Hoje, os 70 anos de Joni Mitchell

Claro que hoje são os 100 de Camus, mas disso todo mundo falou. Já de Joni…

A música é The Dry Cleaner From Des Moines e o incrível baixista que a acompanha é, sim, Jaco Pastorius. No sax, Michael Brecker; Don Alias na bateria. A letra é de Joni, sobre a música monumental de Charlie Mingus. Excelente compositora, cantora maior.

The Dry Cleaner From Des Moines

I’m down to a roll of dimes
I’m stalking the slot that’s hot
I keep hearing bells all around me
Jingling in the lucky jackpots
They keep you tantalized
They keep you reaching for your wallet
Here in fools’ paradise

I talked to a cat from Des Moines
He said he ran a cleaning plant
That cat was clanking with coin
Well he must have had a genie in a lamp
‘cause every time I dropped a dime I blew it
He kept ringing bells
Nothing to it!

He got three oranges
Three lemons
Three cherries
Three plums
I’m losing my taste for fruit
Watching the dry cleaner do it
Like Midas in a polyester suit
It’s all luck!
It’s just luck!
You get a little lucky and you make a little money!

I followed him down the strip
He picked out a booth at Circus Circus
where the cowgirls fill the room
With their big balloons
The cleaner was pitching with purpose!
He had Dinos and Pooh Bears
And lions pink and blue there
He couldn’t lose there!

Des Moines was stacking the chips
Raking off the tables
Ringing the bandit’s bells
This is a story that’s a drag to tell
(In some ways)
Since I lost every dime
I laid on the line
But the cleaner from Des Moines
Could put a coin
In the door of a John
And get twenty for one
It’s just luck!

37 comments / Add your comment below

  1. Já ouviu a versão de The Dry Cleaner From Des Moines com a Joni Mitchell e o Wayne Shorter no sax? Muito boa também. Não me recordo se o Shorter já estava no Weather Report quando dessa versão. De toda forma ela pode ser encontrada na coletânea Footprints, aquela que traz as grandes composições de Shorter de sua longa carreira (como sideman no Jazz Messengers, como maior compositor do maior Quinteto do Miles, no Weather Report, nas suas parcerias com o Hancock, etc).
    Joni Mitchell fez versões memoráveis das composições do Mingus. A minha preferida é a sua interpretação de Goodbie Pork Pie Hat, música em homenagem ao saxofonista Lester Young.

      1. Um jazzista que não morre antes dos 60 não tem a mínima dignidade.

        Brincadeira: temos aí o Dave Brubeck, o Dexter Gordon, o Jimmy Cobb e uma cambada.

        Gosto muito do Shorter também, mas todos nós sabemos qual foi o quinteto maior do Miles, e o maior da história.

        1. Se essa discussão fosse um jogo de Super Trunfo eu ganhava.
          Miles = Miles (trumpete)
          Hancock > Red Garland (piano)
          Toni Williams >> Philly Joe Jones (bateria)
          Ron Carter >> Paul Chambers (baixo)
          Wayne Shorter = John Coltrane (sax)

          1. Nunca Shorter é equiparável a Coltrane. Não se tem nem bases para comparação. Shorter é_ sempre me vem esse conceito quando escuto Nefertiti e aquela sequência de realmente ótimos álbuns_ “estruturalista”, ele faz lentos solos matemáticos, tendendo mais a Thelonious Monk, aquelas linhas subitamente quebradas, uma música atmosférica em que parece que se está montando um quebra cabeças de peças pesadas (exemplo: “Feio”, do Bitches Brew). Ele não tem aquela chama no rastro de pólvora dos exorcizantes solos do Coltrane, e é por isso que Coltrane formava o contra ponto perfeito a Miles (o fogo e o gelo, como diziam). Shorter é parecido com Miles, nessa formação lenta a às vezes (no caso de Shorter), excessivamente cerebral.

          2. E você está trapaceando: o pianista do insuperável Kind of Blue é ninguém menos que o segundo maior de todos os tempos: Bill Evans.

            Eu acho Philly Joe Jones maior que Tony Williams.

