Atenção mulheres: Namorem caras que escrevem (sempre!)

escrita(Roubado daqui)

Namore um cara que escreve. Não um cara que te manda poesias do Drummond ou que te manda letras do Chico com foto de pôr do sol. Namore um cara que escreva ele mesmo para você. Um cara que escreve irá perceber os detalhes entre vocês dois, e assim escrever cartas e textos pessoais que falem especificamente sobre vocês dois, não cartas de amor genéricas catadas no limbo da internet. Namore um cara que, ao invés de comprar um cartão de dia dos namorados com um poema do Vinicius, vai escrever um texto para você no seu computador enquanto você toma banho para irem jantar.

Um cara que escreve vai, ao mesmo texto, fazer você rir, chorar, sorrir e querer abraçá-lo como se ele fosse dez centímetros mais alto, dez quilos mais magro e tivesse mais dois dígitos na conta bancária. Positivos. Namorar um cara que escreve é namorar alguém autoconfiante, que sabe que a pena é muito mais forte que a espada, ainda que a pena dele responda pelo nome de teclado. Namore um cara que ficará orgulhoso ao ser comparado com o Veríssimo ou ao Pessoa, e não se comparado ao Vitor Belfort ou ao Rodrigo Santoro. (Ok, o Santoro é covardia).

Namorar um cara que escreve significa ter um namorado que, ao te descrever, vai fazer você se achar a própria Angelina Jolie, e suas amigas, ao lerem, vão achar que ele descreveu alguma princesa de contos de fadas. Por falar em amigas, namorar um cara que escreve é matar suas amigas de inveja dos seus textos lindos, das suas cartas emocionantes e engraçadas. Namore um cara que escreve e garanta textos engraçados para quando você estiver triste, textos amorosos para quando estiver carente e cartas inesperadas durante um dia de trabalho rotineiro.

Namore um cara que escreve e massageie seu ego vendo outras mulheres dizerem que adorariam que os namorados delas escrevessem assim. Namorando um cara que escreve você não vai entender como suas amigas conseguem namorar engenheiros, médicos e analistas de sistemas, nem como elas conseguem achar bonitas aquelas frases copiadas de algum “As cem melhores frases de amor de todos os tempos”.

E por fim, namorar um cara que escreve é namorar um cara descolado, que sabe que “namorar um cara que escreve” não é a forma correta, e sim “namore um cara que escreva”, mas, mesmo assim, ele acha que do primeiro jeito fica muito mais bonitinho e descolado.

Obs. do dono do blog: Este post é a prova definitiva da grande sabedoria de Elena Romanov.

40 comments / Add your comment below

  1. Também gostei desse texto, Milton. Mas, se eu fosse escrever um texto falando sobre as vantagens de namorar uma mulher que escreve, não conseguiria me conter e uma ironia no final eu deixaria. rsrs
    “De nada adiantar ter boa lábia,
    porque ao fim e ao cabo,
    o que conta
    são uns lábios doces
    ou um bom rabo.”

  2. “ta bom mas um homem que escreve incomoda! pois se uma mulher fica com o cara porque ele escreve…eu prefiro que uma mulher fique comigo por outros motivos, e acredito que um engenheiro, um medico, e analista de sistema…a profissão nao é a pessoa…deixei varias pessoas falando sozinhas quando a primeira pergunta é o que tu faz? quando o que eu faço é mais importante que ser; ja experimentou responder sou garí? pois é ! O que voce faz.? Nada! nao faço nada!
    apenas responda sou sincero; vais ficar falando sozinho! Entao meus queridos essa linha do tipo me engana que eu gosto…onde voce se sente o cara …essa fantasia de conta com digitos a mais…esse tipo de emaconhamento…escrito (nao sei escrever) mas acho que a inteligencia real de uma mulher é enganar um cara que escreve, fazendo ele acreditar nas mentiras que ele escreve…eu nao quero ser comparado a ninguem, pois se é para ser comparado, eu prefiro ser eu mesmo como sou…ja achei textos mais inspirados…

