Sobre Nietzsche e “O Cavalo de Turim”, obra-prima de Béla Tarr

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Philip Gastal Mayer escreveu o que segue em seu Facebook. E me mandou ler, escrevendo apenas Milton Ribeiro. Maiores detalhes sobre o filme aqui. O Philip, além de bom amigo e excelente violoncelista da Ospa, é um grande leitor de Nietzsche e chega matando a pau.

Elena Romanov, esse é o trecho que te falei do eterno retorno de Nietzsche, é do livro “A Gaia Ciência”, foi o que me veio à cabeça quando assisti o filme:

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?” – F. Nietzsche

Reduzindo as proporções todas, podemos dizer que o filme é a citação de uma forma ainda mais artística. Meus amigos

Cena de "O cavalo de Turim" | Clique para ampliar
Cena de “O cavalo de Turim” | Clique para ampliar

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5 comments / Add your comment below

  1. O eterno retorno é um dilema no pensamento de Nietzsche. Eu prefiro entender essa “teoria” como um símbolo para não desperdiçar-se a vida, para vivê-la intensamente do ponto de vista libertário, amoral (ou em busca de uma nova e real moral superior). Como simples explicação cósmica de que a agulha vai estar retornando infinitamente ao começo do vinil parece-me algo de uma tacanhez tremenda: é muito mais difícil acreditar num propósito demoníaco destes do que na existência de Deus. Minha leitura de Nietzsche é particular (há um excerto lindo de Proust, no volume dois de seu grande romance, em que ele escreve sobre o descompasso dos grandes gênios da humanidade ao tempo em que ele viveu, não serem compreendidos, e etc_ Proust usa como referência seus muito amados últimos quartetos de Beethoven, mas creio que aqui se encaixa esse “ao pé da letra” que alguma pessoas usam para entender o muito avançado Nietzsche), não o vejo como ateu, ou por esse prisma reducionista de que “matou deus”. Se ele se angustiou diante a “visão” que teve em Alsácia-Lorenna, de que a vida era uma gratuidade de crueldade inenarrável que estava programada para sempre retornar imutável, o simples ardil da impossibilidade de redenção e de escapatória revela um acompanhamento deísta da vida em negativo, por um deus-demônio cuja única importância por sobre sua criação é a de um desprezo não de todo indiferente, mas voltado para o sofrimento masoquista do eterno retorno. Convenciona-se entender que a sífilis já atingia seu estágio neurológico quando Niet sucumbiu à literalidade dessa ideia _ o sempre antagonista de si mesmo Niet, que pregava a castidade como manutenção das forças espirituais e morreu de doença venérea, e que combatia todas as morais mas era o maior de todos os moralistas, que negava deus mas era um mística sinfônico que intuía uma grandeza da existência que não coadunava com o nada_, mas a Gaia Ciência, minha obra preferida dele, foi escrita no auge de sua atividade intelectual.

  2. Eu nunca entendi o fascínio desta ideia besta do eterno retorno. Se tudo se repete do mesmo jeitim mesmo mesmo, então como saberemos que está repetindo? E se não sabemos, e daí então? Mas se sabemos ou “algo” sabe, um algo metafísico imutável acompanha tudo, então é mentira, nada se repete, cada vez é uma única vez pois está lá um ser supremo ou qq coisa que está computando as coisas, está sabendo que as coisas se repetem.
    Concordo com o Charles, só vale essa ideia se for uma admoestação para se viver mais intensamente.

