Very english, para o bem e principalmente para o mal. Cheguei a indicar Retrato de um Casamento, de Nigel Nicolson, a uma amiga. Estava no começo da leitura; arrependi-me. Este livro de 1973 foi traduzido com enorme sucesso no Brasil em 1976. Trata-se da biografia da aristocrata Vita Sackville-West escrita por seu filho Nigel, mas também é uma autobiografia. Explico melhor: é um livro em que dois longos capítulos são retirados do diário de Vita Sackville-West e três outros – também longos – são escritos por Nigel.
Mamãe Vita foi uma escritora de muitos livros e o filho Nigel tornou-se um político conservador inglês. Só que o político escreve muitíssimo melhor que a escritora. O primeiro capítulo de Nigel é maravilhoso. Então vem Vita e é uma tragédia! Tal fato diz tão mal da personagem principal que me foi impossível não achá-la ridícula. Pensava: “Então quem faz isto, também escreve aquelas expressões cheias de uma adjetivação obtusa?”. Blergh!
O livro trata basicamente do amor entre Vita e sua amiga Violet Trefusis, que escrevia muito melhor, a julgar pelas cartas que Nigel transcreve. Esta paixão magoa o marido homossexual Harold Nicolson, pois ele vê nela uma real ameaça de abandono. Ele não admite perdê-la, apesar de não ter interesse físico por Vita. É um estóico: não reclama, permanece gentil, prestativo e apaixonado. Very english, indeed.
Então esqueçamos os capítulos escritos por Vita e fiquemos com os três de Nigel. Dono de uma prosa elegante, ele narra os segredos sexuais e emocionais de sua mãe. É desconfortável e este é o grande ponto de interesse, na minha opinião. Nigel fala também do pai, Harold, e do fortíssimo e inabalável amor deste por Vita, que cresceu, recebeu retribuição platônica e se tornou cada vez mais importante com o passar dos anos. Era o porto seguro a que ambos regressavam após as aventuras de Harold com jovens rapazes e de Vita – uma delas com Virginia Woolf.
Para que a imagem de Vita saia ainda mais machucada do livro, o filho faz questão de salientar o profundo esnobismo de Vita e a seu profundo desprezo pelos pobres e plebeus. É o único momento em que ele parece perder o controle, falando abertamente mal da mãe. Francamente, que atitude inadequada, Nigel!
Um triângulo de múltiplos lados
Éramos dois, casados há alguns anos, mas passamos a três, quando ela se encontrou com outra e por lá (na casa da outra) ficou durante algumas semanas, visitando-me semanalmente para trazer roupas sujas, levar limpas e mais algum dinheiro; deixava-me um beijo e expressões de deleite, que eu trocava com ela por expressões de fastio e outro beijo. Resolvi mudar de comportamento depois que ela e a amiga foram morar em nossa casa de casal, ficando a cama com elas, eu no quarto de hóspedes, sem móveis além de um velho leito simples; adquiri um belo chaisse lounge e passei a receber meus amigos; ela, no quarto ao lado, fazia orgias com a amiguinha mais outras mulheres, em meio a baforadas de ópio e muito absinto. Passamos a frequentar festas da alta sociedade que antes abjurávamos (eu mais que ela) somente para variar de parceiros. Num certo ponto, cansamos (eu primeiro que ela), reformamos a casa e voltamos a dormir no mesmo quarto, onde um mesmo dossel cobria as camas de solteiro postas paralelamente. Ela envelheceu muito (eu menos que ela), chora pela primeira amante perdida, enquanto eu guardo as melhores lembranças de meus amigos, e só. Ah, tivemos um filho, é claro! Mas… não sei dizer por onde ele anda – me disseram que por corredores da Câmara dos Lordes, indo de uma saleta a outra, tecendo acordos políticos acerca de questões minúsculas e desimportantes. Será? Bem, me disseram que não lhe falta talento literário, embora eu possa afirmar, com toda a certeza de pai ausente, que imaginação, ao menos, ele nunca teve, e nutro sérias dúvidas se um dia mostrar alguma evolução nesse ponto preciso. Ela parece concordar comigo, como às vezes ocorre – ultimamente mais do que no passado, quando éramos apenas dois.
PQP, parece que tu leste o livro!
Sendo assim já posso incluí-lo na minha estante de “Livros não lidos mas como se lidos tivessem sido”, que fica logo ao lado dos “Livros clássicos que não lerei por desnecessários fazê-lo” e sobre a de “Livros que não devo ler mas é bom tê-los na estante como se os tivesse lido”.
… q fica ao lado das notas de “filmes que decidi não ver depois de ter admitido a possibilidade de vê-los, pq, enfim, a psicologia…”
hehehe
Como pode alguem nao ter gostado deste livro?Quando o li pela primeira vez era uma adolescente, e nunca mais o esqueci, embora nao seja homosexual fique fascinada pela pessoa de Vita. Sempre adorei Virginia Woolf, e ela tambem a fascinou. Arrogante e burra! Ora, ora,nao diga besteiras……,so quem tem sangue nobre conhece esta faceta. Verdadeiramente mitica, inspiradora. Porque os homens nao se libertam desta VERDADEIRA arrogancia de se acharem superiores sempre?