Sobre a Amazon

Sobre a Amazon

Por Nanni Rios, retirado livremente daqui.

Em primeiro lugar, o que importa é ler, mas para tanto é importante manter a cadeia do livro ativa. Esta cadeia envolve um monte de profissionais que têm de ser pagos. São capistas, diagramadores, autores, tradutores, revisores, editores, etc. Ou seja, há muita gente envolvida e cada um deles recebe uma remuneração. Em geral, a remuneração é justa. Afinal, é um sistema que está profissionalizado.

No momento em que a gente compra na Amazon, está alimentando uma empresa que não paga impostos aqui. Ou seja, o dinheiro que a gente paga para a Amazon jamais reverterá em ganhos para o país e a cidade, jamais tapará o buraco da tua rua, não comprará vacinas nem escolas. Deste modo, o dinheiro que vc põe na Amazon não retorna para vc. Ele vai todo para a Lua… Ou para o Bezos.

Para o Bezos mesmo!, gerando uma acumulação indecente de riqueza. Comprar na Amazon é exatamente o contrário da distribuição de renda.

E os trabalhadores da Amazon? Vocês viram o filme Você não estava lá, de Ken Loach? É a história de um entregador da Amazon, com tudo o que ele(s) sofre(m). São jornadas exaustivas para gerar mais dinheiro para o Bezos. O filme é muito triste. O cara não tem vida, não tem tempo para nada e a vida familiar é uma treta só. É uma exploração, sem direitos trabalhistas ou dignidade. Comprar na Amazon é financiar isto.

Mas, como se não bastasse, a empresa tem o objetivo explícito de quebrar a concorrência em volta dela para que ela possa ditar o preço. É estratégia. Então, à medida em que as livrarias pequenas perdem vendas para a Amazon, a sociedade perde, assim como a bibliodiversidade. E a Amazon tem como estratégia quebrar todos estes pequenos locais — que proporcionam encontros só possíveis nelas — para que ela possa, no futuro, ditar as regras.

E mais: ela já exerce enorme pressão sobre as editoras. Ou seja, sobre a cadeia do livro e todos os envolvidos no processo. Para muitas editoras, a Amazon já é o principal canal de vendas e então ela já pode impor a condição que quiser. Ela pede o desconto que quiser, paga quando quiser e muitas vezes tem exclusividade na venda.

Esses pontos são apenas o começo da tragédia que a Amazon representa. É demoníaco.

Porém, ela não pode fazer o que faz no Brasil em todos países do mundo. Países mais avançados têm regulação financeira. Há países que não permitem o dumping, que é vender abaixo do preço de custo para provocar a quebra da concorrência. Em vários países, isto é crime contra o sistema financeiro. Na França, por exemplo, a Amazon não pode dar mais de 10% de desconto num livro até 12 meses após seu lançamento.

Eu pago meus impostos
Você paga seus impostos
Nós pagamos nossos impostos
A Amazon paga zero!

Pela #JustiçaFiscal
Tributar os ultra-ricos e as multinacionais

 

Um sonho: a Lei Lang

​Uma Lei Lang no Brasil seria uma maravilha e salvaria as pequenas livrarias: na França, a também chamada de “Lei do Preço Fixo”, foi aprovada em 1981. Ela impõe limite a descontos dados por livrarias, com o objetivo de evitar a concorrência desleal. Entre 2013 e 2014, deputados e senadores aprovaram emenda que impede a Amazon de conceder descontos superiores a 5%, bem como o frete grátis.​.. Lá, o comércio deve respeitar o período de dois anos de lançamento do livro, oferecendo descontos máximos de 5% na venda ao consumidor final. Um sonho.

A Amazon está destruindo milhares de livros não vendidos

A Amazon está destruindo milhares de livros não vendidos

Por Walker Caplan, no Lit Hub

ITV News relatou que a Amazon está destruindo milhões de itens não vendidos a cada ano — livros, TVs, laptops, drones, fones de ouvido, computadores, milhares de máscaras COVID embaladas estão todos entre os resíduos. Imagens secretas do depósito de Dunfermline da Amazon no Reino Unido, da ITV News, mostram esses itens classificados em caixas marcadas como “Destroy”, para minimizar os custos de armazenamento.

Disse um ex-funcionário anônimo à ITV News : “De sexta a sexta-feira, nossa meta era geralmente destruir 130.000 itens por semana. Eu costumava ficar indignado. Não há razão para tal destruição. No geral, cinquenta por cento de todos os itens não foram abertos e ainda estão em sua embalagem plástica. A outra metade são devoluções e em bom estado. Os funcionários acabaram de ficar insensíveis ao que estão sendo solicitados a fazer. ”Um funcionário disse que em algumas semanas, até 200.000 itens podem ser marcados como “destruir”, enquanto apenas uma fração desse número seria marcada como “doar”. (Uma semana de abril mostrou mais de 124.000 itens marcados como “destruir”, enquanto apenas 28.000 foram marcados como “doar”.)

Outro funcionário veio  corroborar o relato do primeiro funcionário e confirmou que o depósito de Dunfermline não era o único que produzia resíduos nessa escala: “Nós nos livramos de livros novos, de iPhones novos, de PlayStations. Em todas as instalações isso acontece, acredite em mim, acontece. Trabalhei em uma instalação específica, mas conhecia outras pessoas que trabalharam em outras e elas disseram exatamente a mesma coisa. ”

A Amazon negou o envio de qualquer produto para aterros no Reino Unido em declarações à ITV e The Verge e afirma que o aterro que a ITV identificou é um local de reciclagem (apesar dos rótulos “destruir”). Disse a Amazon no comunicado: “Estamos trabalhando em direção a uma meta de descarte zero de produtos e nossa prioridade é revender, doar para organizações de caridade ou reciclar quaisquer produtos não vendidos.” A Amazon disse ao The Verge que menos de um por cento de seus produtos são incinerados para geração de energia.

