Mesmo com toda a misoginia da extrema direita, o nome de Michele cresce como candidata à presidência. Enquanto isso, parte da centro-esquerda bate na Janja. Tudo virado.
Depois, quando eu digo que falta estratégia à nossa trincheira, sou chatinho.
Vou até guardar esta observação.
Bate na Janja porque a influência dela não é boa.
Desculpe dizer isso, mas o governo Lula é francamente ruim. Só pra dar uma ideia, já privatizou mais rodovias em dois anos que o Bozo em quatro; só para este ano, já anunciou mais 15 trechos. Não mexeu no teto de gastos. Não mexeu na reforma trabalhista. Não mexeu no Novo Ensino Médio, uma das maiores tragédias a longo prazo que se poderia imaginar para a educação brasileira. Não teve coragem de corrigir as atrocidades que o Bozo fez nos programas de renda mínima, e que estão transformando um grande instrumento de promoção social em pouco mais que migalha contraproducente. A NBI é um fracasso, em que só o eixo da Saúde parece funcionar — e mesmo assim porque é uma indústria consolidada onde rola muito, muito, muito dinheiro por fora. E embora não seja somente culpa sua, não controlou a alta de preços, talvez o determinante pra sua péssima avaliação, e perdeu completamente o controle da narrativa sobre as fraudes do INSS. Pior, quebrou um pacto implícito com as camadas mais pobres quando tentou empurrar aquela “taxa das blusinhas”, abriu as pernas quando o pobre precarizado gritou pelo seu direito de sonegar no caso do PIX e, na questão do IOF, voltou atrás justamente onde não devia.
O governo perde todos os embates com os bandidos da Câmara porque não tem projeto, não tem como sentar e negociar. Já foi eleito assim. E Lula se encarregou de nulificar eleitoralmente todos os quadros do PT — quando ainda tinha Genro, Dutra, Wagner, até Déda para indicar como seu sucessor, indicou Dilma, e a gente viu a desgraça que foi; perdeu a batalha com ela em 2014 e depois indicou Haddad para perder — tudo isso enquanto queimava pontes com nomes palatáveis, para o próprio PT, da centro-esquerda.
Dentro desse cenário horroroso, Janja aparece como uma eminência parda que, quase sempre que se manifesta, abre um flanco vulnerável no governo. Pior, ela reforça justamente um PT que hoje precisa da polarização com a extrema-direita para se justificar, que dialoga basicamente com uma elite socio-cultural mas que não tem nenhuma influência benéfica na maioria do eleitorado — e é preocupante ver uma moça do job como a Michelle se afirmar politicamente dentro desse cenário. Eu, pelo menos, vou continuar batendo em Janja.