Paulo Coelho: Ulysses, de James Joyce, é "prejudicial" para a literatura (bem que eu desconfiava)

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Não posso dizer que lamentei esta matéria. Ao contrário. Por admirar Jorge Luis Borges, Paul Rabbit já escreveu livros com os títulos de O Aleph e O Zahir. Acho que ele jamais escreverá sua versão de Ulysses. Que bom!

Traduzido livremente por mim, do The Guardian

Escritor brasileiro descarta clássico modernista sobre um dia da vida de Leopold Bloom. Chama-o de “puro estilo”

Paulo Coelho põe no lixo o Ulysses, de James Joyce. "Não há nada lá".

Ulysses, de James Joyce, tem vencido enquetes e mais enquetes como o maior romance do século 20, mas, segundo Paulo Coelho, o livro é “uma idiotice”.

Antes, porém, falou de si ao jornal brasileiro Folha de S. Paulo. Coelho disse que o motivo de sua popularidade é o de ser “um escritor moderno, apesar do que dizem os críticos”. Isto não significa que seus livros sejam experimentais, acrescentou — sim, “eu sou moderno porque faço o difícil parecer fácil e então eu consigo me comunicar com o mundo inteiro”.

Os escritores se dão mal, de acordo com Coelho, quando se concentram na forma e não  no conteúdo. “Hoje em dia escritores querem impressionar outros escritores”, ele disse ao jornal. “Um dos livros que causaram maior dano foi Ulysses de James Joyce, que é puro estilo. Não há nada lá. Desmontado, Ulysses é uma idiotice”.

Os livros e romances espirituais de Coelho — cujo último, Manuscrito encontrado em Accra, passa-se na Jerusalém de 1099, prestes a ser atacada por cruzados — já venderam mais de 115 milhões de cópias em mais de 160 países. Ulysses, o romance modernista de Joyce, com 265.000 palavras sobre um dia na vida de Leopold Bloom em Dublin, foi publicado pela primeira vez com uma tiragem de 1.000 exemplares em 1922. Essas primeiras edições pode ser adquiridas hoje ao valor de R$ 320 mil e a existência do livro é comemorada todos os anos e em todo mundo no dia em 16 de Junho, data em que Bloom vagou por Dublin.

Embora Ulysses frequentemente encabece listas de melhores livros, não é raro que o critiquem. Coelho não é o primeiro a criticar obra-prima de Joyce. Roddy Doyle disse em 2004 que duvidava que as pessoas que os colocavam no topo tivessem sido realmente tocadas por ele.

P.S. — Este post só foi possível porque a Caminhante Diurno — que é também a Caminhando por fora — me indicou a matéria no The Guardian.

P.P.S. — Idelber Avelar escreve para mim no twitter, prenhe de razão: há um probleminha de tradução: “stripped down, Ulysses is a twit”. É um TUÏTE, não uma ‘idiotice’. Abraços.

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40 comments / Add your comment below

  1. No link da matéria em inglês o que vale, e me deixou impressionado, são os tantos comentários lúcidos que reafirmam o valor de Ulisses e o macaquismo do Coelho. Convido a que leiam tais comentários. Não é só aqui em seu país de origem que Coelho é tido como uma vergonha de imenso sucesso mercadológico previsível. Nós pouco nos acostumamos com o fato de termos um escrevinhador que vende 100 milhões de livros. Os EUA e a Inglaterra, e a França e a Alemanha, para ficarmos apenas nestes países, os tem aos montes: seus Crepúsculos, Harry Porters (sic?), Barbara Cartlands (sic?), etc. O pouco costume fez com que o Coelho fosse retirado, por exigência pessoal desse autor, do rótulo de literatura de auto-ajuda (o pior tipo de lixo mercadológico que existe, e o nicho incontestável de Coelho), e o redefinissem como romancista. E esse pouco costume faz ainda que Coelho seja levado com alguma seriedade de desafogo quando põe-se a falar sobre literatura. Os tais comentários evidenciam a visão que um público leitor estrangeiro tem de Coelho, a de que Barbara Cartland soa como circense e apiedante quando fala sobre Joyce, Borges, ou qualquer outros dos nomes representativos das letras. Acho que o Brasil é o único país em que uma Barbara Cartland foi aceita por sua Academia de Letras. Imaginem o constrangimento de uma autora do porte de Nelida Piñon sentar-se ao lado de Coelho nas cerimônias do clube, e ouvir uma miséria intelectual dessas sobre Joyce, partindo da boca de quem escreveu coisas do mais sofisticado nível cartlandiano como O Demônio e a Srta. Prymn, e O Alquimista.

