Eu estava no Jardim Botânico ontem à tarde

No sábado, hesitei em ir ao show de Hermeto Pascoal na Redenção. Meu medo era a chuva. Fui, deu até sol e bebemos cerveja enquanto assistíamos divertidamente o velho quebrar tudo. Já não posso dizer o mesmo sobre o concerto da Ospa no Jardim Botânico, domingo. Ou posso, porque o vento de 107 Km/h também quebrou tudo.

Foto de hoje pela manhã | Guilherme Santos/Sul21
Foto de hoje pela manhã | Guilherme Santos/Sul21

Eu estava lá. Elena, minha mulher, é violinista da Ospa e foi fazer a passagem de som às 16h30 enquanto eu lia um livro na beira do lago. Tudo muito tranquilo e bucólico, apesar do ar de chuva. Até escrevi um whats para o amigo que me dera o livro. Quando começou o concerto, às 17h50 — anteciparam o horário em 10 min para tentar escapar da chuva –, fui assistir. Vendo a tempestade se formar atrás do palco — gente, relampejava — escrevi outro whats para meu filho Bernardo, que está estudando em Berlim: Precisava de ti hoje, agora, para fazermos umas piadas. A Ospa está no Jardim Botânico e vai cair uma baita chuva. Vai ser uma correria louca. Alto potencial cômico.

Mas às 18h30, quando tudo começou, não foi nada cômico. Não era só uma chuva, era uma tempestade com fortes ventos e raios.

Eu corri para o palco quando começaram a chuva e ventania. Queria ajudar a Elena. Quando estava começando a subir a escada que dava acesso ao palco, a estrutura se inclinou na minha direção e dei um salto para trás. Caí na grama. Ainda deitado, olhei para conferir se a estrutura estava mesmo vindo abaixo na minha direção, mas ela tinha parado inclinada. Então voltei para a escada. Não pude subir porque já descia um monte de músicos com seus instrumentos. As caras eram de total pânico. Comecei a berrar pela Elena.

Depois de anos, isto é, de eternos 20 segundos, ela apareceu. A coisa toda, isto é, a cobertura do palco, caiu com uma segunda rajada, quando já estávamos longe. Acho que só a ajudei depois, para que saíssemos rapidamente do Jardim Botânico. A Elena queria ir para outra estrutura metálica e eu a dirigi para um lugar aberto que achei mais seguro. Afinal, ali nada de sólido vinha do céu. Só tinha chuva, ventania, carros e muita gente correndo…  Apenas a uma distância de uns 100 m do palco e sob uma árvore, abri o estojo da Elena para que ela guardasse o violino. Caminhamos até a entrada do JB dizendo coisas tranquilizadoras um para o outro do tipo estamos bem, vamos chegar em casa, tomaremos um banho quente, faremos chá, a chuva fria não vai nos matar, etc.

Aparentemente ninguém se feriu. Os danos de todos foram apenas materiais. Sorte. A Elena se gripou. Em mim, resultou numa dor de cabeça realmente enorme ali pelas 22h — certamente produto do estresse — e numa dor no dedão, porque, ao chegar em casa, no escuro e já sem os tênis encharcados, chutei uma cadeira com tudo. Está doendo até agora… Mas meu dedão não tem relação com o que aconteceu com o palco. Estou no trabalho e bem. A dor de cabeça está suportável.

Impossível não citar o casal de anjos Arthur Dias Eich e sua namorada-mulher-amiga que não perguntei ou esqueci o nome. Peço desculpas, mas é que estávamos nervosos e sob chuva fria fazia mais de meia hora. Eu perguntara em voz alta sobre quem ia para o Bom Fim, e ela, a moça, nos ofereceu carona. Arthur foi da Fabico, é amigo do Igor Natusch, leitor do Sul21 e me conhecia, vejam a coincidência. Por isso, lembro mais dele. Estamos gratíssimos A AMBOS.

É, nestes tempos de aquecimento global, não dá mais para brincar com o tempo.

 Foto de agora pela manhã. À esquerda, sob a ferragem , a escada que tentei subir | Foto: Guilherme Santos
Foto de agora pela manhã. À esquerda, sob a ferragem , a escada que tentei subir | Foto: Guilherme Santos/Sul21

3 comments / Add your comment below

  1. Pobre violino da Elena!
    Acho que em outras épocas encontraríamos aqui um texto mais direto e objetivo. Afinal o concerto só aconteceu porque a direção não tomou a decisão correta de cancelar. Deu no que deu!
    Mas é isso aí caro Milton, tudo muda e o silêncio ou ausência de críticas se torna medida cautelar em todos os meios!
    Um abraço.

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