    1. Morro de vergonha ao ver esse tipo de notícia. Não pelo Brasil, que já não oferece nenhum tipo de opinião contrária ao barbarismo educacional e cultural, mas por essa epidemia de reclamação que assola os escritores nacionais. Tadinhos! Sempre se dizendo injustiçados por viverem em um país de tolos. Que o Brasil é um país brutal e nunca terá salvação é um fato irrevogável, mas não se deve eximir tais escritores de culpa. Quando eles reclamam da baixíssima média de leitura do brasileiro, eles estão querendo dizer o quê?, que lamentam por o que escrevem não estarem na mochila do adolescente descerebrado que cabula a aula, ou frequenta a sala de aula só para tornar a vida do professor um inferno?, ou ressentem por seus livros não estarem em mesas de executivos ou cestas de consultório odontológicos? Isso é que me deixa estupefato diante essa alienação dos escritores nacionais: eles acharem que seus talentos deveriam ser acoplados na mesma resposta gratificada do talento do padeiro, diante o qual meia cidade multifacetada, de altos e baixos nas escalas sociais, se enfileira para ter o pão quentinho toda a manhã. Há sim muitos leitores no Brasil; se não fosse assim, não teríamos por aqui grandes editoras, com catálogos de dar inveja mesmo a países europeus (vão ver as surrealísticas traduções de Pynchon e Joyce em Portugal, p. ex.); não teríamos 3 traduções de Ulisses e todas tendo sido best-sellers; não teríamos uma literatura de gênero ainda em formação, mas que garantem a romancistas como André Vianco viverem só do que escrevem. O escritor brasileiro tem que saber para quem escreve. Se ele se imagina utensílio da elite (e essa autora da notícia do link é uma das que escreve para a Piauís, revista notoriamente voltada para a elite, econômica e cultural), e se vende tão baixo (a mesma autora se vendeu por centavos por exemplar!!), é porque sofre de distorção bipolar sobre si mesmo. Chega de ver escritores brasileiros reclamando da vida. Ô coisa feia, gente. E agora ir lá no NYT para reclamar, para denegrir ainda mais o país. A verdade é que a literatura brasileira é bem ruim, os autores brasileiros são péssimos, variando de cowboys a bergamotas; são duros de ler; são umbiguistas e ambíguos. Sei que esse país não é uma nacionalidade, mas um carma, mas a situação de mendicância moral dos autores nacionais é um outro assunto e uma outra culpa.

      1. “A verdade é que a literatura brasileira é bem ruim, os autores brasileiros são péssimos, variando de cowboys a bergamotas; são duros de ler; são umbiguistas e ambíguos. Sei que esse país não é uma nacionalidade, mas um carma, mas a situação de mendicância moral dos autores nacionais é um outro assunto e uma outra culpa.”
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        Poxa, Charlles, ainda bem que você não está a reclamar…

      2. Não entendi tua fúria, Charlles, contra a Vanessa Bárbara. Ela dá um monte de dados sobre os horrores nacionais e ironiza a própria situação, e você acusa ela de escrever pra elite? Cara, se você leu mais de cinco livros por ano, no Brasil, você é elite. Eu sou elite, leio mais de cinco livros por ano, mas você é mais elite que eu, porque só lê estrangeiros, já que acha que os brasileiros não estão no mesmo nível da tua sapiência. Eu, modestamente, leio a Vanessa, que é uma escritora divertida e despretensiosa. Quer o quê? Que ela escreva pra semialfabetizados como faz o Coelho e enfim não precise contar os trocados? Ela trabalha pra vários órgãos da imprensa e assim mesmo cavou tempo e escreveu seu romance. E nada nele é coisa de coitadinha, não há uma linha de chororô. Essa é macho, me entende?

          1. Eu não sei se o nível aqui é da minha sapiência, Ernani. Talvez seja a mesma daquela linha sua de achar que os melhores tradutores de espanhol do Brasil são todos péssimos, enquanto a minha sapiência nesta questão é bem menos ofensiva, já que eu posso falar que o Molina e o Brandão são melhores do que eu sem que isso ofenda os meus brios. Mas eu não leio brasileiros, ou os leio de forma muito regrada, porque não gosto de literatura brasileira, simples assim, sem que isso coloque em jogo minha intelectualidade. Eu assino a Piauí, por questões pessoais, e já vi muita gente boa lá escrevendo não para uma elite que lê 5 livros por ano, mas para gente que acredita que médicos são seres elegantemente superiores (vi um artigo que defende a médica da morte da UTI, enquanto destrata uma simples carcereira que a “obrigou” a se abaixar para fazer a revista), entre tantas hagiografias de políticos e de seres agraciados tanto pelo nome quanto pelo destino, e que os leitores se veem no exercício de aceitar por serem textos bem escritos, sofisticados. Escritores engraçadinhos me cansam, talvez porque eu mesmo já faça as minhas palhaçadas cotidianas sem precisar alimentar uma ilusão de que a pátria tenha que, obrigatoriamente, gerar grandeza nas letras.

