No final da década de 80, quando morei em West Berlin (o muro continuava erguido), caminhava direto aos kinos off Kudam em Kreuzberg e Neuköln, onde se podia fumar no recinto fechado da sétima arte, para assistir Tarkovsky. Assisti Solaris, Stalker, o Espelho e o último hit da época: o Sacrifício (1986). Depois dei um tempo. Talvez minha vida tenha sido influenciaca por Nietzsche e os novos estóicos e larguei de mão esse tipo de cinema. Quando atingimos a meia idade temos vontade de fazer as coisas que faziamos antigamente e numa boa locadora retirei Solaris. Não consegui assitir 20 minutos. Uma chatice. Impressionante, quando tinha 20 anos acreditava em duas coisas: no socialismo e na chatice.
Relendo o comentário do Carlos Eduardo da Maia, lembrei-me de um episódio ocorrido faz alguns anos. A TV Cultura de São Paula certa feita apresentou uma coleção de programas que, à época, foi batizada de “Semana Glauber Rocha”. Ávido de rever as obras de Glauber, assiste a todos os filmes. Porém, literalmente: dormi em todos eles. Inexplicavelmente, era tomado por um cansaço que me levava a dar umas voltas na sala para continuar assistindo. Sabia que efetivamente estava diante de algo original. Em poucas palavras: cada filme de Glauber é um autógrafo. Contudo, era insuportável o que o tempo fizera com cada uma das obras. Todos os filmes eram cansadamente velhos: uma experiência estética consumada. Outro exemplo semelhante, para mim que sou poeta, é o concretismo. Hoje, para mim, o concretismo é um importante instrumento à elaboração poética; contudo, não tem o menor sentido criar um poema concreto.
Por outro lado, para mim, existem autores – ou mais precisamente, criadores-, que não canso de reencontrá-los: na literatura, por exemplo, Machado, Pessoa; no cinema, por exemplo, Kurosawa, Fellini; na pintura, por exemplo, Van Gogh, Portinari; na música, por exemplo, Beethoven, Bach, Gismonti, Beatles etc.
Tais autores parecem possuir um encanto de revelação a cada reencontro. É como dizer “refina-se a alma, refina-se a obra”. É sempre um florescer…
Quanto ao socialismo: para mim é ainda uma questão em aberto…
“De gratis” também…
INÍCIO
É ineficaz este poema
porque não tem tema.
A não ser… Que é preciso
achar o desconhecido!
Será o esboço duma verdade,
um rascunho duma liberdade?
Note que ele não é livre.
Porém, quem nasce livre?
Talvez seja só o início
dum livro, agora escrito.
errata: onde aparece um retângulo: e travessão!
No final da década de 80, quando morei em West Berlin (o muro continuava erguido), caminhava direto aos kinos off Kudam em Kreuzberg e Neuköln, onde se podia fumar no recinto fechado da sétima arte, para assistir Tarkovsky. Assisti Solaris, Stalker, o Espelho e o último hit da época: o Sacrifício (1986). Depois dei um tempo. Talvez minha vida tenha sido influenciaca por Nietzsche e os novos estóicos e larguei de mão esse tipo de cinema. Quando atingimos a meia idade temos vontade de fazer as coisas que faziamos antigamente e numa boa locadora retirei Solaris. Não consegui assitir 20 minutos. Uma chatice. Impressionante, quando tinha 20 anos acreditava em duas coisas: no socialismo e na chatice.
Com o manuseio você vai impregnando as coisas. Aí começa a se ver nelas. Velho.
Relendo o comentário do Carlos Eduardo da Maia, lembrei-me de um episódio ocorrido faz alguns anos. A TV Cultura de São Paula certa feita apresentou uma coleção de programas que, à época, foi batizada de “Semana Glauber Rocha”. Ávido de rever as obras de Glauber, assiste a todos os filmes. Porém, literalmente: dormi em todos eles. Inexplicavelmente, era tomado por um cansaço que me levava a dar umas voltas na sala para continuar assistindo. Sabia que efetivamente estava diante de algo original. Em poucas palavras: cada filme de Glauber é um autógrafo. Contudo, era insuportável o que o tempo fizera com cada uma das obras. Todos os filmes eram cansadamente velhos: uma experiência estética consumada. Outro exemplo semelhante, para mim que sou poeta, é o concretismo. Hoje, para mim, o concretismo é um importante instrumento à elaboração poética; contudo, não tem o menor sentido criar um poema concreto.
Por outro lado, para mim, existem autores – ou mais precisamente, criadores-, que não canso de reencontrá-los: na literatura, por exemplo, Machado, Pessoa; no cinema, por exemplo, Kurosawa, Fellini; na pintura, por exemplo, Van Gogh, Portinari; na música, por exemplo, Beethoven, Bach, Gismonti, Beatles etc.
Tais autores parecem possuir um encanto de revelação a cada reencontro. É como dizer “refina-se a alma, refina-se a obra”. É sempre um florescer…
Quanto ao socialismo: para mim é ainda uma questão em aberto…