Eu não gosto desta palavra. Em primeiro lugar porque é feia — tem um som horrível e o verbo empoderar é de matar –; em segundo lugar por ter um significado difuso e estar sendo aplicada nos mais diversos campos militantes, políticos e até psicológicos, de forma sempre a aceitar uma nova ilação. É um gênero diferente da famosa palavra-valise de Carroll (junção de duas palavras em uma). É uma palavra que serve a muitas funções e distorções. Veio de empowerment e sua definição fica próxima de “autonomia” ou da possibilidade das pessoas ou grupos poderem decidir sobre seus próprios destinos. Não surpreende que seja uma das palavras preferidas do feminismo e dos movimentos afro. É claro que eu apoio ambos os movimentos, apesar da palavrinha.
Além de servir aos campos progressistas, serve aos conservadores. A direita a utiliza quando fala em fortalecer a área privada, retirando programas públicos de assistência, deixando para as comunidades a resolução de seus problemas. Enquanto isso, a esquerda fala em bolsa-família para empoderar os populações desfavorecidas, dando-lhes poder de compra e cidadania — não seria o caso de utilizar algo mais próximo de “igualdade”? Ou seja, a direita quer empoderá-los deixando-os autônomos, autogestionados e a esquerda quer empoderá-los assistindo-os. Neste caso, empoderar demonstra toda a sua inexatidão semântica, além de ser uma palavra feia pacas.
Para complicar, os administradores falam em empoderamento organizacional, de forma a que as decisões tornem-se mais coletivas, tipo democracia corintiana. E os psicólogos em empoderamento identitário…, o qual seria um reforço na auto-estima do paciente.
Acho também a palavra poder, origem do neologismo, bastante antipática. Consultando o dicionário, vemos que poder (do latim potere) é, literalmente, o direito de deliberar, agir e mandar. Além disso, dependendo do contexto, é a faculdade de exercer a autoridade ou a posse de domínio, influência, dinheiro ou força. A sociologia define poder, geralmente, como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se estes resistirem.
Este é um texto daqueles bem inúteis, pois penso que a palavra disseminou-se e só posso mesmo espernear. Vou ter que me acostumar a ouvir e ler “empoderamento” por aí, mesmo que deteste a palavra.
Prezado Milton,
Concordo plenamente! É uma palavra que pode ter muitos significados expressados em uma língua rica como a nossa, dependendo do contexto (emancipação é mais um, além dos que citas). Como tradutor, vi diversas vezes minhas traduções serem “corrigidas” para empoderamento, num processo de uniformização e empobrecimento da nossa língua, patrocinado principalmente por editoras que buscam o lucro fácil e consideram o papel e a imagem da capa do livro tão importantes quanto o texto.
Por isso mesmo, tens razão também ao dizer que vamos ter que nos acostumar a ouvir e ler “empoderamento” por aí, juntamente com bullying e tantas outras que poderiam ser efetivamente traduzidas.
Eu concordo plenamente. Ainda assim, (que) me desculpem pela eventual ignorância, eu me pergunto se esta palavra e’ produto de uma simples variação sufixal e prefixal forcada pela existência da palavra em Ingles “empowerment”, ou se e’ uma palavra que ja existia ha muito tempo, visto que não me recordo de te-la ouvido na decada de 90 sequer. Pareceu-me em primeira instancia com um termo cuja existência fora forcada como resultado de um processo de neologismo incompleto, por assim dizer- novamente “Empowerment”. PS: Falta acentos na escrita acima pois uso um teclado no momento configurado `a lingua Inglesa.
Já que o assunto é sobre palavras insuportáveis, deixo uma que me dá náuseas: CUSTOMIZAÇÃO
Customização é ainda mais fácil de colocar em português.
Sim, eu sei, Milton… Mas o que me incomoda é saber que a nossa velha linguinha portuguesa, tão sofrida e maltratada, há muito possui uma corrente de palavras que cobre tranquilamente o significado de customizar, por exemplo: personificar, pessoalizar, individualizar etc. Desta maneira, quando tropeço em CUSTOMIZAÇÃO tenho um epiléptico ataque linguístico sob um processo longo de estrebuchação…
MUITO ALÉM DO EMPODERAMENTO
by Ramiro Conceição
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Ultimamente, andei a ler algumas obras de Boaventura de Souza Santos. Um intelectual português respeitado no meio sociológico-pedagógico brasileiro.
