Por Samuel Sganzerla
Como foi o fim de semana no Rio de Janeiro? Estava boa a praia de Ipanema? E o futevôlei? Merecido descanso depois desse baita ano de trabalho e conquistas. Agora é pensar no embarque para Abu Dhabi, né?! Lamentavelmente, perdemos o Arthur. Dizem que Geromel também virou dúvidas e não se sabe ainda ao certo as condições em que Maicon voltará.
Não que eu tenha a ilusão de que, passando pela semifinal, vamos propor nosso jogo contra o Real Madrid. Foi provavelmente no início do milênio que se viu um sul-americano encarar um milionário europeu de igual para igual (aquele lendário Boca Juniors de Riquelme e Palermo, que ganhou três Libertadores em quatro edições, dois mundiais em três), sem jogar por uma bola. Mas divago!
Alheio a tudo isso, ontem foi o dia da última rodada do Brasileirão, Renato. Fomos a Belo Horizonte encarar o Atlético Mineiro, com nossa terceira equipe. A torcida do Galo, que sempre nos recebe com muita cordialidade e amizade, se fez presente no estádio, para assistir a um grande jogo, disputado do início ao fim, com sete gols e direito até a um apagão dos refletores, lembrando aquele futebol-raiz dos anos 90 de que tanto se fala saudosamente.
Entretanto, numa coisa os atleticanos irão concordar comigo: o time deles, por tudo que fez nos últimos anos e pelo elenco que montou para essa temporada, foi uma das grandes decepções de 2017. Não era para uma equipe que deveria ter brigado pelo título terminar o campeonato em nono lugar e ainda depender do resultado da final da Copa Sul-Americana para ir à Libertadores de 2018. Mas nossa gurizada, que não tem nada a ver com isso, foi lá e fez bonito, apesar de não ter saído com a vitória.
Mesmo com o resultado desfavorável, Renato, valeu a pena para nós, ainda de ressaca pelas comemorações do Tri da América, vermos o chamado “time de transição” mostrar o padrão de jogo e o toque de bola de qualidade do futebol que nos conduziu de volta à nossa alegria. Ainda que um tanto “crus”, pela idade, é bom ver Jean Pyerre, Pepê e outros nos mostrando que a base vem forte, sendo capaz de fazer frente a um Galo, em pleno Independência, que conta com muitos jogadores experientes e de renome internacional.
Agora, lembra que eu disse há algumas semanas que ainda conversaríamos sobre o Brasileirão 2017, Renato?! Então… Chegamos ao final com 63 pontos, num quarto lugar que não reflete a nossa campanha (por três momentos ontem, o vice-campeonato esteve em nossas mãos). O Corinthians foi campeão com 73 pontos. E não é preciso muito esforço para lembrar de 11 ou 12 pontos perdidos pelo time reserva ou “de transição”).
O fato é que o Grêmio foi muito criticado por ter deixado o campeonato nacional em segundo plano ainda lá no seu início. A imprensa e torcedores dos mais diversos clubes muito bateram na tecla de que teríamos plenas condições de ter disputado esse título também. Eu não julgo nem reclamo. Claro, acaso não tivéssemos ganhado a Libertadores, haveria uma inundação de críticas. Felizmente, o desfecho foi de muita comemoração para nós.
Quando a CONMEBOL e a CBF fecharam o calendário deste ano, uma coisa ficou claro (para qualquer um que entenda um pouco de futebol): não há time brasileiro com elenco para disputar as três principais competições – Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores. Não, não há! Porque toda comparação com os grandes europeus que disputam o triplete sem poupar jogadores ignora o abismo que existe entre nós e eles hoje. O mesmo que eu mencionei antes, pensando no possível confronto com o Real Madrid.
E não apenas é apenas uma questão de dinheiro. Toda a organização do futebol europeu já passa pela ideia de sincronia entre suas competições nacionais. Nenhum país do Velho Mundo possui campeonatos estaduais (para lembrar que o Brasil sozinho é do tamanho da Europa), e, se não me engano, somente a Inglaterra possui mais de duas competições (a liga e duas copas). Isso sem nem falar na questão da infraestrutura, que traspassa o mundo do futebol.
Quando algum “especialista” enche a boca para falar que o Barcelona jogou em Bilbao no domingo, pelo campeonato nacional, e, na quarta-feira seguinte, entrou em campo em Milão, pela Liga dos Campeões, com o mesmo time, eu penso como que ele pode ignorar que a ida e a volta dessas duas viagens somadas são mais curtas do que um trecho da que o Grêmio faz quando vai ao Recife. E nem comparemos os sistemas de transporte, por favor.
Renato, tu, que és técnico, sabes o quanto um dia de treino faz diferença. Uma viagem a Guayaquil, a Caracas ou a Medellín significa uma semana perdida somente em torno desse confronto. Essa é a Libertadores e a realidade latino-americana (e olha que os mexicanos nem disputam mais a Copa). A direção também sabia disso. A opção feita foi pelo título continental. E o outro torneio que poderia ser beliscado seria a Copa do Brasil (infelizmente não deu, apesar da boa campanha).
O Corinthians de Fabio Carille, que não tinha nada a ver com isso, fez por onde merecer o título. Realizou o melhor turno da história dos pontos corridos, administrou a grande vantagem e, quando decaiu, soube se mobilizar para assegurar o caneco. Ainda assim, lamentamos que esses 11 pontos que nos distanciaram, ao pensarmos naqueles perdidos de forma boba pelo próprio time titular ou nas tantas partidas em que jogamos com os reservas (que nunca haviam feito uma partida como a de ontem).
Poderíamos ter disputado o Brasileirão do início ao fim e vencido? Até poderíamos! Mas também poderia ter significado um ano sem conquistas, apesar do bom futebol construído e toda expectativa criada. 2017 já valeu pelo Tricampeonato da Copa Libertadores, por termos mostrado que resgatamos e honramos a nossa tradição copeira. E ainda não acabou! Que venha mais!
Até o Mundial!
Saudações TRIcolores!
E segue o baile…
https://youtu.be/A5bs2oozlNI
Campeonato brasileiro é campeonato de acesso. Nós somos os reis de copas!