Ontem pela manhã, eu estava sozinho na National Gallery. Era uma visita lenta e anotada para quando a Elena se liberasse a fim de realizar o mesmo périplo. Sentei para descansar numa das confortáveis poltronas lá disponíveis — esses museus enormes cansam meus delicados pés — e vi uma cena incrível. O pai de uma família chinesa estava encostando o dedo numa pintura de van Dyck, Caridade (Charity), para mostrar um detalhe do quadro.
Eu vi o fato e um dos guardas também. Ele correu aos gritos de “Você não pode fazer isso!”. Mais dois guardas correram para auxiliar o primeiro e eu só assistindo a coisa, disposto a também ir lá dar uns cascudos no nobre cidadão da República Popular da China. (Que Deus, Nosso Senhor, o respeite, ame, e esconda sua estupidez).
Foi quando o primeiro guarda reiniciou seu discurso. Ele disse:
— Este quadro está aqui para o senhor, para seus filhos, seus amigos, para o mundo inteiro e para as gerações futuras. O senhor simplesmente não pode repetir sua atitude aqui e nem em nenhum outro museu que o senhor visitar em sua vida. Jamais faça isso novamente, por favor.
Todo mundo logo ficou calmo e sério. E a visita seguiu normalmente. Só o cidadão tinha um sorriso amarelo, enquanto levava uma mijada da mulher em chinês.
Ele estava tocando bem aqui, ó:
Naquela parte escura do tecido, ao lado da mão.