Dentre os vários ensaios que li, vou me ater a um mais especificamente: “Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social”.
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Apesar do quilométrico título, inocentemente, entreguei-me à leitura… Após 70 páginas da obra com 126, constatei que se tratava de palestras, conferências realizadas em Abril de 2005, pelo autor, nas Faculdades de Direito e de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires (UBA) e da Universidade de General Sarmiento.
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Pois bem, indo diretamente ao tema do post, vou apresentar, sem qualquer discussão, uma lista dos conceitos elaborados pelo autor diante de nossos irmanos estudantes e professores:
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a) Sociologia das ausências;
b) Sociologia das emergências;
c) Ecologia dos saberes;
d) Razão metonímica;
e) Razão proléptica;
f) Monocultura do saber e do rigor;
g) Monocultura do tempo linear;
h) Monocultura da naturalização das diferenças;
i) Monocultura da escola dominante;
j) Monocultura do produtivismo capitalista;…
E por aí foi. Parei, pois comecei a gargalhar…
Não resito. Preciso publicar um poema:
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CASCATA DO JABÁ
by Ramiro Conceição
Há muito se sabe que
no mercado o que vale
é a cascata de valores:
tudo depende do freguês e da ocasião; quer dizer,
existem senhoras e senhores que, honestamente,
a priori, tratam dos favores… antes da transação.
Contudo, nesse mundo de Drummond,
de rameiras ramiras e seus raimundos,
há putas e putos que a posteriori
negociam seus filhos, pais, carros,
cachorros, papagaios e seu país.
Uns são uns… Os outros… ostras!
errata: é óbvio que é “resisto”
Como tradutora, dói meus ouvidos e meus olhos quando ouço alguém usando essa palavra ou usando nos textos. Assim como “eu apliquei” para a faculdade. Que coisa horrível. Infelizmente, as palavras já foram inseridas e só temos que torcer o nariz. Abraços aos amantes e admiradores da pureza e riqueza de nossa língua portuguesa.
Sonia Acioli, como vc traduziria o vocábulo empoderamento? Vc acredita mesmo que ao empregarmos o decalque (um tipo de empréstimo linguístico) estamos maculando a pureza e a riqueza da LP? Não poderíamos encarar isso como expansão do potencial de significados disponíveis em LP? As vezes é só uma questão de tempo. Por exemplo, a palavra ‘jardim-de-infância’, velha conhecida do nosso português, já foi um “estrangeirismo”. Eqto o Inglês importou diretamente do Alemão ( Kindergarten), nós adotamos o decalque, ou seja, a tradução literal. Em palavras, como ‘cineclube, narcotráfico, ciberespaço’, por exemplo, o decalque foi fiel até na estrutura (adjetivo+substantivo), qdo havia a opção de adaptar (substantivo+adjetivo: “clube de cinema”, “tráfico de narcóticos”, “espaço cibernético”). Até q ponto uma resistência à incorporação iminente do vocábulo “empoderamento” contribui para a área de linguagem?
Segundo o dicionário de significados, “O ato de empoderar é considerado uma atitude social que consiste na conscientização dos variados grupos sociais, principalmente as minorias, sobre a importância do seu posicionamento e visibilidade como meio para lutar por seus direitos”. Estar consciente de que precisa lutar por direitos não te dá poder, por isso discordo do conceito. O poder é exercido numa sociedade por instituições. Exercer ou não poder depende do acesso ou não a essas Instituições (judiciário, legislativo, executivo, mídia, etc). Portanto ter consciência do seu valor identitário ou da importância do que você é não te dá poder nenhum. Só eventualmente pode ser um motivador de organização e mobilização. Chamar isso de empoderamento é uma forma de iludir os membros de tais minorias. Por exemplo: só porque uma mulher negra decide ser feminista e afirmar sua identidade, não significa que a sociedade que ela vive deixe de ser machista e racista. Portanto, ela se “empoderou” só porque é consciente de sua cor e gênero? No máximo ela se conscientizou, se tornou sujeito e não objeto de sua própria história. Mas empoderar, tá errado, dá uma falsa ideia, cria uma ilusão de um poder que não existe. Poder não é um sentimento, não é um dado psicológico. Poder é social. É multideterminado. E iludir as minorias de que podem se “empoderar” só por uma questão de atitude é iludir.