    Eu li três publicações de Coelho: a srta Prymn, O Alquimista, e O Diário de um Mago. Ser lixo absoluto e ter o valor de um caderno de rascunhos de um colegial que sabe parcamente o português não é necessariamente um milagre que evidencia os poderes mágicos de alguém que alega fazer chover. Mas para grande parte dos nacionais quando o assunto é Coelho_ que, como não seria diferente, é um mascote da revista Veja, o que já é bastante eloquente por si_, o fato de ser um sucesso o coloca num patamar de excelência literária. Considerando que para a maior parte dos nacionais a leitura é uma excentricidade cansativa e fundamentalmente descartada, fica fácil confundir índices de venda com qualidade artística.

    Uma coisa só, importantíssima, deve-se atribuir como qualidade em Coelho: ele não ser um milagre, mas um estrategista infatigável e que nunca reclamou da vida. Ele é um sucesso de vendas porque trabalhou muito por isso; sua única obre relevante é a biografia. Aprendeu francês para ganhar o mercado da França, estudou e labutou intensamente para se fazer interessante à grande faixa de necessitados de auto-ajuda edulcorada que prolifera pelo mundo. E nisso ele foi inigualavelmente superior a qualquer escritor nacional, que só sabe reclamar e chorar as mágoas de seu fracasso, como recentemente se pode ver em mais um texto inútil da Bensimon no blog da Cia das Letras, sobre patrocínio público ao miserável e famélico (e, esquece-se de dizer, sem absolutamente talento algum) escritor brasileiro. Coelho foi lá e fez.Tenho exemplos e exemplos de outros escritores de outras nacionalidade que também foram lá e fizeram, como V. S. Naipaul, como Paul Auster, como Henry Miller, como GGM.

    É apenas nisso que eu levo a sério e respeito bastante o Coelho: ele nunca chorou mágoas (apesar de um título de um de seus livros), nunca se entregou lamúrias, e sempre viu o mercado das letras da maneira genial certa: a ninguém interessa que um escritor esteja passando fome se este não tem talento a oferecer. Coelho tem talento de sobra em marquetim.

    Agora, as besteiras que ele diz_ que não passam de mais um sinal de sua genialidade em chamar atenção nessa época em que o interesse por seus cadernos colegiais já há muito entrou na bancarrota_ só as escutam e as levam como referências quem tiver tempo para perder. Duvido muito que ele sequer tenha realmente lido Ulisses. (Ah… Coelho dizer essas sandices inofensivas diante alguém que o pudesse colocar à prova.)

      1. Não disse especificamente isso. Mas os que vejo clamando a céu aberto a injustiça do não reconhecimento de suas obras _ a maior parte delas ainda por vir_, falta inclusive uma atitude de auto-promoção razoável. Cuméquechama aquela autora que se acorrentou numa feira cultural, pedindo para ser lida? Isso Coelho jamais faria.

        1. Tá certo. Reli meu comentário e foi isso mesmo que eu disse. Mas fiquei pensando em algum nome recente que me desmentisse, e não achei nenhum.

          Mas a culpa é minha. O único contato que ando tendo com os “jovens talentos das letras brasileiras” é através do blog da Cia das Letras. Há um gritante despropósito nos textos desses autores escritos para tal blog. Constantemente eles clamam preguiça de escrever ali e falta de assunto (como se escrever para o blog fosse uma cláusula contratual). E os textos produzidos são por lá de chatos. Como solução incontornável, eles optam pela metalinguagem, para a polêmica inodora, ou para a gracinha ligeira. Mas, pensando bem, o que eles iriam escrever? Num blog de uma grande empresa como o Cia, escrever sobre política, religião, sexo? Algum falando ali que existem evangélicos demais, ou denunciando a corrupção na política nacional, ou sobre violência contra homossexuais? Não pegaria bem para a lisura politicamente correta de uma empresa. Portanto, o próprio site anula seus autores e dão a seus textos o tom cansado do cavalo acabrestado que não pode sair da linha de conduta. Daí esses romancistas manterem a aparência de bonitinhos, de inofensivos. Do que adianta um escritor inofensivo?

