O concerto de ontem à noite da OSPA estava dentre aqueles que eu não indicara. Não, não sou nenhum oráculo mas tenho 40 anos de salas de concertos. Dou bons chutes. Infelizmente, tinha razão. O programa era o seguinte:
Bruno Kiefer: Poema Telúrico
Claudio Santoro: Concerto para Violoncelo (Solista: Antonio Del Claro)
Claudio Santoro: Sinfonia nº 11Regente: Roberto Duarte
Quando se fala em promover a música brasileira, isto não significa o desligamento de qualquer senso crítico. O Poema Telúrico de Kiefer é apenas médio, a Sinfonia de Santoro é consistente e ótima, mas seu Concerto para Violoncelo é medonho e foi um alívio quando terminou. Acho que o violoncelista nem voltou uma segunda vez para ser aplaudido. Ele não era culpado de nada, só que todos desejavam que ele fosse logo embora. Não é uma opinião única ou algo ditado por minha mente melômana. Na verdade, era tão incrivelmente ruim que consultei alguns não-melômanos durante o intervalo. Eles me confirmaram a extrema ruindade da coisa. Outro alívio foi quando Roberto Duarte, antes de atacar a sinfonia, falou à plateia dizendo que a obra fora composta muito tempo depois e que era muito diferente. Obviamente, ele não fez referência à música anterior, talvez nem quisesse dizer “agora, a coisa vai”, porém a mensagem foi compreendida assim.
A angustiante sinfonia Nº 11 é muito boa mesmo e uma amiga psicóloga disse ao final: “Posso não entender nada de música, mas de angústia eu entendo!”.
O fato lastimável do concerto foi o programa. Papel de boa qualidade, muito bonito e inútil. Imaginem: a gente vai assistir uma série de músicas brasileiras desconhecidas e, naturalmente, recorre ao programa. Este não informa o nome nem o número de movimentos da obras. Lá no meio do texto éramos informados que o Poema Telúrico tinha dois, mas e o resto? E os textos sobre as obras? OK, o maestro Duarte dispôs-se a explicar a sinfonia verbalmente e aquilo foi bem adequado, porém… e o resto, repito? O programa trazia vastos espaços em branco — pagos por alguém — e quase nenhuma informação. Algumas perguntas a qualquer um dos músicos da orquestra resolveria a questão facilmente.
Para piorar, ainda havia erros. Éramos informados que Santoro escrevera oito sinfonias, mas que ouviríamos a 11ª. Desta forma, ficamos sabendo que boa parte do pessoal da OSPA ignora e não quer saber de informações sobre o que será executado. Para piorar, fazem isto justamente num dia de música brasileira de concerto. Justamente a menos divulgada — o PQP divulga mil vezes melhor (vejam o que eles fazem com a Música Colonial e Imperial Brasileira, por exemplo).
Péssimo, né? Música mais ou menos e informação ruim não podem dar em bom concerto.
Acho que a OSPA precisa urgentemente melhorar os programas – os impressos, mesmo. erros de português, falta de informação, artistas participantes do evento suprimidos. Considero inadmissível que não haja uma equipe qualificada para isso, porque o programa faz parte do evento e esse tipo de coisa compromete a seriedade e credibilidade da instituição.
precisam ver como tem gente na orquestra que sofreu com aquela música! todos sabem que o público sofreu mais. não se maltrata o público assim,
Como comentei em outros papos, também padeci com o conc. p/cello, e curti o Kiefer e a sinfonia do Santoro. Mas, como desconhecia as obras, sofri com a total falta de informação do programa impresso.
Nem os movimentos de cada peça colocaram no programa. É o mínimo dos mínimos né???
Cheguei em casa e busquei subsídios na rede e há material, inclusive um site oficial do Santoro. Até o público leigo como eu consegue acessar em 15 minutos na internet informações e, sinceramente, só não o fiz antes de ir para a UFRGS por achar que não era necessário.
Fiquei chateada com aquilo, imagina que levei duas pessoas que nunca tinham ido a um concerto, que ingenuidade a minha, devo tê-las apavorado.
Estou aqui pensando no motivo pelo qual os programas tem estes problemas. É um problema de prazo, de supervisão, de falta de pessoal? Alguma imposição sobre quem os deva confeccionar e não tem noção de como fazê-lo? Seria importante entender para poder ajudar.
Não é de hoje que o conteúdo redacional do Programa da nossa OSPA é tratado de forma leviana, desatenta e descompromissada em relação às obras a serem apresentadas no palco nos dias de concerto, invariavelmente às terças-feiras. São desconsiderações estas que, muitas vezes, comprometem o resultado final artístico. É importante perceber que o texto sempre foi e sempre será complementar à uma música. E neste sentido, informação nunca é demais. Pois quem não gosta de uma sinopse bem redigida pré-concerto, com um carinhoso teor de pesquisa e uma certa e tão necessária didática junto ao público-alvo? Quem, nas salas de espetáculo, não fica curioso e quer saber mais detalhes em relação à obra, qual a sua importância artística, qual a intenção do compositor ao fazê-la e em que período histórico se enquadra? Se é uma linda ópera então, nem se fala… Lembro-me muito bem do Professor de História e escritor fabuloso chamado Luiz Roberto Lopes, o qual em sua época tratava essa questão com excelência, fazendo suas memoráveis explanações culturais e inteligentes no seu “Concertos Didáticos” na Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ), por amor à ópera e a história da música. Bem, e já que estamos falando da nossa ótima música popular brasileira (MPB) não seria igualmente importante se prestar homenagens à grandes artistas de todos os tempos como Caetano, Gil, Djavan, Milton, Guilherme Arantes, Cássia Eller? Repensando essas questões que unem público x música, entre outros, com certeza se cria um público mais cativo e fiel a qualquer concerto de música, sobretudo erudita, além de despertar a vontade dos próprios músicos em tocar com mais vigor e interesse, penso. Mas voltemos à redação do Programa de cada concerto! Esta sim: é pra ontem a sua melhoria!!! Temos músicos ótimos, regentes de altíssimo nível e cantores de ótimo padrão técnico e artístico em no nosso amado Estado. Mas, no todo, ainda falta rever detalhes paralelos a isso, para que tudo tenha uma unidade de qualidade inquestionável e de extrema utilidade pública. Tenho dito, grande abraço à esta entidade artística tão importante e vital ao nosso Estado. Com carinho e atenção, André Nocchi – Publicitário e Baixo do Coral Sinfônico da OSPA desde 1992.
Assino embaixo e por todos os lados. Programa leviano, desatento e descompromissado em relação às obras a serem apresentadas.