Estava procurando escrever posts menores, mas aí veio-me a idéia de entrevistar minha amiga Mônica. Na primeira versão que preparei havia 15 perguntas; na segunda, exatas 43; na terceira e última, voltei a razoáveis 20. Razoáveis? Olha o tamanho do post! Mas garanto a vocês, vale a pena ler!
Eu e a Mônica não nos conhecemos pessoal ou telefonicamente. Não uso o MSN e nem foto dela eu vi, mas sabia quão incontrolável ela poderia ser. Comprovei quando recebi as respostas. Havia perguntas nas quais depositava grandes esperanças e vieram respostas secas…, que foram compensadas por réplicas antológicas onde não esperava. Para facilitar a leitura de meus 7 fiéis visitantes, esclareço que a Adorável, citada na pergunta 7, é irmã da Mônica, é blogueira e é também conhecida por Rô. Também explico que a única pessoa da blogosfera que desentendeu-se seriamente com a entrevistada foi exatamente… eu (pergunta 18), mas, como ela diz, hoje somos amigos, gostamos muito um do outro e vamos nos casar assim que ela me enviar uma foto. Para terminar (final da pergunta 19), fecho mais uma vez com a Mônica na indicação do CD El Negro del Blanco (Biscoito Fino), dos maravilhosos Paulo Moura e Yamandú Costa. Chega de papo e vamos à entrevista:
1. Que grau de compromisso tens com o Crônicas Mônica? É algo descartável ou deverá ter longa vida?
Não consigo pensar em nada descartável, pelo carinho. Gosto das pessoas e do blog em si. Levo bastante a sério. Mas posso implicar e acabar com tudo em um dia… jeitinho Mônica de ser.
2. O complemento do título do teu blog é “Uma escrita bem humorada sem compromisso literário”. Não consigo encarar este título de outra forma que não seja uma defesa de alguém que é normalmente muito autocrítico, mas que não quer ou pode dedicar-se 100% àquilo.
Bingo! E mal sabia eu que ao postar, pela primeira vez, já estava assumindo um compromisso danado.
3. Acho que as tuas melhores qualidades são a musicalidade e a falsa anarquia de teus textos. Às vezes uma sobrepuja a outra, mas, sob alguma forma, elas sempre estão lá. De onde tanta música? E esta vontade de quebrar tudo?
Sempre vou ter vontade de quebrar tudo; ao mesmo tempo, respeito as pessoas, me acho “meio” incorreta politicamente, então, nunca quebraria absolutamente tudo. A musicalidade? Bom, essa mora dentro do meu peito.
4. A clareza é outra característica tua. Os posts podem ser lidos rapidamente, mas uma segunda leitura sempre me demonstrou haver ambigüidades bem escondidas em tuas histórias que nos levam a rir ou a sentir compaixão por teus personagens. Quanto tempo te toma um post “daqueles”, isto é, daqueles bem trabalhados?
Acredite Milton, de 10 minutos a 2 horas, depende. Sempre tenho começo, meio e fim delineados na mente. O revisar, corrigir, formatar, muitas vezes toma mais tempo do que escrever (um daqueles bons). As ambigüidades são para os inteligentes…
5. Ainda no terreno dos elogios: afirmo que tens notável habilidade para criar climas, muitas vezes constrangedores, sempre engraçados. A Mônica real brinca também assim? És uma piadista nata?
Sou, sempre fui. Minhas filhas vivem dizendo: Comédia, você!!!!
6. Entrando levemente no terreno das críticas: teus últimos posts parecem ser mais descuidados do que os de três ou quatro meses atrás. Concordas com isto? Houve alguma coisa?
Milton, a última coisa que sou é uma pessoa descuidada. Mas cheguei a uma encruzilhada: paro agora (Wandeca) ou faço algo mais ligeiro, sem muita correção, tanta revisão. Não tenho mais tempo, entende?
7. Quais são teus melhores posts? Seria o famosíssimo da Miss Sujinha, aquele em inglês ou outro?
Na verdade, acho que você gosta da “Miss Sujinha”. Eu gosto também, mas depois de pensar em sua pergunta acabo achando que os posts de que mais gosto, não são os mais engraçados. Gosto de: “Quem matou Dana de Teffé” embora muita gente nem lembre de “O Cruzeiro” ou David Nasser; gosto de Tiazinha (Yolanda Penteado), A Moleca e alguns outros. De alguns não gosto e vejo que o leitor gosta.
Tem um não muito antigo, da Lígia, que transa virtualmente e quebra a perna.
Bom querido, eu tinha duas opções: deleteva tudo e deixava um “Gran finale”, um bom post, ou continuava, com menos tempo.