          1. O Charles tem o dom de escrever, escrever, e não escrever praticamente nada. Além disso, é pedante SIM e ainda consegue se contradizer.

            Muito pseudo-critico-especialista-intelectual para o meu gosto.

  2. Eu não consigo ter essa certeza toda sobre Paulo Coelho. Eu acho que a popularidade dele atesta sim alguma qualidade. Podem me dar todas as pesquisas de mercado que eu não conseguirei criar uma obra popular (não consigo nem um blog…). É lugar-comum falar mal de Paulo Coelho, uma maneira rápida e fácil de dar uma de culto. Mas já vi muita gente dos meios universitários confessar – quando não tem nenhum doutor olhando – que adora os livros dele, que acha Paulo Coelho um injustiçado. Sem dúvida, o público dele não é o mesmo de Ulisses. Não acho que exista direção certa na literatura, mas quem sabe exista mesmo uma valorização da forma – ele também não é o extremo do conteúdo. Quem é capaz de ler Ulisses, ou seja, um livro onde quase nada acontece mas tem muita forma, é inteligente, preparado, intelectual, literato. Quem não gosta disso é burro? Alias, Ulisses é outro lugar comum. Difícil é alguém ter coragem de falar mal de livro, ou largar mesmo achando chato. Falo por mim, que ainda não sei o que faço com ele.

    1. Caminhante, tentei ler Paulo Coelho… Mas chega um ponto que não dá.

      Não lembro mais se foi no “O Diário de um Mago” ou no “O Alquimista”, pouco importa, o que quero dizer é o seguinte: lá pelas tantas, já quase no final de uma das obras mencionadas, Mr. Rabbit me sai com uma mais ou menos assim: “não corrigirei os erros gramaticais porque assim o mestre me pediu”.

      Ora, tal atitude com o leitor é duma desfaçatez sem tamanho. Mas esperar o quê? Mr. Rabbit e Raulzito formaram a maior dupla de caras de pau da cultura brasileira: um ficou podre de rico; o outro apodreceu!

