A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.
Olá!
Sim, muito diferentes entre si. E ótimos! O livro de Clara Corleone é uma espécie de Sex and the City melhorado, atualizado e acontecendo no Bom Fim e Cidade Baixa. O de Felitti é a biografia de Elke Maravilha, livro que tem surpreendido e encantado seus primeiros leitores aqui na Bamboletras. E o do chileno Zambra é uma importante obra latino-americana, um livro que vai ficar. Quem viu Zambra no Fronteiras do Pensamento, sabe do que ele é capaz.
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Porque era ela, porque era eu, de Clara Corleone (L&PM, 168 páginas, R$ 39,90)
Após o excelente livro de crônicas O homem infelizmente tem que acabar, Clara Corleone reaparece com um seu primeiro romance. Em Porque era ela, porque era eu, a autora aborda as relações amorosas-sexuais do século XXI, com homens e mulheres ora buscando novas formas de estar junto, ora reencenando antigos papéis. O belo título do livro nos remete primeiro a Chico Buarque e depois a Montaigne, verdadeiro autor da frase. “Porque era ele, porque era eu”, foi assim que Montaigne explicou as razões de sua amizade com Étienne de La Boétie. A explicação de uma amizade, no fundo, envolve a recusa de qualquer explicação. Estaríamos no campo da pura afinidade eletiva, ou melhor, da paixão, do amor. E Clara, num estilo arejado, com diálogos certeiros e instigantes, celebra a amizade entre mulheres e o poder de se reinventar. Um romance pulsante e grudante.
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Elke – Mulher Maravilha, de Chico Felitti (Todavia, 200 páginas, R$ 69,90)
Elke Grünupp nasceu na Alemanha em 1945. Tinha quatro anos ao desembarcar no Brasil, onde sua família se fixou no interior de Minas Gerais, para depois morar em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Altíssima e loira, ela destoava esplendorosamente das belezas locais. Elke começou vencendo muito jovem um concurso de misses em Belo Horizonte — de onde saiu para as passarelas das capitais da moda. A carreira meteórica de modelo, condimentada pela irreverência teatral com que vestia as peças de alta-costura, abriu-lhe as portas da TV, que acabava de ganhar cores. Trabalhou como atriz e jurada nos programas do Chacrinha e de Silvio Santos, tornando-se muito famosa. Mas até agora só dissemos coisas pouco importantes. Elke foi dionisíaca e livre como os personagens que encarnou. Estudou medicina, filosofia e letras. Nos anos 1970, revoltada com a ditadura militar, chegou a ser presa por rasgar um cartaz com fotos de procurados pelo regime. Colecionou casamentos e namoros nem sempre felizes, como a união com um fã que não tardou a se revelar violento. Este perfil biográfico reúne a agilidade da reportagem e a argúcia do ensaio para retratar a santa padroeira da alegria na TV nacional e musa eterna do glamour para seus admiradores.
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Poeta Chileno, de Alejandro Zambra (Cia. das Letras, 432 páginas, R$ 74,90)
Verdadeira declaração de amor à poesia e aos poetas e retorno de Alejandro Zambra ao romance, Poeta chileno é uma história encantadora sobre família, literatura e paternidade. O protagonista deste romance, Gonzalo, é um aspirante a poeta e padrasto de Vicente, um menino viciado em comida de gatos, que mais tarde vai se recusar a ir à faculdade porque seu sonho é seguir os passos do pai postiço e se tornar também poeta — apesar dos conselhos de sua mãe Carla, e de seu pai, León, um tipo duvidoso. O poderoso mito da poesia chilena – “somos bicampeões na Copa do Mundo de poesia”, diz um personagem, referindo-se aos Nobel conquistados por Mistral e Neruda – é revisitado por Zambra, um dos principais narradores do continente. O livro é sobre poesia, é sobre poetas que desprezam o romance, é sobre a América Latina, é sobre os labirintos da masculinidade contemporânea (as recalcitrantes, as novas, as que estão em transição), é sobre os trágicos vaivéns do amor, é sobre famílias modernas e fragmentadas, é sobre o desejo de pertencimento e, sobretudo, é sobre o sentido de ler e escrever no mundo atual.