Aos colegas da OSPA.
Quero convidá-los para se divertirem nessa noite de BRAHMS. Apesar dos pesares somos músicos, é isso que amamos fazer, uns mais, outros menos, mas é o que amamos fazer, Música. E quando essa música está aliada a um bom maestro e uma excelente jovem solista, só nos resta uma coisa, nos divertir em tempos de luta por melhores condições de trabalho.
Israel Oliveira, trompista da OSPA, antes do concerto, no Facebook
Querem ouvir músicos felizes ? É só deixá-los tocar Brahms. Três vezes em um único dia é prenúncio de grande concerto.
Augusto Maurer, clarinetista da OSPA, antes do concerto, no Facebook
O programa de ontem, 6 de setembro, era este:
Johannes Brahms – Abertura Trágica, Op. 81
Johannes Brahms – Concerto para Violino e Orquestra, Op. 77
Johannes Brahms – Sinfonia Nº 3, Op. 90
A solista de violino foi a espantosa (e bela) Anna Matz — sósia mais magra e alta de Romy Schneider — e o regente foi o uruguaio Nicolás Pasquet.
Terminadas as apresentações, tenho que dizer que o concerto foi memorável, inesquecível. As interpretações da solista e da orquestra no Concerto e, depois da orquestra na Sinfonia, foram de cair o queixo. Grande regente, o Sr. Nicolás Pasquet. Foi uma noite para a gente sair de lá feliz, mesmo que tenha sido no péssimo Auditório Dante Barone, mesmo que saibamos do local inadequado para ensaiar, mesmo com os barulhos estranhos que vinham do vestíbulo, mesmo com uma acústica de merda, a orquestra resiste aos maus tratos estaduais e federais. Afinal, a ministra Ana de Hollanda veio à Porto Alegre fazer o quê? Passear e prometer? Chega, né? Quanto mais batem, mais esta orquestra cresce, mas tudo tem limite.
Agora notem como a extraordinária solista de apenas 20 anos lembra Romy Schneider. Vão dizer que não?
CONSTRUTOR
by Ramiro Conceição
A arte… são degraus alados
nesse mar de fadas e de fados.
O artista?…Ora, é o construtor
de escadas!
A ESCADA
by Ramiro Conceição
Há uma escada esquecida no telhado.
Quem subiu, e a esqueceu?
Mas, se subiu, foi pra onde
(acima há somente o céu)?
Será que foi Sábato que, quase aos 100,
morreu numa quarta longe do sábado?
Será que alguém pulou, fugiu e deixou
aquela escada esquecida no telhado?
Talvez tenha caído d’algum helicóptero
americano que invadiu o espaço aéreo
ao seu bel-prazer, como é de costume.
Ou será que caiu de dentro dum ovni?
Convoquemos a corja da grande imprensa.
Organizemos uma miríade de intelectuais,
de bandidos, digo, de políticos; de padres;
de pastores; e não esqueçamos do dito
papa bento com o seu defunto papa santo.
Coloquemos de prontidão a armada!
Faz-se necessário, que sejamos sensatos,
por favor, enquanto há tempo, contratem
qualquer um do quilate de Hebe Camargo:
“Quem foi a graciiiiiinha que esqueceu
a escada no telhado?”
Miss Matz também é fumante. Obrigado Sr. Milton pela presença. Quem precisa dos políticos? Será que foram eles a aplaudir no final do primeiro movimento do concerto?
Pois é. Eu ia citar aqueles aplausos. Coisa feia e indigna. Não lembro daquilo ter acontecido na Reitoria. E não acontecerá no novo Teatro, espero.
Queria ter visto, mas fazer o quê?… Mas estou satisfeito em ouvi-lo e assobiá-lo e cantá-lo mentalmente todos os dias…
Horário pra aplaudir? Bah, daí é foda! O povão que bater palmas, aplaude até fratura exposta se o negócio for bem dirigido e mexer com a emoção.
Por estas e outras que pro tal Justin Biba tem gente fazendo fila prum ingresso a dois km do palco, enquanto nossa digna orquestra procura um teto.
Não, não tens razão. Atrapalha de fato, não é meramente um ritual.
Então não dá pra reclamar de salas parcas, com meia dúzia de “inciados”…
Eu não reduziria a discussão aos aplausos. Tenho um blog anônimo sobre música erudita que recebe 2000 visitantes por dia. Bem mais do que este. Posso comprovar, pois há um contador aberto. É um pouco mais do que meia dúzia.
Se é o PQPBAch, além de ler, indico, pela generosidade deste site. Eu fiquei nos aplausos porque é a única forma de agradecer a quem está mostrando seu trabalho. Não creio que um músico fique perturbado ou constrangido com o aplauso sincero de sua plateia. Só achei xarope ficarem debochando de seres de poucas luzes que devem seguir um protocolo (não escrito) pra expressar o que sentem.
Lembro que em 2005, ajudei a organizar um concerto com a Orquestra da Unisinos. Veio um maestro da Polônia e um pianista, Eduardo Hubert. Tocaram Górecki, Haydn, Guarniere… E tal…
No Salão de Atos da UFRGS, tinha mais músicos no palco do que assistentes. Ahhh! Mas aplaudimos bastante. E como!
No outro dia, fecharam a Orquestra (reabriu há pouco). Deve ser porque não nos comportamos bem…
Foi deboche? Acho que reclamei dos aplausos. Além do mais, não ficou claro que “as poucas luzes” eram de políticos?
Reclamaste de aplausos ao fim do primeiro movimento.
Num espetáculo.
Independe de quem esteja assistindo.
As palavras feio e indigno (até onde alcança minha verve) se não usadas como ironia são, no mínimo, ofensivas.
E não ficou claro que eram políticos. E se fossem garis? Ou professores? Mudaria alguma coisa?
Mas ficou bem clara a “sugestão” de que isto não deverá ocorrer no Teatro Novo. Espero…
Um concerto da OSPA… é um concerto da OSPA. Um recital na Casa de Cultura de Vila Velha… é apenas um recital em Vila Velha. Porém, Milton, já aconteceu algo semelhante ao mencionado, isto é: aplausos, suspiros e murmúrios durante a declamação de um poema.
De fato, uma pausa inesperada aconteceu… Contudo, instantaneamente, um arrepio de energia lavou a alma do instrumento da palavra; e o restante do poema foi recriado duma maneira não imaginada… Resultado final: a platéia em palmas, de pé, e o poeta a levantar o olhar do papel, ali, sem jeito, a sair do transe… não acreditando no acontecido… Creio que isso seja a arte.
Protocolos e rituais foram inventados para serem seguidos, mas, ocasionalmente, para serem rompidos. Você não acha, Milton?
Aplausos interrompendo a execução de uma música, seja ela uma sinfonia, concerto ou peça de câmara em vários movimentos ou vários improvisadores se alternando em solos sobre um mesmo tema de jazz, são igualmente indesejáveis. Pois se trata, afinal, muito menos de qualquer protocolo ou ritual (tão comuns aos públicos da arte) do que, isto sim, da preservação da própria integridade da obra artística. Atrapalham, sim, a escuta, do mesmo modo que anúncios intercalados prejudicam a exibição de um filme ou, ainda, quadros ou esculturas despedaçados dificultam a percepção de suas formas.
Se quisermos, então, fruir a arte de um modo mais próximo do ideal, devemos evitar a todo custo as abomináveis convenções do mundo do espetáculo. Como, por exemplo, os aplausos em “cena aberta” da ópera.
Gosto de ver esta discussão indo e vindo neste blog – como dia desses num post sobre um show de Arthur de Faria.