        1. ENTRE FRACOS, FRAQUES E FRAUDES
          by Ramiro Conceição
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          Parte I: A SOCIEDADE ALTERNATIVA /1/
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          De acordo com iniciados e entendidos, Raulzito conheceu Mr. Rabbit em 1973. Parece que a “drinving force”, isto é, a força motriz, para tal encontro foi um texto de autoria de Rabbit publicado na renomada revista “A Pomba”. Nasceu daí a parceria que, em pouco tempo, se tornaria referência no cenário cultural brasileiro.
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          À época, Mr. Rabbit era conhecedor do famosíssimo “Sistema Thelêmico de Realização Espiritual” cujas bases teóricas foram formuladas pelo inglês Aleister Crowley, que será abordado mais a seguir.
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          À guisa de conhecimento, deve ser esclarecido que “thelêmico” advém de “thelema” que, em grego, quer dizer vontade; ou seja, se pode afirmar, sem ter aqui excesso de rigor, que o “sistema thelêmico” convoca cada indivíduo ao descobrimento e à realização de sua vontade.
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          Pois bem. No contexto descrito acima, Mr. Rabbit doa seu conhecimento a Raulzito. Parece que são desse período algumas composições que se tornariam conhecidas: “A Maçã”, “Tente Outra Vez” que seriam assinadas por Mr. Rabbit, Rauzito e Marcelo Motta; é também do mesmo período “Novo Aeon” com contribuição autoral de Cláudio Roberto, que viria a ser um ilustre e renomado compositor da música popular brasileira.
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          Ora, não devemos esquecer o que estava acontecendo no Brasil, quando tais mentes estavam a desenvolver seus conhecimentos, ou seja: a ditadura de 1964. Há notícias que Mr. Rabbit, por representar um efetivo perigo ao sistema, foi preso e torturado nos meandros escuros do exército brasileiro. Não querendo polemizar, e admitindo que tal fato tenha acontecido, devemos sempre tirar lições da História, como sempre defendeu e ensinou o velho Marx. Quer dizer, se tal fato foi verdadeiro, então, essa é a prova cabal que a “ditabranda”, instalada no país, além de bruta foi burra, pois o perigo efetivo que Mr. Rabbit representava, à ordem estabelecida, tinha a mesma dimensão e profundidade, por exemplo, do Pato Donald refletindo e discutindo diante das massas o “O que Fazer?” de Lenin.
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          Creio que, do exposto, está às claras os alicerces sob os quais a “Sociedade Alternativa” foi construída. Portanto, por questão metodológica devemos passar agora aos fundamentos teóricos do “Sistema Thelêmico de Realização Espiritual”.
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          Parte II: ALEISTER CROWLEY, O MAGO DE MIL FACES /2/
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          Para compreender a complexidade filosófica descrita anteriormente, faz-se necessário responder uma pergunta: quem foi Aleister Crowley?
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          Resumidamente. Edward Alexander Crowley, foi um inglês que viveu nas primeiras décadas do século passado. Na Inglaterra foi conhecido por diversos epítetos: Allick; Anticristo; Bruxo de Thelema; Conde Vladimir; Diabo; Lord Bolekine; 666; O Mago de Mil Faces e outros.
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          Crowley foi um “amador’ de três atividades: foi alpinista; jogador de xadrez; e chegado à magia negra. Crowley era uma megalomanico inventerado, na psicanálise seria um doente sob um paroxismo de onipotência: se julgava ser a reencarnação de Edward Kelly, astrólogo da rainha Isabel I, que viveu no século XVI; tinha alucinações de profeta: cria, por exemplo, que a irmã de um de seus amigos era a Dama Escarlate, que é descrita no Apocalipse; acreditava ser também a última encarnação do conde Alessandro di Cagliostro, fundador, em Viena, da Ordem Maçonica Egípcia. (Paro por aqui, para não me alongar sobre tal insanidade!…).
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          Devo relatar que, não por culto à vontade individual mas por impulso à verdade coletiva, durante a vida desse tal “mago”, aconteceram coisas pitorescas. Por exemplo: por ser chegado ao álcool, às orgias e às drogas (cocaína, heroína e mescalina) teve influência sobre Aldous Huxley que, no período referido, escreveu “Céu e Inferno” e “As portas da percepção”.
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          Aproximando-se de nossa cultura ibérica, deve ser mencionado que o tal “mago” conheceu também o nosso Fernando Pessoa. Como sabemos, o nosso grande poeta foi um esotérico, mais precisamente um astrólogo. Pois bem, Pessoa descobriu um erro na carta astrológica de Crowley e, por ser fluente em inglês, enviou uma correspondência ao dito “mago”, que era editor e proprietário da “Mandrake Press”. Obviamente, o mandrake inglês se mostrou interessadíssimo e propôs um encontro. Nosso mago desembarca em Lisboa em 2/9/1930. Por aproximadamente, 20 dias, o mandrake se hospeda em dois hotéis: no “L’Europe” e no “Paris”. Finalmente, o encontro se dá em 7 de setembro (juro!!!). Palavras vão, palvrasm vem…: Pessoa, se sente seduzido pela acompanhante do dito cujo, uma tal de Harini Larissa. Caminhando, rapidamente ao final desse texto: em 25/9/ 1930,
          Nosso mandrake desaparece de Lisboa, não pagando nenhum dos hóteis utilizados; surge um boato de suicídio, nunca claramente escarecido, mas que fica desvendado numa carta de Pessoa a Gaspar Simões( em 1/11/1931): “ Crowley, depois de se suicidar, passou a residir na Alemanha” (o nosso mandrake, na verdade, era um foragido dos credores da falida “Mandrke Press”, na Inglaterra)!!!
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          Após diversos estelionatos culturais na Alemanha, o mandrake de mil faces volta ao Reino Unido, onde até o seu fim, já sem nenhum amigo, vive de bicos: feitura de horóscopos; vende pílulas de um elixir da vida, que são fabricadas com seu sêmem. Nosso mandrake morre em Hastings e dizem que suas últimas palvras foram: “eu estou perplexo”! Qualquer verossimilhança com o trágico fim de um certo roqueiro, que no fundo, no fundo, desejou sempre ser um previsível elvispresleybrasileiro, foi itencional!.
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          Será que fui claro, ou ainda é preciso rabiscar volpianas bandeirolas coloridas?
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          PS: Volpi foi um magistral pintor, para que não reste qualquer dúvida.
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          Referências
          /1/ Diversas fontes na rede: é só digitar no Google “ Paulo Coelho e Raul Seixas” e ler paciente e paulatinamente.
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          /2/ José Paulo Cavalcanti Filho. “Fernando Pessoa, uma quase autobiografia”. Editora Record Ltda, pp 519-526. 2011.

