10 (pequenas) coisas (histórias) que (talvez) você não conheça sobre Bach

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Quando dizemos Johann Sebastian Bach, pensamos imediatamente nas Variações Goldberg, nas Cantatas e Paixões, nos Brandemburgo e naqueles retratos austeros do Kantor de Leipzig segurando na mão direita uma partitura. A imagem de um bon vivant e do prisioneiro é rara.

1. Ele esteve na prisão

É certo que Johann Sebastian Bach esteve quase um mês na prisão — entre 6 de novembro a 2 de dezembro de 1717 — durante seu período em Weimar. O crime era o de traição a seu patrão. Fora-lhe recusado o cargo de Kapellmeister na cidade, então ele decidiu tentar a sorte em outro lugar. Queria o posto de maestro em Köthen. Bach insistiu e insistiu para ser demitido. Acabou preso. De acordo com o relatório do tribunal, o motivo foi o de “forçar a sua demissão”. Não havia CLT por lá.

2. Ele foi (infelizmente) operado pelo mesmo médico que Handel

O grande doutor John Taylor (1703-1772) operou duas vezes a catarata de Johann Sebastian Bach em 1750. Fez o mesmo com Handel em 1753. Fracassou com ambos. Pior, matou Bach, enfraquecido após as cirurgias, e deixou Handel inteiramente cego.

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3. Ele causava medo na concorrência

Durante uma viagem a Dresden em 1717, houve uma brincadeira idiota entre aristocratas. Foi organizada uma competição para decidir quem tinha mais habilidades para a improvisação: se Johann Sebastian Bach ou Louis Marchand, famoso organista francês. Na véspera da grande luta, Marchand deu de cara com Bach ensaiando. Resultado: alegou uma doença súbita e fugiu.

4. O trabalho não era fácil

Ser Kappellmeister não era simples. Regente do coro da igreja, da orquestra, compositor, ensaios e mais ensaios, além de professor de música e catecismo. Em relatório de 1706, quando tinha 21 anos, Bach dizia mais: que as crianças “já não temem seus professores, elas até mesmo lutam em suas presenças, ( … ) só não carregam espadas e pedras pela rua, mas também na sala de aula.”

5. Ele não era muito amado em Leipzig

Se Bach é apelidado de “O Kantor de Leipzig”, não podemos dizer que a cidade dava-lhe afetuosa contrapartida. Seus chefes eram rápidos para lembrá-lo de sua incompetência. Alguns chefes são assim mesmo, eu já convivi com isso. Em 1723, um assessor disse que Bach não compusera nada durante todo o ano. Hoje, sabemos que ele, como sempre, trabalhou louca e produtivamente naquele ano. Em 1730, ele foi repreendido e advertido pelo mesmo motivo. Quando de sua morte, um jornal da cidade publicou uma notinha onde dizia que “um homem de 67 anos (ele tinha 65), o Sr. Johann Sebastian Bach, maestro e Kantor na Escola St. Thomas”, morrera. Nada mais.

6. Faltava muito às aulas

O maestro John Eliot Gardiner Bach enfatiza a violência do ambiente em que o compositor passou a infância. Eram comuns as rivalidades entre gangues, as brigas entre estudantes e as maldades sádicas. O menino Johann Sebastian esteve ausente por 258 dias em seus três primeiros anos de escola. O motivo mais comum para tais ausências era a violência.

7. Ele apanhou de um fagotista

O episódio demonstra a violência que enfrentou o compositor até depois da adolescência. Em 1705, ocorreu uma briga com um estagiário fagotista chamado Geyersbah: voltando para casa ontem à noite, Bach viu seis músicos estudantes sentados em bancos de pedra e, quando passou por eles, Geyersbach foi atrás e o provocou, perguntando por que ele tinha sido insultado. Bach respondeu que não o tinha insultado, mas foi agredido mesmo assim.

8. Ele adorava café

O gosto de Johann Sebastian Bach para o café vem de sua participação na instituição de Gottlieb Zimmermann, o Café Zimmermann, onde o compositor apresentava-se regularmente durante a década de 1730. O café era uma novidade recente e sucesso absoluto naquele início de século XVIII. Na época, era encarado como uma moda passageira e um luxo. O compositor dedicou uma Cantata ao produto (BWV 211, a Cantata do Café) em que uma moça casadoura diz preferir a bebida a mais de mil beijos e afirma que só aceita casar com um marido que lhe dê café. No inventário de Bach, há menção a dois potes de café (um grande e um pequeno) e um açucareiro.

9. Ele bebia e bebia

Se o conselho da cidade de Leipzig tratava-o com dureza, deve-se notar que Bach gozou de relativa liberdade na cidade luterana. Ele fazia sua própria cerveja e pagava mais imposto sobre a produção desta do que gastava com habitação. As notas examinadas por seus biógrafos indicam que a família Bach consumia toneladas de cerveja. Um relatório de gastos com impostos do compositor em 1725 (tinha 40 anos) dá conta de um consumo espetacular, mesmo considerando família e alunos.

10. Tudo sobrava, sobretudo talento

A perfeição daquilo que criava e que era rápida e desatentamente fruída pelos habitantes das cidades onde viveu, era pura necessidade individual de fazer as coisas bem feitas. Como era pouco compreendido, brincava sozinho criando dificuldades adicionais em seus trabalhos. Muitas vezes o número de compassos de uma cantata corresponde ao capítulo e versículo da Bíblia daquilo que está sendo cantado. Em seus temas aparecem palavras — pois a notação alemã (não apenas a alemã) é feita com letras — , e suas fugas envolvem complexidades que só podiam ser apreendidas por especialistas. Então Bach era não apenas um fantástico melodista capaz amolecer as pernas de quaisquer ditadores — sei do que falo — , como um sólido teórico capaz de brincar com seu conhecimento. Em poucas palavras, pode-se dizer que o velho sobrava… Sua obra, mesmo com a perda de mais de 100 Cantatas e de outras obras por seu filho mais velho, o preferido de Bach, o maldito Wilhelm Friedemann, corresponde a 153 CDs da mais perfeita música. Grosso modo, 153 CDs são 153 horas ou mais de 6 dias ininterruptos de música.

Obs.: Um pouco traduzido, um pouco baseado em 10 (petites) choses que vous ne savez (peut-être) pas sur Jean-Sébastien Bach.

via Helen Osório

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