          3. Concordo com tudo o que você disse acima. Excetuando-se o adjetivo “pesado.” Os “chops” do Shorter podiam não ter a mesma energia reprimida do Trane, o grito preso na garganta e extenuado no momento em que o negro começava a tomar consciência de que aquele era seu momento de desforra. Trane = Mohammad Ali = Malcom X.
            Shorter em contrapartida era sim mais cerebral (mas não no sentido pejorativo que se aplica isso a um virtuoso sem alma como Marsalis). O timbre do Shorter no seu auge era insinuante, lush, lascivo, um convite a se perder no dark continent Africano.
            Coltrane é Coltrane. Ele representa como nenhum outro o transcendente do Jazz.
            Mas convenhamos que o Shorter foi bem maior compositor que o Trane. Talvez a sua amostragem aqui não seja representativa do gênio do Shorter compositor.

          4. Qualquer músico sabe que Tony Williams foi maior baterista que Philly Joe Jones.
            A formação com o Bill Evans é mesmo inigualável (aí você quebra as minhas pernas). Mas essa formação não corresponde ao primeiro e grande famoso Quinteto de Miles.
            Kind of Blue foi gravado com um sexteto, não?

        2. É verdade, era um sexteto.

          Mantenho minha opinião que em nada Shorter se compara a Coltrane. O conceito de compositor em jazz é muito relativo. Não há solo mais lindo que o que faz Coltrane em Flamenco Sketches. Como compositor formal, Coltrane foi um gigante em Blue Train, em Giants Steps, antes de partir para aquele pós-tudo de sua fase tardia (que também é genial).

          1. Eu considero as invenções do Trane sobre canções como aquelas da Disney (de outra forma fadadas a serem lembradas apenas em musicais off-off-Broadway), “My Favorite Things” e “Chim-Chim Chee-Ree” como o que são de fato, composições. E o álbum “A Love Supreme” representa um arrombo de criatividade compositora do Trane como ele não conseguiu repetir em nenhum outro momento.
            Blue Trane é um ótimo disco menor do Trane.
            Agora, por favor, Charlles. Visite quando tiver tempo os discos do Shorter quando ele é sideman (e compositor da maioria das canções originais) dos Jazz Messengers de Art Blakey.
            Acho que o Shorter daqueles anos é tudo o que você gostaria que ele fosse nos seus tempos do Quinteto do Miles. Explosão, tenor exuberante, força… enfim, Shorter emulava o Sonny Rollins. Gosto muito dessa faceta do Shorter. Mas acho que ele desenvolve o seu estilo próprio mesmo durante os cerca de seis anos em que ele esteve com o Miles.

          1. Sou fã da Mitchell. Um time de primeira.

            O que talvez explique minha predileção pela época Miles/Coltrane seja aquele do deslumbramento do primeiro momento. As primeiras audições que tive de Miles, e de jazz com mais profundidade, foram os álbuns dessa época, em especial Milestone e Kind of Blue. Tudo o que procurei na área depois era algo que fosse similar a isso. Mas nada era compatível a esse núcleo fenomenal do meu prazer da descoberta do jazz. Sinto que nestes discos obtive tudo o que já havia feito no jazz e tudo que seria feito pela frente; era um tratado espiritual da história e da premonição do jazz. Não consigo explicar, desculpe a falta de jeito. Mas o que conheci depois, por mais que também fosse bom, era, vamos dizer, secular, maculado pela exigência de que esse núcleo deveria seu superado, naturalmente, para o jazz continuar existindo. Blablablá.

            Daí que eu adoro a terceira revolução do Miles, o fusion. Comprei, há 15 anos, a maior parte dos clássicos do Miles da fase fusion, os relançamentos remasterizados de Tribute to Jack Johnson, Silent Way, Bitches Brew, os álbuns ao vivo, Pangae, e não me lembro mais. Mas a satisfação com esses álbuns não chegava nem perto das minhas primeiras audições do Miles. Miles e Coltrane soam fáceis, descontraídos, com uma infalível suficiência, e por mais que o quinteto com o Shorter fosse bom, essa magia nunca foi alcançada.