Vivo fazendo isso:
– ADORÁVEL, querida, nem reli! Leia e corrija pra mim, por favor (quando estou mais apelativa, digo; pelamordedeus). Obviamente, ela adora este trabalho, lê com grande prazer e me liga elogiando: arrumei algumas vírgulas bailarinas, alguns errinhos de gramática e está ótimo!!!
Milton, cansei um pouco de pensar, corrigir, revisar, reler e 90% das pessoas não entender nada.
Pense: ser avó, decorar uma casa, reformar uma outra, o apartamento da filha, decorar, enxoval de noiva e bebê, escrever para uma revista, fazer traduções. O fato da maioria não entender muito, desanima.
8. E o que mais te toca?
Palavras, música, às vezes, um olhar…
9. Qual é a freqüência de publicação em blogs que achas adequada para ti?
Penso que dois posts por semana estaria mais que bom, até porque acho que as pessoas sabem que deixo um post longo, algum tempo, propositadamente. O Crônicas Mônica fica pra depois, quando tiverem tempo. Ou seja, ao mesmo tempo que posso aborrecer o leitor com longos posts, dou-lhes tempo para ler.
10. Quando o teu computador não está infestado de vírus como agora, acordas e já vais ver os comentários e e-mails ou dá tempo para tomar um café?
Meu amigo, eu acordo, medito, tomo café e dou uma olhada antes de me enfiar em uma esteira. Geralmente estou on line, por ter uma filha fora de S. Paulo e outra bem barriguda…mas não necessariamente estou no computador.
11. O surpreendente post sobre a posição sexual 69 foi seguido de um meio anormal sobre “elegância”. O superego ordenou um arrependimento acompanhado de imediata reparação, os leitores te propuseram “coisas” ou o Milton está louco?
Milton é muito lúcido, mas aqui vou discordar. O post 69 é de autoria de Maitê Proença. Acho a escrita dela viva e gosto de gente que diz atrocidades com elegância. A Maitê tem aquele fio tênue entre a elegância e a vulgaridade. Gostei do artigo 69, publiquei…então eu pergunto no final (para fazer graça): Vamos lá! Todo mundo se entregando, quem faz? Quem não faz? Uns disseram: eu não me entrego assim fácil não, outros descreveram o ato completo… vai de gosto do freguês, no caso, do leitor.
Taí, eu gostei do post “Elegância”.
Eu me repito, ( já disse isso antes), se falo de amor, falo de novo, se falo de arsênico, em seguida falo de cicuta. Viagem, outra viagem. Doris Lessing disse (já disse isso também), que os personagens, às vezes chatinhos, a perseguiam. Eu me sinto igual. Como achei que, na medida do possível, Maitê foi elegante, falei de elegância, mas não foi para me redimir não, acredite. Foi um pensamento. Até porque não acho deselegante a modalidade.
12. Aquela série deliciosamente maluca, metade autobiografia, metade livre-associação, acabou? Se acabou, já digo: que merda!
Não acabou não, Lavoisier… aliás, comigo nada termina, tudo se transforma.
13. Levas a vida empurrando as coisas com a barriga ou ela é uma aventura jovem e surpreendente?
Uma aventura jovem, cheia de surpresas, e faço ontem o que preciso fazer amanhã. Adoraria ser um pouco inconseqüente e irresponsável, nunca fui…
14. A vida amorosa é tranqüila e linear ou é cheia de som e fúria?
Cheia de som e fúria.
15. E como convives com a jovem avó que está nascendo? (Escuta, o Francisco já chegou?)
Nossa!! Quase morri na primeira semana, choque! Achava que o “status” de avó não combinava comigo, agora amo a idéia e vai nascer em janeiro. Tenho uma barriga linda aqui perto de mim.
16. É paradoxal. A Mafalda Crescida te caracterizou como uma pessoa que dá conselhos, que auxilia. Eu mesmo já recebi vários conselhos teus e reconheço a pertinência – e a inteligência – de todos eles. És uma mãezona ou não? Porém, também opino que tens uma relação demasiado irônica com o mundo para ser aquela mãezona típica.
Ahhhhhhh, provavelmente a primeira palavra que vou ensinar pro neto é um palavrão. Mas tenho a “Lua em Câncer”, sou mãezona mesmo, cuido das pessoas, mimo-as.
Adoro dar conselhos, mas a experiência, me faz pensar duas vezes para aconselhar, o interlocutor pode não querer conselhos. Muitas vezes vejo com tamanha nitidez que preciso falar…
17. Meu Deus! E uma vez me pediste para fazer um link entre tu e a mesma Mafalda, pois, olha Milton, não parece mas sou muito tímida…
E aí, graças a você, conversamos duas vezes e ela é um amor… Sou tímida mesmo, mas acho que todo o ser humano é, cada um na sua área, do seu jeito próprio. Garanto que você, às vezes, é tímido também.