      3. Com o objetivo de tecer um contraponto ao TEXTO PUBLICADO, minha sugestão de leitura seria O DISCURSO DE POSSE DE JOSÉ LINS DO REGO À ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (pesquise dessa maneira no Google). Embora longo, creio que valha a reflexão. Essencialmente, o conteúdo trata do que vem a ser, ou não, um efetivo escritor. Ou em outras palavras: a contradição entre o que é a grande literatura (brasileira ou estrangeira) – e a rasa picaretagem literária (brasileira ou estrangeira).

        1. Os melhores tradutores de espanhol no Brasil são mulheres: Olga Savary e Heloísa Jahn. O Molina traduz “vaca de la boda” por “vaca boba”. Não reconhecer uma expressão idiomática, tascar no lugar um troço que não faz sentido nenhum e ainda soa ridículo, é no mínimo estranho pra um grande tradutor. O Brandão traduz “yo creo” por “eu creio” em diálogos, em textos coloquiais. Se você acha isso aceitável, não está mais aqui quem falou. A revista piauí não é a Vanessa ou você viu a Vanessa defendendo políticos e outras coisas indefensáveis? Eu prefiro escritores engraçadinhos que os pseudossérios que assolam as prateleiras. Leia a matéria dela. Entre os profissionais patéticos estão professores, filósofos, historiadores, matemáticos. Poderia ter mais, claro. Se você não gosta da literatura brasileira, deve ter suas razões. Eu não gosto apenas de muitos autores brasileiros, como também não gosto de muitos argentinos, americanos, ingleses, franceses… Eu só atiro em alvos pessoais, me entende?

          1. Pois estou lendo Marías no original e comparando com a tradução do Brandão, e não vi nada disso. E temos que retirar todos aqueles prêmios do Molina pelo Quixote, coitado. Não estou em casa, não podendo consultar na pilha da revista, mas a Piauí é a revista identidade do leitor descolado brasileiro, em cima do muro, que reza tanto para deus quanto para o diabo, preconceituoso sem ostentação, cultor da moda cultural de gosto bastante duvidoso mas que estão usando em sala de visita (vide os péssimos quadrinhos, tirando Henfil, Laerte e aquele cartunista genial que se veste de mulher_ não me lembro mesmo o nome do cara, que porra! _ é como esquecer o nome do Miles Davis), cultor do que há de mais amaneirado e supérfluo nas letras mundiais (vide os artigos do Franzen e os diários despirocados que eles desencavam para publicação). Leitura bem aeroporto, São Paulo-Rio, de gente que enxerga o Brasil em panorâmica. Vai cair a energia aqui em casa porque tá uma tempestade, por isso concluo em seguida mas não perco esse comentário…

          2. A defesa de Dirceu, o Dirceu libidinoso do Ramiro, e de gente do porte de Dirceu, de ambos os lados, é feita na revista de maneira ambígua, visando a apologia pelo charme, lembro do artigo sobre ele, o quanto ele é excelente na escolha de seus vinhos, etc, etc. E a política e o crime, onde ficam? Na puta que pariu. Li um artigo sobre a Fifa da edição de novembro, que parece ter sido escrito por um bule de café quente que se esfriou na metade final, chegando ao descabimento de terminar com a aposta de que tudo se dará bem, reconciliação entre a máfia do futebol mundial e os interesses sociais do país.

            Isso é um retrato da sensaboria das letras nacionais, do grande medo de falar contra o poder e se ver caído na lista negra dos editores. Aquela Não Editora, por exemplo, faz uma pesquisa pregressa sobre a vida do autor, se ele tiver uma linha de crítica contra qualquer autor nacional, é cortado. Ler isso com qual objetivo?

            Li o Kiefer do Valsa para Bruno Stein e gostei muito, lá pelos meus vinte anos, e depois vejo um artigo dele dizendo que não tem grana para o leite das crianças. Não vejo o que uma autora como a Bárbara, inclusa em uma revista tão chique e altiva, tem que falar tais coisas no NYT. Isso é imaturidade das grossas.

