O veterano Milan Kundera voltou à ficção no ano passado, aos 85 anos, com este bom A festa da insignificância (Companhia das Letras, 136 páginas). O tema lembra um pouco o filme de Paolo Sorrentino A Grande Beleza.
O romance gira em torno de quatro amigos parisienses que vivem em Paris, sem grandes objetivos ou ambições. Eles passeiam pelos jardins de Luxemburgo, mentem um para o outro, reinventam passados, se encontram numa festa, constatam que as novas gerações já se esqueceram de quem era Stalin, perguntam-se o que está por trás de uma sociedade que, em vez dos seios, bundas ou das pernas, coloca o umbigo no centro do erotismo — pois as calças caíram e as camisetas subiram, revelando o buraquinho que só Eva não teria…
Kundera brinca entre Paris e a União Soviética de Stálin, propondo um paralelo entre as duas épocas. Assim, o romance fala sobre o medo e o pior da civilização. Porém, fala de forma curiosamente divertida e sem ilusões ou expectativas. Livro curtinho e despretensioso, revelador de que o velho não perdeu a mão.