    1. SOB OS FIOS DO BIGODE
      by Ramiro Conceição
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      Há muito a teoria do Eterno Retorno do Bigode me deixa descabelado. Pois, se verdadeira, ter-se-ia de admitir que o Universo é um sistema fechado, isto é, constituído de eventos finitos e, consequentemente, no tempo, tais finitos se repetiriam indefinidamente. Todavia, a 2ª Lei da Termodinâmica, que parece verdadeira, afirma que a entropia está aumentando, ou seja, no seio do Universo estão a ocorrer processos irreversíveis, quer dizer, uma parte da energia está se perdendo de maneira dispersiva, não recuperável. Parece não haver dúvida científica que o Universo, que conhecemos, está em expansão: as galáxias estão a se distanciar em velocidades cada vez maiores, portanto, aceitar o eterno retorno e, ao mesmo tempo, admitir como verdadeiros os dados científicos conhecidos só pode acarretar em reflexões aparentemente paradoxais.
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      Por outro lado, há físicos defensores da teoria dos “buracos de minhoca”, isto é, não há um único universo, mas infinitos, paralelos e conectados. Se tal modelo representa algo que possa ser verdadeiro, então, fico ainda mais descabelado, pois admitindo o princípio de Le Châtelier que afirma, resumidamente: num dado sistema sob análise, se uma propriedade fundamental do mesmo apresenta um específico comportamento, então, necessariamente, há outra que apresenta um comportamento ao contrário.
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      Exemplificando: consideremos o seguinte equilíbrio químico, C(sólido) + CO2(gás) = 2CO(gás), se o referido equilíbrio for deslocado à direta, formação de CO, então está a ocorrer uma expansão porque um mol de CO2 está a gerar dois mols de CO (estou a utilizar a nomenclatura mol e mols porque estou admitindo que mol seja abreviatura de molécula em alemão). Logo, por Le Châtelier, a formação de CO será favorecida se ocorrer a diminuição da pressão total do sistema, ou seja, a pressão e o volume se apresentam de maneira antagônica. O mesmo raciocínio é válido à formação de CO2, isto é, uma contração, que é favorecida pelo aumento da pressão total do sistema.
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      Agora, considerando válido Le Châtelier e voltando a 2ª Lei e a teoria dos buracos de minhoca, que interligam universos paralelos: se o nosso universo conhecido está em expansão necessariamente algum lugar deve estar sofrendo uma fenomenologia contrária, isto é, uma contração. Em outras palavras, o nosso universo está a sofrer a expansão gerada pelo “nosso” big-bang, enquanto em outro lugar, ou lugares, estão sob contração à geração de “outros” futuros big-bangs. Se tal argumentação representar alguma forma de realidade, então, a teoria do Eterno Retorno do Bigode começa a fazer sentido…
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      Bem meus caros, e nesse metafísico estado masturbatório que me encontro, quando volto a pensar no velho Bigode.

      1. Bem, depois de tais reflexões “bigodianas”,
        só me resta deixar aqui alguns bigodes…
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        NIETZSCHEANAS
        by Ramiro conceição
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        VIDRO

        À frente do bêbado a cair,
        sinto uma vontade de rir,
        pois ele sempre se levanta.
        Porém morro de medo;
        se cair estarei perdido.
        Sou inteiro… de vidro.
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        FILOSOFIA & POESIA

        Disse o filósofo ao poeta:
        “suas palavras precisam de ritmo,
        são incapazes de andar sozinhas”.

        Disse o poeta ao filósofo:
        “suas ideias arrastam correntes,
        não têm a leveza das dançarinas”.
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        FECHADO OU ABERTO?

        Me diz, amor,
        se o universo é fechado
        porque se assim for
        seremos eternizados.

        Por outro lado, se aberto,
        o nosso tempo é pouco.
        Logo, ingênuo, em brotos
        é o nosso amor… maroto.
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        PS: amanhã, 11.07.13, parece que aqui, em Vitória, vai ter greve geral.
        Eu? Tô fora!!!!!!!!!!!!!!!! Ficarei em casa, pela simples razão que perdi
        o meu direito de ir e vir… Ao menos, disso tudo, comprovarei na prática
        que o livre-arbítrio é uma falácia, que há muito bem sei. Então, o que
        resta? Vou fazer lições de casa, pois tenho muito que aprender ainda….

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