    1. Blue Train um disco médio do Coltrane? Você acaba de colocar sobre Coltrane uma escala de auto-superação impossível. Blue Train é magnífico. Existem tantos álbuns geniais no jazz, que não tem como falar de jazz sem absoluta paixão. Coltrane tem tantas obras capitais em sua discografia que discos menores seriam aquela diversão que ele gravou com o Cannonball, que mesmo esse é um disco fantástico.

      1. Um disco médio melhor que muitos álbuns de destaque de tantos músicos do cool jazz. Poxa, Charlles. O Trane dos anos da Impulse são superiores a esse, não?

          1. O Trane dos anos da Impulse tem um Trane já estabelecido como band leader. Você deve estar confundindo Impulse com Prestige, os anos sob a condução do Miles Davis.

          2. A Love Supreme não ocupa muito meu aparelho de som, para ser sincero. Se for para fazer um apanhado por gravadora, gosto do Coltrane da Atlantic: My Favorite Things, Olé, Giant Steps, (meus preferidos), o Blue Train pela Blue Note. Da Impulse gosto mais dos álbuns apócrifos, como espetacular One Down, One Up, Crescent, e não me lembro mais qual (Live at Birdland sempre foi da discografia oficial, e não um bootleg por décadas, como One Down).

            Não me atenho muito a gravadora, mas uma consulta agora pelo Allmusic me fez ver que o Coltrane da Impulse não é meu preferido. Pelo que vi, como band leader ele está no elefantino Ascension (seu Finnegans Wake), e só. Nada parecido com Blue Train, que tinha uma equipe completa de metais, e lançado quase 20 anos antes.

    2. A referência à gravadora Impulse foi só uma referência histórica. Por isso disse “os anos da Impulse.” Esses foram os anos onde toda a sombra do Miles Davis já havia sido exorcizada.
      A Música e a experiência estética funcionam para muito além da lógica. Acho curioso que você não dê muita importância ao “A Love Supreme.” Ele é considerado pela crítica o maior álbum autoral do Coltrane (se não me engano há inclusive um livro sobre a produção do álbum, assim como fizeram um para o Kind of Blue). Mas eu entendo você. O álbum branco dos Beatles não é o meu preferido, por exemplo.
      Agora, dê uma olhada com mais carinho no catálogo dos anos da Impulse. Eu acho mesmo que você desenvolveu uma fixação pelos anos quando Coltrane ficava on and off das formações com o Miles (lá nos idos do fim dos anos cinquenta).
      Dê uma olhada em especial em quatro discos:
      1) John Coltrane and Johnny Hartman (uma parceria memorável com esse crooner meio marginal da voz mais bela que a do grande Blue Eyes; versão magnífica de “Dedicated to you” e “Lush Life” de Duke Ellington)
      2) Ballads (essas baladas viriam a ser coletadas mais tarde no insincero “Coltrane for Lovers”; aqui você já encontra o precoce talento de McCoy Tyner no piano)
      3) Live! at Village Vanguard (Esse disco esteve esgotado por algum tempo por motivos que me fogem a compreensão; Trane e Eric Dolphy! Ou seja, imperdível)
      4) Live! At the Village Vanguard Again! (Sai McCoy Tyner, entra a sua esposa Alice Coltrane que dá um toque de delicadeza à banda; no lugar de Dolphy, Pharaoh Sanders; tem a versão mais bela de “Naima” de todos os discos do Coltrane e interpretação mais exuberante de “My Favorite Things”)

      1. Gosto muito do A love supreme, mas não o ouço mais faz anos. Talvez por ter escutado em excesso.

        Conheço esses álbuns. O com o Eric Dolphy é magnífico. Coltrane é um emblema. Como disse uma vez aqui, o melhor disco do Coltrane que tenho é um cd semipirata com shows dele pela Europa, que tem a melhor versão de My Favorite Things.

        1. Já escutou o “Africa Brass”, também dos anos da Impulse?
          Acabei me descuidando e esqueci dele na lista acima. Se fosse fazer uma lista em ordem decrescente dos anos da Impulse seria: 1) A Love Supreme, 2) Africa Brass, 3)John Coltrane and Johnny Hartman, 4) Ballads, 5)Live! at the Village Vanguard Again!

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