    2. Caminhante, apesar de nunca ter me dirigido a você, acompanho os seus textos e comentários tanto no blog do Milton quanto no blog do Charlles. Entendo o que você quis dizer. Mas é que o Paulo Coelho é daquele tipo de literatura que, quando colocada sobre o fogo, nada resta. Há “livros-pedra”; há livros cuja matéria resiste a maiores provas; e ainda há os “livros-palha”. Estes últimos quando colocados sobre as chamas do escrutínio de uma boa crítica, não resistem. E os livros do Mago se inscrevem nessa última categoria. O que é essencial em um livro de literatura? Talvez Paulo Coelho nunca tenha feito essa pergunta de maneira séria , pois se tivesse feito, não escreveria aqueles “livros-capim”; nem tão menos diria que Ulisses é uma “idiotice”, afirmação repleta de ecos do marketing. Certa vez, decidi dá uma chance ao Paulo Coelho. Comecei a leitura de ” O Alquimista”. Não cheguei à metade da obra. Entendi que se quisesse saber de “espiritualismo masdeísta”, que eu procurasse um astrólogo. Que eu lesse aquela parte do jornal que fala sobre áries, touro, câncer, leão etc.

      Abraços gerais!

      1. Obrigada, Carlinus. É difícil me colocar numa posição de defensora se nem eu mesma sou fã. Li O Diário de um Mago e o Alquimista lá pela época que eles foram lançados, ou seja, faz bem uns vinte anos. Era uma adolescente e gostei dos dois. O que me irrita é a postura “não li e não gostei” com relação a Paulo Coelho, dita por muita gente que nem ao menos tem o hábito de ler, ou lê coisas muito piores. Assim como há o “Ulisses, grande livro!” de quem nunca abriu um exemplar ou passou das dez primeiras páginas. São saídas fáceis. Por trás das críticas ao Paulo Coelho há um discurso elitista, que coloca no mesmo saco leitores de Paulo Coelho como místicos/ burros e incultos que também não é verdadeiro. Enfim, nessa discussão sobre Paulo Coelho há muito mais do que apenas livros.

  3. Bem, Caminhante. Certa vez, eu ouvi um professor de literatura lendo e criticando um livro de Paulo Coelho. A ruindade era inequívoca, indiscutível. Os exemplos eram de todo gênero.

    Ademais minha irmã e a Claudia já leram e aconselham que se fuja dele.

    Porém, é claro que é um produto bem sucedido. Tem seu público, assim como o sertanejo universitário tem. Eu tenho certeza que não devo defendê-lo como vítima de uma injustiça da crítica. Certeza.

    Bj.

    1. Eu também tenho essa certeza, Milton. E mais, sinceramente, não conheço, entre os leitores de um certo nível_mesmo mediano_ de exigência, que goste de Paulo Coelho. Ele, sem mistério ou pose algum, é muito, mas muito ruim mesmo. E eu, apesar de gostar de Ulisses e essas trolhas toda, adoro também romances de gênero e best-sellers de qualidade. Esses dias estava contando nos dedos, por pura distração, quantos livros eu li do Stephen King, e a soma total foi 22 livros. Li mais de King que li de Philip Roth ou William Faulkner. Não tenho absolutamente nada contra literatura de consumo rápido, mas mesmo aqui tem-se um grau de qualidade. Por exemplo, eu gosto pra caramba do mestre do Coelho, o Carlos Castañeda. Seria capaz de fazer uma monografia ortodoxa desse cara. Gostei de Sidney Sheldon (não há romance melhor que Se Houver Amanhã_ assim como Aldous Huxley em certa entrevista confessou que daria tudo para ter escrito O Conde de Monte Cristo), e já li muita coisa obsoleta e mal vista, que gosto. Mas Coelho é ruim de doer. Ele não sabe articular as mais prosaicas ideias.

      E não vou por essa linha de raciocínio da Caminhante de que deva haver alguma qualidade em quem vende tanto. Grande parte do gosto da humanidade é medíocre ou abaixo da mediocridade. Um amigo meu diz que nada há de incrível em alguém como Coelho vender tanto_ ou alguém que, olha só a gradação em tudo, deve ser ainda pior que Coelho, que é o Marcelo Rossi_, o incrível mesmo é que Javier Marías venda 5 milhões de exemplares, ou o Ulisses, em suas traduções brasileiras, apareça nas listas dos mais vendidos.

