Louis Ferdinand Céline: os misteriosos manuscritos agora publicados

Do perfil de Rosa Freire d’Aguiar no Facebook

Chega amanhã às livrarias na França uma pérola: o romance “Guerre”, de Céline, escrito em 1934, e cujos originais estavam esquecidos (ou escondidos?) há quase 90 anos não se sabe onde. O polêmico escritor francês, de quem eu traduzi 3 livros editados pela Companhia, teria escrito “Guerre” por volta de 1934, e o guardou em casa por dez anos, no apartamento de Montmartre. Em junho de 1944, Céline, que colaborara abertamente com o ocupante nazista e publicara infectos panfletos antissemitas, deixou a França às pressas antes que fosse preso por colaboracionismo com o inimigo. Não teve como levar todos os manuscritos. Seu apartamento foi logo invadido por vizinhos que lutavam na Resistência e que, por sua vez, tiraram de lá umas 6 mil laudas — entre elas, as de “Guerre”.

Depois, ninguém sabe o que aconteceu com esse tesouro literário. Sessenta anos mais tarde,, foram entregues (por quem? por quê?) a um jornalista, que contactou os herdeiros, que não quiseram saber dele. Então o jornalista entregou os manuscritos à polícia.

A editora Gallimard, sabendo disso, logo se interessou em publicá-los. Amanhã sai o primeiro inédito. “Guerre” conta a história de um soldado na Primeira Guerra Mundial, salvo por um inglês e que, depois da convalescença, vai para Londres. O próprio Céline participou da Primeira Guerra.
“Londres”, aliás, será o segundo romance dessa série de inéditos.

O trabalho de edição, feito por um historiador, não foi fácil. Céline era médico e tinha “letra de médico”, aqui e ali ilegível, e o manuscrito trazia abreviações, rasuras, acréscimos entre as linhas, palavras e trechos impossíveis de decifrar, e que por isso virão entre colchetes.

Uma dúvida que cerca essa história é por que Céline não teria publicado o livro? Afinal, em 1934 já era o bem-sucedido autor de “Viagem ao fim da noite” (1932). E pouco depois publicaria o segundo romance, ‘Morte a crédito” (1936). Não se sabe a razão. Mas o mistério chegou ao fim e descobriu-se um grande texto, diz a imprensa. Um romance “breve, vivo, trágico e lúbrico, a ser posto ao lado das obras-primas do escritor”, escreveu o Le Monde.

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