empoleirar é quando as galinhas ficam se ajustando no poleiro a tarde.
agora empoderar não existe na lígua mãe. e recuso-me a ser macaquito de imitacion pois ela ver do inglês . e de origem anglossaxonica. portanto é uma heresia pronunciá-la sem tornar-se um idiota que acha chic imitar a bosta do inglês.
Qual seria uma boa palavra para substituir “Empoderamento “???
Boa pergunta, também gostaria de saber, uma vez que trouxe a tona este ponto de vista, creio que seja totalmente pertinente trazer uma sugestão de palavra em substituição.
Também concordo.Ô palavrinha horrorosa!Parece que não pertence à nossa língua. Só que ela é dita e escrita constantemente.Até agride.Quando escuto ou leio alguém falar nela, mudo de canal ou paro de ler o texto imediatamente.Já sei que essa pessoa não tem nada a dizer.O equivalente é o “com certeza”de quem se acha muito culto.
É vamos ter que engolir esse tal de empoderamento palavra feia e demontradora de que não tem vocabulário, assim como aqueles que por não saber conjugar os verbos na primeira pessoa do plural NOS pelo tal do agente . Agente fez agente vai é por ai á fora . É a destruição da língua portuguesa e o
Ótimo! Até que enfim alguém pensa como eu!
Parabéns pelo texto! Eu sou professora de português e espanhol e detesto esta palavra, empoderamento. Ela soa mal e realmente é muito confusa na interpretação. Lembra poder que lembra dominação que lembra tirania… Obrigada por escrever o desabafo e achar uma legião de fãs que pensam assim….:) Muito engraçado…rs
. Considero que temos muitos adjetivos na língua portuguesa, com enorme riqueza, que traduzem de forma bela muitas características. Sei que há, em mim e em todos nós, a tendência de sintetizarmos, usarmos neologismos mas considero que a palavra empoderamento é mau hábito adquirido em tempos recentes e divulgado até em textos acadêmicos de áreas técnicas com práticas mais objetivas.
quem é voce na fila do pão
Poder financeiro ($) não tem simplesmente nada a ver com CULTURA!
O que você quis dizer com essa “fila de pão”?
É vergonhosa a vulgarização que o brasileiro faz com a língua portuguesa. Em nenhum outro idioma vemos tanto desrespeito com a palavra dita e escrita.
O costume que os americanos têm em depreciar o inglês britânico, o brasileiro faz questão de imitar, haja visto o indigesto “gerundismo” que dominou os diálogos neste país, nada tendo a ver com nossa gramática.
Além dessa palavra horrorosa e repulsiva “empoderamento”, existem outras tantas que somos obrigados a ouvir e ler .
A propósito, é preciso esclarecer aos alunos, a partir o ensino fundamental, que esse desrespeito à nossa gramática aumenta cada vez mais essa população semi analfabeta.
Existe uma autora que fala exatamente da condição semântica dessa palavra. Ela tem uma visão que se aproxima da sua. Claro que de uma forma mais filosófica e profundamente bem embasada.
Infelizmente, não lembro o nome dela.
Se você puder me ajudar, eu agradeço.
Luana Medeiros, professora e pesquisadora de linguagem e gênero.
Que satisfação em encontrar alguém que tal como eu, antipatiza com a palavra. É feia mesmo, e tornou-se a expressão do momento. As pessoas a utilizam como senha para demonstrar que estão “antenadas”.
Amei! Acho idiota a palavra sendo usada de forma aleatória, beira o ridículo