se nãao se chamasse Chico Buarque, tais brochuras nem seriam publicadas, que dirá lidas. Se é que são lidas…
Assino embaixo, Marcos, mas gostei de Budapeste. Acho que podes lê-lo sem receios.
Cuidado que na próxima vez que você topar com o Chico sua esposa pode querer uma revanche. Lembre-se sempre de esconder os cds do homem antes de viajarem juntos. Agora fico esperando a história do “bobão”. Abraços!
Estou atrás de uma foto perdida, Gilberto. A comprovadora.
Não li tb. mas passei os olhos e vi o nome do Guiu. Conheci ele qdo estive em São Pauli em abril passado, num festa que era uma caixa de comentários viva – peraticamente só blogueiros!
O guiu é uma simpatia pessoalmente também! Um fofo!
Agora está em Maceió. né?
Bj, f
“eu vim no grupo de Milton Ribeiro….” hum, gostei da tática da moça… É, para ver a Mônica Salmasso de pertinho, até vale aturar flauta da cariocada… fazer o quê, né/
Sorte e saúde pra todos!