      4. “Mas eu não leio brasileiros, ou os leio de forma muito regrada, porque não gosto de literatura brasileira, simples assim, sem que isso coloque em jogo minha intelectualidade.”
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        Charlles, a questão a meu ver não é a intelectualidade, mas a literatura. Mas aonde você quer chegar ou o que você está querendo dizer? Pelo que lhe conheço, creio que você está paulatinamente a se preparar para ser um romancista em português, não é isso? Então, não consigo compreender como postura de escritor – ler preferencialmente estrangeiros e com parcimônia escritores brasileiros? Será que os escritores brasileiros não passam de uma ilha subdesenvolvida diante dos acontecimentos globais? Não é possível que isso seja verdadeiro.
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        Ultimamente, nos últimos 5 anos da minha prática poética aqui, no ES, tenho encontrado verdadeiros poetas, totalmente desconhecidos, mas completos diante da problemática que vivemos globalmente. A cada recital que participo, na Academia de Letras de Vila Velha, praticamente sem qualquer importância no contexto cultural brasileiro, encontro uma inesgotável fonte poética. Aliás, devo muito a tais poetas desconhecidos, a minha maturidade poética – também sem qualquer importância dentro do referido contexto cultural.
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        Vou fazendo o possível… Sei lá no que vai dar!
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        A LESMA
        by Ramiro Conceição
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        Sou lento… muito lento…
        pensando-sentindo tudo!
        Uma pedra para mim
        é um Pão de Açúcar,
        uma palavra, uma odisseia.
        Sim… sou uma lesma
        fantasiada de homem.

        Não sei como fabrico poemas.
        Devo ser uma lesma encantada,
        um bicho-papão em mutação,
        uma espécie de dragão, muito gosmento,
        a ser colado na imaginação das crianças.

        De início, fui uma lesma católica;
        depois, tornei-me uma marxista;
        freudiana; nietzscheana; reichana;
        e hoje sou uma lesma quase feliz,
        uma espécie de catassol aprendiz
        que ama navios perfumados a mar.

        É, agora estou literalmente a ver navios
        que sabem…: a tristeza ou a felicidade
        são migratórios pássaros de passagem.

        Embora lenta… a sabedoria da minha lesma
        ensinou-me que tudo é rápido, muito rápido,
        que o relevante não é a distância percorrida
        porém a profundidade e a altura do calado à
        geração de rastros, na busca de longínquos.

        Melhor do que um milhão de beijos: um único dado.
        Melhor que um milhão de olhares: um único amado.
        Melhor que uma biblioteca inteira: um poema alado.

        Sim,
        meu relógio são relâmpagos:
        a hora incerta dos vaga-lumes,
        das araras… e das maritacas.

        1. Quando digo que não leio literatura brasileira é a que está aí, enfiada pela mídia das editoras, Ramiro. Isso aqui é uma conversa de bar, sempre foi, e em um bar eu sustentaria isso, se não fosse internado na vida real por falar de livros para uma série de companheiros com ar enfadado de caminhoneiro atrás de um rabo de saia nos bares que eu frequento.

          Pois onde estão tais poetas? Há um livro do Magris (Microcosmos) que fala disso, da grande literatura escrita nas províncias escondidas da Itália, por gente absolutamente esquecida. Compartilho com você a admiração por poetas como Patativa do Assaré, mas isso é outra questão. Outra questão. A questão aqui é escritoras completamente desautorizadas para falar sobre angústia profissional seja de qualquer tipo, ou ainda mais a angústia intelectual, já que faz parte de uma estrutura muito bem formalizada de alienação sobre o que é o país, reduzindo os problemas do Brasil a uma rasa interpretação de que os atuais escritores daqui são seres injustiçados. Não sei se serei escritor e isso não importa a ninguém, mas tenho certeza que escritor engraçadinho eu não serei jamais. Nunca precisei das letras para que me pagassem uma Baré Cola, e nunca vou reclamar se minha genialidade não está sendo reconhecida. Literatura é paixão (violinos ao fundo), etc, etc.

          Gente que defende a ambiguidade e a conivência (ainda que conivência elegante da Piauí) como características nacionais, vir depois sentar o sarrafo dizendo que o Brasil é burro, isso me causa um asco sem tamanho.

  3. Sua capacidade de entendimento está intacta, Ramiro. Que bom!

    Veja se Guimarães Rosa ou Graciliano Ramos reclamavam, quando a literatura brasileira valia alguma coisa. E vem esse bando de letristas atuais querendo viver às contas de bolsas do estado ou patrocínio empresarial. Ivan Klima trabalhava de lixeiro para poder escrever; Joseph Bródski era agente funerário. Esses caras deveriam seguir o conselho do Rilke, arranjar um emprego fixo para sobreviver, de forma a ter independência para escrever o que quiser e parar com mimimi.