      Bom, se preferir Ulisses a Paulo Coelho é coisa de pose intelectual e esnobismo, então eu sou um poser perpétuo e muito bem assumido, e um esnobe de primeira, sem a mínima culpa na consciência.

      E é uma grande falácia dizer que não acontece nada em Ulisses.

      1. Roddy Doyle é um cara que respeito. Li dele o delicioso “O Furgão”, e o romance joyceano com o qual ele ganhou o Booker Prize “Paddy Clarke Ha Ha Ha” (esse, um dos poucos que li em inglês, por ter sido presente de um amigo que o comprou na Irlanda). Opiniões como a de Doyle mostram intimidade e respeito à obra de Joyce, daí então são válidas. Eu não concordo de modo algum com ele, ou quem diz que Ulisses deveria ter sido editado para ser melhor. É como propor editar o Guernica para um quadro sucinto apenas com o rosto do cavalo em pânico; ou reduzir as sinfonias de Mahler para canções básicas e imediatamente reconhecíveis. Em nenhum outro campo da arte há essa exigência descompassada de “cortar” mais que na literatura; como se houvesse uma indústria do gosto que dogmatizasse sobre isso. E é por isso que, propositadamente, Joyce e Pynchon escreveram abusivamente, excessivamente, com toques enganosos de gratuidade. Deve-se parar de pensar que Joyce era um idiota. Ele tinha uma inteligência bem acima da média e mesma acima da genialidade. Não era alguém que se enganasse tão superficialmente em seus propósitos.

        1. Esses são os espaços significativos mais valiosos. Um exemplo claro disso é a obra de Shakespeare: o que importa nela não são a violência e os lances mirabolantes e inesperados, mas a lucidez e a palavra perfeita do autor, sua grande carga de beleza e poesia. Acontecer algo em Ulisses é isso.

          Mas do ponto de valorização norte-americano (tendo em conceito o excesso de distração do cinema americano), Ulisses é bem movimentado. Tem uma trapaça anunciada na Torre Martel, um enterro misterioso, infidelidade, aventuras sexuais, uma viagem alucinógena, diversas cenas dublinescas narradas em variados estilos literários, o relembramento cômico da história da humanidade, uma variada gama de percepções da física quântica, uma bebedeira homérica em que se vaga pelas ruas de Dublin de madrugada. E muita, mas muita coisa mais. Ulisses deve ser, literalmente, o romance mais movimentado da história.

          Oposto de, vamos dizer, Diário de um Mago, em que se começa com um ritual insosso em que uma espada é colocada na testa do mago, e depois disso é só uma interminável e estúpida viagem católica pelo caminho de Santiago. Tédio e tédio asboluto. Ou O Alquimista, que é só lombo de camelo e um orientalismo dos mais canhestros.

          (E olha que há muito o que se dizer do Caminho de Compostela, basta ler o livro de viagem sobre isso de Cees Nooteboom.)

  4. Bom, eu não li nem Ulysses nem Paulo Coelho, então estou caindo aqui de paraquedas, falando apenas sobre o que pude tirar da entrevista.

    Coelho critica a ênfase sobre a forma. Eu pensava assim nos tempos de colégio, mas hoje mudei de ideia. Tanto forma quanto conteúdo são importantes na constituição de uma obra de arte, e cada obra deve ser julgada individualmente. A própria música erudita é baseada na forma.

    Já aprendi que não dá para tirar conclusões precipitadas baseado numa matéria de imprensa, onde as falas do entrevistado podem ser editadas de modo a dizer o que o escritor da matéria quer que diga. Feita essa ressalva, acho que o Coelho revelado pela matéria é bem arrogante.

  5. Só pra chatear um pouco. Jorge Luis Borges: “Como um homem com talento puramente verbal, como Joyce, não compreendeu que o que não devia escrever era um romance? Tomara que a fama de Joyce passe, porque na verdade é uma calamidade: idiotiza os escritores e ainda os leva a imitações lamentáveis. Muitas vezes me é impossível dialogar, por causa dos elogios a Ulysses e a Finnegans que meus interlocutores fazem, e principalmente pela calma certeza deles de que compartilho seu entusiasmo… E por que essas mesmas pessoas que admiram o Ulysses admiram esses contos sentimentais e estúpidos de Dubliners?”.

