Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (I)

Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (I)

Ele entra esbaforido na livraria e pede o livro ‘O Aleph’.

— Sim, temos. E entrego para ele o livrinho preto da Companhia das Letras.

Ele me olha confuso. Gira e gira o livro entre as mãos e diz que o livro que quer é de outro autor brasileiro que não aquele Jorge Luis Borges.

Deixo passar livre a nacionalidade do autor e lhe respondo que não sei de outro Aleph.

— O livro que eu quero tem uma mulher nua dentro d`água na capa. Tem também um raio de sol por trás. É uma capa bonita, não é simplesinha como esta.

Tento visualizar tal capa — ela não é nada borgeana — e lembro:

— Ah, existe um Aleph de Paulo Coelho!

— ISSO! É este que eu quero!

— Ah, pena. Este não temos…

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Paulo Coelho: Ulysses, de James Joyce, é "prejudicial" para a literatura (bem que eu desconfiava)

Não posso dizer que lamentei esta matéria. Ao contrário. Por admirar Jorge Luis Borges, Paul Rabbit já escreveu livros com os títulos de O Aleph e O Zahir. Acho que ele jamais escreverá sua versão de Ulysses. Que bom!

Traduzido livremente por mim, do The Guardian

Escritor brasileiro descarta clássico modernista sobre um dia da vida de Leopold Bloom. Chama-o de “puro estilo”

Paulo Coelho põe no lixo o Ulysses, de James Joyce. "Não há nada lá".

Ulysses, de James Joyce, tem vencido enquetes e mais enquetes como o maior romance do século 20, mas, segundo Paulo Coelho, o livro é “uma idiotice”.

Antes, porém, falou de si ao jornal brasileiro Folha de S. Paulo. Coelho disse que o motivo de sua popularidade é o de ser “um escritor moderno, apesar do que dizem os críticos”. Isto não significa que seus livros sejam experimentais, acrescentou — sim, “eu sou moderno porque faço o difícil parecer fácil e então eu consigo me comunicar com o mundo inteiro”.

Os escritores se dão mal, de acordo com Coelho, quando se concentram na forma e não  no conteúdo. “Hoje em dia escritores querem impressionar outros escritores”, ele disse ao jornal. “Um dos livros que causaram maior dano foi Ulysses de James Joyce, que é puro estilo. Não há nada lá. Desmontado, Ulysses é uma idiotice”.

Os livros e romances espirituais de Coelho — cujo último, Manuscrito encontrado em Accra, passa-se na Jerusalém de 1099, prestes a ser atacada por cruzados — já venderam mais de 115 milhões de cópias em mais de 160 países. Ulysses, o romance modernista de Joyce, com 265.000 palavras sobre um dia na vida de Leopold Bloom em Dublin, foi publicado pela primeira vez com uma tiragem de 1.000 exemplares em 1922. Essas primeiras edições pode ser adquiridas hoje ao valor de R$ 320 mil e a existência do livro é comemorada todos os anos e em todo mundo no dia em 16 de Junho, data em que Bloom vagou por Dublin.

Embora Ulysses frequentemente encabece listas de melhores livros, não é raro que o critiquem. Coelho não é o primeiro a criticar obra-prima de Joyce. Roddy Doyle disse em 2004 que duvidava que as pessoas que os colocavam no topo tivessem sido realmente tocadas por ele.

P.S. — Este post só foi possível porque a Caminhante Diurno — que é também a Caminhando por fora — me indicou a matéria no The Guardian.

P.P.S. — Idelber Avelar escreve para mim no twitter, prenhe de razão: há um probleminha de tradução: “stripped down, Ulysses is a twit”. É um TUÏTE, não uma ‘idiotice’. Abraços.

Atenção, O Aleph agora é de Paulo Coelho!

Que coisa triste! O mais influente (…) escritor (?) brasileiro (argh!) vai lançar em julho seu próximo livro, chamado singelamente O Aleph. Com isso, penso que Paulo Coelho procure agregar à sua obra a grife de Jorge Luis Borges, autor de um importantíssimo volume de contos chamado casualmente de El Aleph ou O Aleph. Coincidência?

O que a eternidade é para o tempo, o Aleph é para o espaço, dizia Borges (1899-1986). Para Paulo Coelho, o Aleph é um ponto que contém todo o universo e que nos transporta a outra dimensão, em busca de uma resposta. Na obra, o autor descerverá uma grave crise de fé, o que faz buscar — talvez no pontinho-tudo — o caminho da renovação e do crescimento. Notável.

Apesar do Aleph ser um ponto, o autor espertamente visitou a Europa, a África e a Ásia em plena crise, sempre na desesperada busca de si mesmo. Ou do Aleph. Nesta viagem, seguiu a recomendação de J., seu mestre espiritual: “Está na hora de sair daqui, reconquistar seu reino”. E o autor foi, talvez de TAM.

— Às vezes, é necessário deslocar-se de si próprio para localizar seus próprios passos em outros lugares terrenos e espirituais.

Interessante. Não sabemos se Paul Rabbit levou o pontinho na viagem ou acabou esbarrando com ele por aí. Os argentinos vão adorar a confusão que Rabbit criará no Google, misturando-se à Borges. Vou parar por aqui a fim de revisar meu livro de contos: Ficcciones.