Bem, no último sábado, escrevi isso aqui numa matéria para o Sul21 (publiquei só o que está em itálico, claro):
Ao menos neste período, não há como reclamar da vida cultural de Porto Alegre. Na última terça-feira (06), iniciou o Porto Alegre em Cena, que vai de 6 a 27 de setembro. Entre os dias 7 e 20 deste mês, temos a famigerada — sim, estou sendo altamente pejorativo — Semana Farroupilha, que dura bem mais que uma semana e, neste sábado (10), começou a 8ª Bienal do Mercosul, que se estende até o dia 15 de novembro, ultrapassando o final da Feira do Livro que irá de 28 de outubro a 12 de novembro. Considerando-se todos os eventos, ficam contemplados o teatro, a música popular, as tradições, as artes plásticas e a literatura.
E é tudo muito barato ou gratuito. Hoje, sigo nos concertos e peças. Das 20h30 até o intervalo, verei o concerto da OSPA, e depois, às 22h, vou assistir a peça uruguaia Neva. O tema é a figura de Olga Knipper, mulher de Tchékhov, que nunca foi lá muito veraz em suas histórias e que tinha um comportamento polêmico como ex-esposa do grande dramaturgo. No drama, ela vive uma crise: longe dos palcos, cuida de seu marido, que definha num sanatório alemão. Isso, a doença, macularia uma imagem de atriz perfeita construída em anos de trabalho. Muito fantasiosa, Olga representa a respeito de tudo. Por exemplo, sabe-se das muitas versões acerca da morte de Tchékhov, reinventadas pela mulher como se fosse uma cena de teatro a ser lapidada. O resultado é até hoje não se sabe como foi. Aguardemos pela noite.
Voltando (ou recém chegando) a nosso assunto: sábado, fui ver Ná Ozzetti e, ontem à noite, Adriana Calcanhotto. Foram dois shows acústicos de duas cantautoras, ambas acompanhadas por excelentes bandas; Ozzetti com um quarteto, Calcanhotto com um trio; as duas no Theatro São Pedro. Ozzetti é muito tímida e trancada no palco, Calcanhotto esconde muito melhor o fato de também ser assim. Não, não há necessidade nenhuma de compará-las e, se o faço, é apenas pela proximidade e pela diferença entre os espetáculos.
O show de Ná, Meu Quintal, morre na baixa qualidade de suas composições. A cantora — muito melhor tecnicamente e com mais extensão vocal do que Calcanhotto — mostra músicas fraquinhas com letras de bicho-grilo tardio. Salva-se algumas canções de Luiz Tatit e a excelente interpretação de Na Batucada da Viva, de Ary Barroso e Luiz Peixoto (1934). Enquanto Ná mostrava suas músicas e parcerias, eu tratava de deixar o tempo passar, revisando mentalmente a agenda, etc. Meu Quintal é apenas simpático.
Adriana Calcanhotto tem outra presença. Impõe-se, não é nada leve ou bicho-grilo como Ná. Suas músicas têm boas letras e Adriana compensa a falta de extensão de sua voz com músicas facilitadoras — simples, diretas, boas. O resultado é que Micróbio do Samba funciona maravilhosamente. É um espetáculo dedicado de cabo a rabo ao samba. Toda de preto, Adriana não faz um show “pra cima”; canta com inteligência e poesia a vida cotidiana. Sua dança quase imóvel, as poucas palavras e a fingida indiferença para com os aplausos não são apenas heranças benditas do rock, são a construção de uma personagem agradavelmente blasé durante as quase duas horas de espetáculo. Sua única fala, além da apresentação dos músicos e de um rápido boa noite, foi muito emocionante. Ela acendeu um copo de Steinhäger (isso mesmo) para homenagear Caio Fernando Abreu, que ontem faria 63 anos. Recomendo!
Também acho que não dá para comparar as duas.
Há dois anos, fui a um show da Adriana Calcanhoto. Outra edição do Porto Alegre em Cena. Voz melodiosa apesar dos graves que ela “perdeu em Pelotas” naquele dia. Com mais “hits” emplacados na carreira, Calcanhoto tem apoio fácil no repertório (noves fora o chato período de música para criança, do qual felizmente ela não sacou nenhuma música).
Havia um violoncelo no palco. E ele ficou lá de cenário por horas. Quando Calcanhoto decidiu tocá-lo, fez um lance meio contemporâneo demais para o meu gosto. Arranhava as cordas. Não, definitivamente não ficou bom. Apesar disso, e de outras bizarrices, eu gosto mais dela do que da Ná Ozetti (não sei se é pela qualidade artística, não vou por aí).
Vi Ná Ozetti no sábado. Gostei da interpretação para Rita Lee, do modo como cantou Ary Barroso, da “desequilibrada” parceria com o Tatit. Acho Capitu boa composição, embora seja de álbum anterior (Estopim). Ela tem voz cheia, não faz passagem para os agudíssimos. E foram muito bons os movimentos de braços dela, não a achei “muito trancada” no palco. Ah, e o violoncelo foi muito bem tocado e não ficou só no cenário.
É, discordamos feio sobre a Ná. Não gostei também de seus movimentos no palco. Capitu é realmente uma boa composição.
Ontem, Calcanhotto não explorou nada de seus “hits”, nada de nada. Achei um saudável desapego. Vale a pena vê-la. O show se repete ainda hoje, não?
É claro que os ingressos estão esgotados :o(
Sonzinhos flácidos de ressonância bovina. Vozinhas do tamanho da unha do dedo mindinho. Sem energia, vitalidade, música pra pegar no sono. Banidas da minha discografia…
Num show, alguns anos atrás, Adriana se apresentou sozinha no Teatro Guarani, aqui em Pelotas. Algumas canções, uns violões e alguns aplausos. Muito silêncio. Na saída, todos quase mudos, extasiados, como se o teatro fosse um palco inteiro. Adriana lembra de Caio, que lembraria de Adriana, tanto um quanto outro, como nós, ou alguns de nós. Sei lá!
Nossa, na minha opinião, a Ná Ozzetti é infinitamente superior à Adriana Calcanhoto. A Ná tem uma voz maravilhosa e canta muito melhor que Calcanhoto. E dizer que as composições de Ná são fracas, nossa, é muito amadorismo. Nossa, a banda de Nà conta com compositores como Dante Ozzetti e Mario Manga, que são músicos super gabaritados. E a música Equilíbro, do disco Meu Quintal, foi indicada como a melhor canção brasileira do Latin Grammy Awards este ano. Desculpe, até gosto da Calcanhoto, mas ela é mediana. Esse post do seu blog mais parece uma defesa da Calcanhoto porque ela é gaúcha…