O misterioso Quinteto para Piano de Bartók

Aos 22 anos, Bartók escreveu um imenso Quinteto para Piano e Cordas. São quase 45 minutos de uma música bem complicada. Ao envelhecer, o compositor passou a detestar esta sua manifestação da juventude. Por anos, segui a opinião dele. Só que, no ano passado, fui obrigado a ouvir atentamente a coisa e achei a peça maravilhosa. Li que Janine Jansen também é uma defensora do Quinteto. Quem ama Bartók reconhece ali, em embrião, características que serão desenvolvidas depois. O Quinteto tem todas as sementes, inclusive um movimento cigano e aquela dureza que por vezes nos arranha… Mas talvez admirá-lo seja coisa de fã, de gente que consegue reconhecer o adulto no feto.

Béla Bartók começou a escrever seu Quinteto para Piano em Berlim, não muito depois de se formar na Academia Liszt de Budapeste. Esta foi uma época em que sua música estava sob a influência de Richard Strauss e Debussy. Em 1902, Bartók tinha ouvido Also sprach Zarathustra e a impressão recebida por ele era aparente em seu recém-concluído poema sinfônico, Kossuth. Simultaneamente, Bartók também estava começando a explorar uma linguagem musical nacional como forma de expressar a identidade húngara, e essa tensão entre a tradição clássica europeia e o desejo de forjar algo novo caracteriza grande parte do quinteto. A obra foi concluída no verão de 1904 na Hungria, e apresentada pela primeira vez em Viena, no Ehrbar Saal, em 21 de novembro pelo Prill Quartet, com o próprio compositor assumindo o piano. Como ele comentou em uma carta alguns dias depois a seu professor de piano da Academia, István Thomán: ‘A dificuldade de meu quinteto prejudicou gravemente a primeira apresentação — mas, afinal de contas, de alguma forma ele foi aprovado. O público gostou ao ponto de voltarmos 3 vezes ao palco.’ As críticas foram amplamente positivas. O crítico do Welt Blatt , no entanto, foi menos gentil, observando que “um talento inconfundível luta com um vício questionável de efeitos distintos, que não raramente são totalmente repulsivos”… O quinteto foi posteriormente revisado e a nova versão foi interpretada pela primeira vez em 7 de janeiro de 1921. Com o passar dos anos, Bartók passou a detestar a peça. Zoltán Kodály pensou que Bartók tinha destruído totalmente a obra. Ela sumiu. Só que ela foi redescoberta pelo estudioso de Bartók Denijs Dille. Isso em janeiro de 1963. Ela nunca se tornou popular, mas Janine Jansen a ama e é a atual “dona” da peça. Digo que é “dona” porque ela a divulga onde e quando pode com seu enorme talento e 1,85m. É realmente uma obra que não parece ser de Bartók. Talvez o último movimento possua algo de sua voz, mas é só. Eu gosto muito do Quinteto pelo extravasamento de sinceridade juvenil, o que paradoxalmente a torna mais claro para os aficionados e mais obscuro para o público. Estou com Janine nessa.

Deixe uma resposta