  4. Duas ironias abissais do texto.
    1) Apesar de bem intencionado, o autor do texto não passa de um escritor esforçadinho.
    2) O seu texto mesmo é sério candidato a alimentar as famigeradas correntes por e-mail de textos tidos por imprescindíveis por gente semi-letrada.

  5. Fica meu protesto contra a discriminação com os analistas de sistemas e as outras classes profissionais citadas: eles também podem se tornar escritores. Inclusive tenho um amigo que veio da área de TI e hoje é um escritor e jornalista famoso…

    Além disso, os analistas de sistemas também escrevem longos textos de amor aos sistemas. E também sabem fazer “programas”. Só que direcionam o esforço dos textos pro lado errado…

  6. Carlles, prêmio não é sinônimo de qualidade. Dê uma olhada na lista do Nobel, onde nem Kafka, nem Borges, pra citar apenas dois, não constam. Deu uma lida no romance que levou o Jabuti este ano? Com todos os seus prêmios, a vaca de la boda do Molina continua sendo boba. Há outras vacas bobas mas deixa pra lá.

    1. Não acredito que o Molina tenha cometido um erro tão básico. Até se ele tivesse colocado no Google Tradutor ele teria achado a tradução certa. Mas qual romance você gostaria que tivesse ganho o Jabuti? O do Galera ficou em terceiro lugar, e talvez a justiça tenha sido compensada aí. (Kafka jamais poderia ter ganho o Nobel porque eles nunca dão o prêmio postumamente, sendo que em vida seus únicos dois romances publicados eram bem desconhecidos.)

      1. olha aí, homem sem fé. Na página 237 de Santa Evita, de Tomás Eloy Martínez, traduzido por Sérgio Molina para a Companhia das Letras, se lê a seguinte frase: “Era um desses momentos em que a tarde está indecisa, conforme as palavras de Cifuentes: a luz oscila entre o cinza, o púrpura e o laranja como uma vaca boba”. Apenas uma vaca boba já me parece hilariante, mas numa frase em que se usa uma palavra luxuosa como púrpura, convenhamos, a vaca fica mais boba ainda, já que não estamos num texto de humor. Isso me levou direto ao dicionário. Em menos de um minuto eu tinha a resposta: não, a vaca não era boba, era a vaca da festa de casamento. “La vaca de la boda” é uma expressão que nasceu de uma festa medieval, tipo farra do boi, em que a multidão espanta uma vaca de um lado pro outro, até a pobre não saber pra que lado correr.

        1. Então essa celeuma toda é por causa disso. Talvez não seja um erro do Molina, mas uma adaptação ligeira de um dito geográfico que, traduzido literalmente, seria incompreensível para o leitor brasileiro. Não me parece mesmo um erro. Não li o Martínez, mas pode ser que ele seja um desses escritores cheio de expressões idiomáticas, gírias e coisas tais, que desmotivam o tradutor de usar notas de rodapé (na mesma concepção do Galindo de não atulhar o texto do Ulysses com nenhuma explicação, nada, nadinha mesmo). Ou seja, Molina se despreocupou em falar que a tal coisa se parecia com “uma vaca de casamento”, que ninguém iria entender bulhufas sem uma explicação pedante abaixo, e optou pela simplificação significativa: “vaca boba”. Como leitor, aprovo por completo.

          1. Cito aqui o mesmo exemplo que citei em uma das nossa refregas em seu blog, a tradução de uma expressão idiomática russa de Crime e Castigo, que o Bezerra optou por colar ali uma expressão do nordeste do Brasil_ não me recordo qual, mas o Bezerra se explicou sobre isso em uma das entrevistas que deu a uma revista, na época do lançamento de sua tradução do Dostoiévski. Como tradutor, que solução melhor vc apontaria para o Molina? Não me lembro, aqui, de nada que substitua a vaca de casamento. Quando eu li a tradução do Bezerra, me assustei com o nordestinismo anacrônico, e penso que teria ficado melhor se ele tivesse aplicado a tática do Molina.

  7. Vc tá forçando a barra nessa, Ernani. Jamais um estudante do primeiro ciclo de espanhol iria confundir palavras como “boda” e “boba”, quanto mais alguém do nível do Molina. O cara não só desconheceria o espanhol quanto o português, já que o termo é o mesmo nas duas línguas. E qual a saída? Dizer que a luz oscilava qual um peru de Natal, pra ficar ridiculamente na fidelidade ao reino animal e a festa popular? Ou que oscilava qual um bode de um ritual de iniciação na maçonaria, para ficarmos à fidelidade homofônica de bode com boda, e com uma tradição medieval? Não, meu amigo, não foi um erro do Molina, mas um acerto.