    1. Pois é. O Borges era um provocador. É um romance, sem dúvida, mas Borges usa com inteligência a afirmativa de Joyce de que nunca tinha construído um argumento. E Joyce completa: “Nem eu nem Shakespeare, que os roubava”.

    2. Não duvido do excerto, mas deveria mencionar a página e o nome da fonte. Nunca li este trecho nas obras completas de Borges, lançada pela Globo por aqui (sei, sei, não são completas e tal). Há uma resenha rápida sobre o “work in progress” de Joyce, em que Borges, com absoluta razão, diz que Finnegans é uma merda, um “câncer da linguagem”. Mas há outras menções a Joyce, especificamente a Ulisses, em que ele diz ter ali uma força só comparada a Shakespeare.

      Em outro ensaio curto_ se não me engano, referente a um romance de H.G.Wells_, Borges diz que tentou ler Madame Bovary e Os Irmãos Karamazov, mas desistiu por os achar chatos pra cacete_ sem que essa fosse a palavra, claro.

      1. Esse trecho e o outro estão em “Borges”, o diário de Adolfo Bioy Casares, editora Destino. Achei interessante, traduzi, guardei. Quando eu reler as 1663 páginas do livro, juro, vou anotar o lugar exato.

  6. Trecho do filme “Amante Latino” (1979) com Sidney Magal
    Roteiro: Paulo Coelho (antes de virar mago)
    Isto também não é uma “idiotice” também ?

  7. Borges tinha uma certa implicância com Joyce, é verdade, mas fez observações argutas, como “Pensem nos principais romances de nossa época — digamos, o Ulisses de Joyce. Ficamos sabendo de mil coisas sobre os dois personagens, porém não os conhecemos. Sabemos mais sobre os personagens de Dante ou de Shakespeare, que nos vêm — que vivem e morrem — em umas poucas frases. Desconhecemos mil circunstâncias sobre eles, mas os conhecemos intimamente. Isso, claro, é muito mais importante”. Quanto ao Coelho, não entendi o que ele quis dizer. Se você pode separar forma de conteúdo, não estamos mais tratando de literatura, não é mesmo?

    1. Certa feita, discuntindo com o Charlles em seu blog sobre o Ulisses, escrevi: a principal personagem no livro de Joyce é a linguagem.

      Minha maior crítica ao Ulisses é que parece, no seio de meu gosto estético, existir um excesso de valor dado à forma relativamente ao conteúdo.

      Após a leitura, fiquei com a sensação de que o livro poderia ser menor: muitos e muitos parágrafos poderiam ser excluídos sem que a obra perdesse qualidade.

      Bem, isso é uma questão de estética, portanto alguém pode considerar que seja o contrário. Quer dizer, parece ser uma discussão interminável…

      PS: os capítulos que mais admirei foram dois: o 17, pelo método dialético de perguntas e respostas; e o 18, pelo sucesso de expressar pela linguagem o fluxo da consciência de uma personagem (Molly).

  8. A equação é simples, de alguma forma, infelizmente, Paulo Coelho conheceu um certo auge da fama literária, sim, apesar de desprezado por qualquer leitor razoavelzinho ele é lido em todo o mundo. E pior, recebe alguns prêmios importantes em termos de literatura, é convidado no exterior para representar a literatura brasileira – o que é algo grandioso, afinal, é a tradição de Machado de Assis e Guimarães Rosa – etc. Mas ele sabe que é uma farsa, tem plena consciência de sua mediocridade e que sua fama é apenas um jogo bem acertado do velho marketing. Resumo da ópera: Paulo Coelho vive num olimpo fantasioso, seu esquecimento será tão rápido quanto o nascimento da geração que vier em seguida a sua morte. Isso deve ser doloroso, é uma contradição intensa. E isso tende a torna-lo ressentido com todo e qualquer escritor autêntico. É um homem ressentido, e um burguês vitorioso.

  9. Coelho não tem conteúdo e Joyce valoriza demais a forma. Nada contra quem gosta. Pessoalmente, não sou fã de nenhum dos dois. Prefiro Dostoiévski, Goethe, Hesse, Kafka, etc. Ou seja, o basicão mesmo.

