Esplendidamente interpretado por F. Murray Abraham — que ganhou o Oscar de Melhor Ator por este Amadeus (1984), de Milos Forman –, Salieri diz:
Na página não parecia… Nada! O princípio simples, quase cômico. Só uma pulsação. Trompas, fagotes… Como uma sanfona enferrujada. E depois, subitamente… Lá bem no alto… Um oboé. Uma única nota, ali pendurada, decidida. Até que um clarinete a substitui, adoçando-a numa frase de tal voluptuosidade… Isto não era uma composição de um macaco amestrado. Era música como eu nunca tinha ouvido. Cheia de uma saudade, de uma saudade não realizada. Parecia-me que estava a ouvir a voz de Deus.
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Música
(Para D.D.S.)
Algo de miraculoso arde nela
e fronteiras ela molda aos nossos olhos.
É a única que continua a me falar,
depois que todos os outros ficaram com medo de se aproximar.
Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar,
ela ainda estará comigo no meu túmulo,
como se fosse o canto do primeiro trovão,
ou como se todas as flores tivessem começado a falar.
(1958)
De Anna Akhmátova. Este poema foi dedicado a Dmitri Shostakovich e está gravado em seu túmulo. Foi uma exigência do compositor.
A tradução é de Lauro Machado Coelho, no excelente livro Shostakovich – Vida, Música, Tempo.
O mais emocionante post que li e vi até hoje.
Bjs. Cla.
Lembro-me vivamente desta cena no “Amadeus”. E tive o privilégio de assistir, no Teatro Glória no Rio de Janeiro, à peça do mesmo nome, com Edwin Luisi (Mozart) [ http://ondeanda.multiply.com/photos/album/124 ] e Raul Cortez (Salieri).
Emocionante!
PS: ontem, conversando com Idelber, fantasiamos em como intimá-lo e à Mme. Antonini a virem a Beagá!
Milton
Muito obrigado pela música e pelo poema.
Aqueceram meu fim de domingo. E me levaram longe.
Um abraço.
LAF