18. Tenho a impressão de que és como uma daquelas bolas de silicone que se usa para fazer exercícios com as mãos, só que com chumbo no centro. Há maciez no trato, mas cuidado! Esta bola pode voar em direção a alguém?
Posso ser. Especialmente se for vítima de alguma injustiça ou se alguém mexer com minhas filhas, mas acho que isso é natural. Normalmente, sou doce e meu limite de paciência é bem grande. Mas, se mandar a referida bola, mando em partes letais, falo baixo e arraso a pessoa.
Tenho verdadeiro horror a briga virtual, comentários maldosos em janelas, nem pensar…
Uma única vez briguei com uma pessoa virtualmente. Trocamos e-mails, a pessoa se desculpou, eu desculpei e hoje somos bons amigos, gosto dele….ele sabe disso.
19. Quem, dentre escritores, cineastas e músicos, te provoca frisson?
Ai! Esta pensei em dizer; sou eclética, gosto de tudo, mas isso não faz parte de mim. Então: palavrório, agüenta….
Escritores: O escritor promove aquilo que dizia Gilberto Freyre: e a carne se fez verbo! Então…
Machado de Assis : Meu preferido, eu acho, é preciso ter uma certa maturidade para entender a ironia de Machado, do Machado pós-1881. Outro dia eu estava lendo umas crônicas dele, numa seleção muito bem feita, da Editora Global. E lia umas crônicas que ele escreveu por volta do dia 13 de maio de 1888. Simplesmente saborosas, mostrando a realidade da escravidão, das relações menos folclóricas entre escravo e senhor.
Escrever é recorrer aos deuses internos e externos, para dizer algo relevante.
As crônicas, por mais ligeiras que sejam, podem e devem ser relevantes. As de Machado são excepcionais neste sentido. Parece que ele deu uma rasteira no deus Cronos e continua cada vez mais atual.
Oscar Wilde sempre amei. Conta-se que o pai dele, médico, recebia como pagamento de consultas, quando o paciente era pobre, histórias que, mais tarde, iria contar ao pequeno filho Oscar antes do menino pegar no sono.
“Se um homem encara a vida de um ponto de vista artístico, seu cérebro passa a ser seu coração.” O. Wilde.
E Ernest Hemingway, sempre tive fascínio – O Velho e o Mar é um exemplo raro de narrativa poderosa, que jamais envelhece, e que fisga a gente!
Cineastas:
Orson Welles, Alfred Hitchcock, Quentin Tarantino, Frank Capra, e (pode rir) Steven Spielberg . Daqui há dez anos ele será reverenciado.
Lembro do meu amado Paulo Francis acabando com Steven.
(Ficou meio parecido com resposta de Miss? Nietzsche, Maiakovsky , Saint Exupéry e Paulo Coelho. Rss)
Músicos??? Milton Nascimento, (os mineiros todos, Clube da Esquina), misturo compositores e intérpretes: Mozart, Mendelssohn, Chopin, Weber, Liszt e Kachaturian; Camargo Guarnieri, Osvaldo Lacerda, Almeida Prado, Edino Krieger, Villani Côrtes, Ernesto Nazareth, Eduardo Souto e Zequinha de Abreu, Villa Lobos, Tom Jobim, João Gilberto, João Donato.
Os cearenses: de Fagner a Belchior…..
Baianos…nem preciso citar, Caetano, Gil, Caymmi, João Gilberto…
Você há pouco tempo comparou Chico e Edu Lobo, então pensei: mas ele compara um poeta e um maestro?! Acho que você comparava a genialidade dos dois…
Elis Regina, Nana Caymmi, Zizi Possi, Adoniran Barbosa, Dominguinhos. Muita injustiça minha, passaria o dia aqui falando de nossos gênios, sem esquecer de Billie Holliday, Quincy Jones, Cesaria Évora, Nina Simone, Ella… Jim Morinson, Miles Davis, Chick Corea (chega, vou te aborecer, vc saberá do que gosto em breve). Ah! Gosto da Grande Fantasia Triunfal do Hino Nacional.
“Frisson”… atualmente quem me causa frisson é seu conterrâneo, Yamandú Costa. O último CD do Paulo Moura e dele é algo…
20. Como te sentiste respondendo a esta série de perguntas cujo único conector lógico é a numeração?
O conector lógico são números. Quem formulou as perguntas, foi alguém querido, adorei respondê-las.