  10. Foi Gene Hackman que disse dos filmes de Eric Rohmer, nos quais supostamente nada acontece: “É como ver tinta secar”. Esse perrengue entre obras-primas eleitas pela crítica e bestsellers eleitos pelo público está no que CS Lewis escreveu no pequeno pero cumpridor “Um experimento na crítica literária”. Ele sugere cinco características do leitor literariamente iletrado, e cito três delas aqui:
    1- Ele nunca, a não ser que seja obrigado, lê algo que não seja narrativo.
    2 – Ele só lê com os olhos e não com os ouvidos: “as mais horrendas cacofonias e as mais perfeitas espécies de ritmo e melodias vocálicas são para ele a mesma coisa. É desse modo que descobrimos algumas pessoas de educação elevada literariamente iletradas”.
    3- Ele não tem consciência de estilo, ou mesmo prefere livros que deveríamos considerar mal escritos.

    Ainda CS Lewis (p. 31-32): “assim como o ouvinte não musical quer apenas a Melodia, o leitor literariamente iletrado quer apenas o Acontecimento. Um ignora praticamente todos os sons que a orquestra está realmente produzindo; quer cantarolar a melodia. O outro ignora praticamente tudo o que as palavras diante de seus olhos estão criando; quer saber o que vai acontecer em seguida”.

    Não li Ulysses e nem Paulo Coelho. O primeiro, não ainda. O segundo, não dá mais. Poderia ter lido quando lia Sidney Sheldon e Ken Follett na juventude.

    1. Estou de pleno acordo, li Ulisses e não entendi nada, não diverti nada e gostaria que alguém me explicasse o que Jayme Joyce quis dizer com uma obra daquele tamanho e com tanta besteira dentro dela, haja paciência !

    1. Mais uma vez as generalizações de Idelber em seu blog Outro Olhar: depois de ter comparado Cortázar a Éotchan e Harry Potter, e depois de dizer bem do defunto chamando Vando de gênio, agora põe-se a defender Coelho e dizer que é puro esnobismo da pretensa elite nacional “defender” Ulisses. Torço para que chegue logo a campanha política de 2014, só assim ele se concentrará em outro assunto.

  11. Os leitores de Coelho, Sheldon, Rowling e congêneres costuma ganhar da alta crítica a nobre pecha de ignorantes e filisteus. Aí alguém critica a “Muralha da China” de Joyce e lá vem a intelectuália para execrar tal blasfêmia à sacrossanta opera prima. “Eles” filisteus, “nós”, fariseus.

    Coelho reclama que o Ulysses cabe num tuíte. Então “O Alquimista” cabe numa onomatopeia? Pum? Cataploft?

    Além disso, qualquer coisa pode ser resumida num tuíte. até os discursos do Fidel. Eu fiz isso com filmes numa brincadeira com amigos:
    – Tempos modernos:
    Cinema é preciso; falar não é preciso.
    – Um corpo que cai:
    Para Hitchcock, cair do telhado é menos perigoso que cair de paixão.
    – Casablanca:
    Play it forever, Sam.
    – O Passageiro: profissão repórter
    O cinema é ilusão. O amor é ilusão. Antonioni, não.
    – Apocalypse now
    Mais louco é quem me diz que Coppola não é um louco feliz.
    – Era uma vez no oeste
    Melodia Morricone, closes de Leone, Cardinales bonitas; eu vou.
    – O último tango em Paris
    A mulher só é solidária no tango.
    – Nós que nos amávamos tanto
    A mulher infeliz e seus três tristes tigres.
    – O acossado
    Ai daquele que abandonou a revolução: enfraqueceu das idéias e tirou a câmera da mão.
    – Amarcord
    ‘Eu me lembro’. Quando esqueço, assisto de novo.
    – O discreto charme da burguesia
    De que vale ganhar o mundo e perder o jantar?

    PS: Milton, há uns 4 ou 5 anos o mago chato do Coelho já tinha dito que Ingmar Bergman era um chato. Isso é o que dá vender 140 milhões de livros em 25 anos?

    1. E Jôezer, não nos devemos esquecer que Mr.Rabbit, de tanto fazer vento e chover, agora voa de jatinho particular…
      .
      Portanto:
      muito melhor, que fomentar criaturas com abecedário, é criar cavalgaduras e otários!

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