Dois anos e meio

Eu nunca pensei que um amor daqueles bons fosse algo espontâneo ou fácil de ocorrer, mas achei que entre nós dois haveria grandes chances. Lembro que quando anunciamos nosso “relacionamento sério” no Facebook, reclamei que a expressão correta deveria ser “relacionamento divertido”. Pois as risadas insistem conosco. Mesmo quando as circunstâncias não ajudam, arranjamos lugar para elas. E, nossa, como os problemas do mundo exterior vieram e incomodaram! Mas fomos despachando um por um. Lá no começo, a gente improvisava com poucos temas, mas hoje temos um vasto repertório que foi sendo aprendido.

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O amor é complicado porque não é só saltar em cima. Quero dizer, também é saltar em cima ou ficar por baixo, mas é também uma série de cuidados e acordos tácitos que vão facilitando seu crescimento. É ver que a vida e as escolhas do outro são tão importantes como as nossas e respeitar. É o famoso amar se aprende amando do Drummond. Para quem acha que amor apenas acontece como criacionismo, invoco Paracelso, que era moderninho já no século XVI: Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer e nada compreende, nada vale. Mas quem observa e compreende — ama. Quanto mais conhecimento, tanto maior o amor”.

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Tudo isso parece muito científico, mas estou no trabalho e a ciência e as citações são um bom refúgio, porque a verdade é que estou começando a querer muito te beijar, Elena.

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Fotos de Augusto Maurer, pra variar

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  1. Há um texto autobiográfico do Camilo José Cela, fantástico escritor lamentavelmente esquecido, que me marcou muito. Conta da vez em que ele se introduziu um supositório sem a ajuda da esposa. Ele pergunta a ela se era natural que ardesse tanto, ao que descobre, encabulado, que não havia retirado o papel alumínio. Li esse texto na casa dos meus 20 anos, e foi inevitável pensar que eu desejava um amor desse para mim. Há 3 anos, com um desagradabilissimo problema de fístula no esfincter, obtendo a carinhosa ajuda da Dani com um supositório, me veio num átimo (é assim que o dizem, mas o preenchimento automático do celular desconhece a antiga palavra) a lembrança do texto do honorável espanhol. “O Cela amor! O Cela!”, lhe disse exultante, feliz por a situação me revelar que o desejo do grande amor realizado é uma iluminação que desconsidera o pudor de se as calças estão bem amarradaz na cintura. Como a Dani está acostumada com minha vida na realidade paralela da literatice, ele aceitou com mais uma das minhas esquisitices. Enquanto ela me introduzia, eu disse que a amava muito, e ria igual um doido da insegurança de interpretação da coisa. Mas completei com a recomendação de que ela tirasse o embrulho metálico. É bom demais ter por quem aguentar o dia.

    1. Esse comentário foi dos mais belos que este blog já recebeu, Charlles. “É bom demais ter por quem aguentar o dia”. E as histórias do supositórios — a do Cela e a tua — são deliciosas.

      1. Obrigado, Milton. Mas essa do amor é uma verdade óbvia e antiga: não se levar a sério e ter uma absoluta atenção para com o outro, uma atenção infantil pelo outro. Por isso as fotos suas são tão bonitas: fogem tanto do padrão Facebook que são um refresco.

  2. Caríssimos Milton e Elena: deixe de ser mentiroso, Milton, o amor de vocês já tem mais de mil anos e ainda durará outro tanto (pelo menos!). Testemunhar (via relato) proximidade e cumplicidade, sorrisos e olhares trocados… que estímulo à Vida! venham às montanhas de Minas comemorar: nossa casa está pronta para receber vocês! E Amélia fará pães de queijo e bolos de banana… que tal?

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