  8. Teria sido muito bom se molina tivesse traduzido, então, como “oscilava como uma vaca em um casamento”; mas, infelizmente, como vc disse, o texto não era humorístico.

    1. Fico pensando a cara dos leitores ao ler essa frase no romance do Martínez. “Que diabos ele quis dizer com ‘uma vaca em um casamento'”, pensariam, e seguiriam meses e meses com tal quebra surrealística na cabeça, como se fosse uma mensagem secreta, uma vingança subliminar de Martínez a uma pessoa particular (uma enfurecida menção a uma noiva que o abandonou no altar, sabe-se lá.) E fico pensando na cara irritada de Ernani Ssó ao pensar, “que idiota, colocar uma coisa tão desconexa à seriedade do livro. Por que ele não optou apenas por um conciso e lacônico ‘vaca boba’?”

          1. Não sei. Que eu me lembre, a única expressão em português, com o mesmo sentido, inclusive com a mesma jocosidade da vaca da boda, é barata tonta. Mas pra pensar direito numa solução você precisa estar enfronhado no texto. Provavelmente teria que deslocar a expressão pro começo da frase pra não soar esquisito. Você sabe, o ritmo do texto também é parte do seu sentido.

            O que o Molina fez é uma coisa muito comum em tradução: foi tão autoconfiante que nem olhou o texto depois. Se tivesse olhado, duvido que deixasse a vaca boba. Me admira muito mais que isso tenha passado por três revisores da Companhia, que, sabe-se, estão lá pra flagrar os deslizes dos tradutores.

            Realmente ando ocupado. Além de envolvido há um ano e meio na escrita de um livro, tenho de lixar e pintar uma tábua pra um aparador, ou minha mulher vai chiar.

  9. Só fico pensando que nossa discussão acabou com a tese do post: nenhuma mulher vai preferir, se a louca o fazia então, um homem que escreve, depois de ler a caixa de comentário. Seguramente, vai ficar na categoria dos que escrevem as assinaturas em folhas de cheque ou, melhor ainda, que digitam senhas de cartão de crédito. (Estava louco para só soltar essa piadinha machista famigerada desde que vi esse post, mas, por vergonha, iniciei uma coisa pior.)

  10. Mais raro que encontrar alguém que sabia escrever (que nem é tão raro assim – mulheres, com quem diabos vocês andam, namoram, casam, trepam?) é encontrar alguém modesto e um pouco menos habilidoso na arte de desmerecer pessoas que são diferentes daquilo que você considera interessante. E escrever é tão ou mais fácil do que falar. Difícil é fazer. Ou ser. No caso, ser realmente alguém seguro e sem querer desesperadamente outro viés de valor diferente daquele combo rico/sarado/etc. Afinal, ser rico, fortão, bonitão é ou não é importante. Pra mim não é. Exatamente pela tediosa tendência em se achar a última Coca-Cola do deserto. Exatamente a mesma tendência encontrada nesse texto.

  11. As mulheres falam em romantismo e homens que falam poesias. Mas se não tiver emprego e dinheiro elas nem olham.
    A frase mais dita é a seguinte : ninguém vive de amor, flor ou pedaços de papel.
    Mulher gosta de ser cativado com jóias, perfumes e coisas do tipo. A não ser aquelas que vivem em extrema pobreza com seu cônjuge ou não tem coragem de trabalhar e conquistar seu espaço e sonhos. Esse negócio de que mulheres gostam de poetas já foi o tempo. E outra, mulheres não gostam de caras bons. Elas prefere os maus.
    A lei maria da penha e uma prova disso. Elas só denunciam mais nunca largam do traste.
    ou só larga quando o traste a mata.
    Trabalho a 17 anos com segurança pública e sou doutor nessas situações de casais. Essa história de o que tá fora vê melhor é conto do vigário, viva um casamento e depois veja o que realmente é a essencial de como é levar uma vida a dois. Não é flores o tempo todo, é mais espinhos do que flor. Só Deus pode levar duas pessoas a viver um relacionamento duradouro. Livro nenhum e poesia nenhuma vai fazer uma mulher te amar e sim seu caráter.

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