Assistindo à filmagem do ITV News, é difícil não pensar em todos os que poderiam se beneficiar com os produtos marcados como “destruir”. Esses livros podem trazer alegria para escolas, hospitais, prisões; esses laptops poderiam ajudar os alunos necessitados que precisaram de laptops para aprendizado remoto no ano passado. Sem falar na sustentabilidade ambiental. Como Philip Dunne, presidente do Comitê de Auditoria Ambiental, disse ao ITV News : “[Este] é um grau verdadeiramente surpreendente de desperdício de recursos. E se for verdade, é um escândalo que a Amazon tem que resolver. ”

Nos EUA, livrarias se vestem para a guerra contra a Amazon

Nos EUA, livrarias se vestem para a guerra contra a Amazon

Campanha lançada pela Associação Americana de Livrarias quer alertar para o perigo que a gigante de Seattle representa para o setor

Da PublishNews

Fachada da McNally Jackson, de Nova York, adesivada para a campanha | © Redes Sociais da ABA

Nesta semana, quando a Amazon realizou o seu “Prime Day”, campanha de altos descontos para os clientes que pagam pelo serviço de fidelidade da gigante de Seattle, seis livrarias independentes nos EUA surgiram vestidas para a guerra como parte da campanha #BoxedOut, encabeçada pela American Booksellers Association (ABA).

As vitrines das livrarias foram adesivadas com dizeres como “Books curated by real people not a creepy algorithm” (“Livros curados por pessoas reais e não por algoritmos assustadores”); “Buy books from people who want to sell books, not colonize the moon” (“Compre livros de pessoas que querem vender livros, não colonizar a lua”) ou, indo mais direto ao ponto, “Amazon, please, leave the dystopia to Orwell” (Amazon, por favor, deixe a distopia para Orwell”).

Em comunicado, Allisson K Hill, CEO da ABA, disse que as pessoas podem não entender os custos e as consequências das conveniências da Amazon, mas “Mais de uma livraria independente foi fechada por semana desde o início da crise provocada pela pandemia do covid-19, ao mesmo tempo, um relatório prevê que a Amazon vai gerar US$ 10 bilhões em receitas durante o ‘Prime Day’”. “Ligando os pontos, está claro que essa ‘conveniência’ tem um custo e uma consequência. O fechamento de livrarias independentes representa perda de empregos, de impostos locais e de oportunidades para que leitores descubram livros e se conectem com outros leitores”, completou.

As seis livrarias que serviram de piloto da campanha estão localizadas em Washington, Nova York e Los Angeles, mas a ideia é que mais associados usem as peças publicitárias em suas lojas e redes sociais.

© Redes Sociais da ABA

Facebook, 10 anos e mais de 1 bilhão de usuários

Facebook, 10 anos e mais de 1 bilhão de usuários
Atrás apenas do Google e da Amazon, por ora | Foto: Facebook/ Diulgação
Atrás apenas do Google e da Amazon, por ora | Foto: Facebook/ Diulgação

Publicado em 8 de fevereiro de 2014 no Sul21.

O Facebook, um vício irremediável, lançado em 4 de fevereiro de 2004, tem o mesmo número de usuários que a internet toda tinha em 2007. Em âmbito mundial, o Facebook já ultrapassou o número de 1 bilhão de usuários.

Traçando um paralelo simplório — pois desconsidera os perfis de empresas e de outras organizações — , diríamos que 14% da humanidade tem conta no Facebook. Proporcionalmente, o Brasil foi o país que mais deu usuários a Mark Zuckerberg nos últimos anos. O país saltou de 35 milhões de usuários em 2011 para 76 milhões. Mais da metade acessa pelo celular. Todos os dias, 61,4% dos usuários que residem na América Latina conectam-se à rede social. Isso representa uma audiência de 47 milhões de brasileiros, 28 milhões de mexicanos e 14 milhões de argentinos, porcentagem é significativamente mais alta que a média dos outros países.

Atualmente, o Brasil está na terceira colocação em número de usuários, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Índia (41,3). Se o Facebook fosse um país, seria o segundo mais populoso do mundo, empatado com a Índia e apenas atrás da China, tendo ultrapassado de longe os Estados Unidos da América com seus 310 milhões de habitantes. Recentemente, o valor da empresa foi avaliado em mais de 100 bilhões de dólares, ficando atrás apenas do Google e da Amazon dentre as empresas da Internet. Mark Zuckerberg, principal proprietário da rede social, tem uma fortuna avaliada em 16,8 bilhões de dólares.

Nesta semana, a empresa lançou um novo e bonitinho produto. Como aos dez anos de idade já dá para ser nostálgico, o Recorde Momentos cria um filme com trilha dramática cheio de fotos animadas do indivíduo desde que este entrou na rede social, também mostra as postagens mais curtidas, os melhores amigos, etc. Foi a forma encontrada pela empresa para que os usuários participassem da festa dos dez anos. Ainda que pareça meio emocionado demais.

Recorde momentos:

Parte do pacote de aniversário

Parte do pacote de aniversário
Para saber das últimas, Facebook! | Fonte: FreePik

As razões do sucesso

Se o Google serve como plataforma de pesquisa, se o Twitter é rápido em suas frases e links e se o YouTube aos vídeos, principalmente os de entretenimento, o Facebook dá um importante retorno emocional a seus seguidores.

Estes veem seus pequenos textos e opiniões aprovadas, veem fotos de amigos sumidos, batem papo um com o outro ou em grupo, formam grupos por interesse, pesquisam sobre os amigos dos amigos (“quem será essa pessoa?”) acompanham se aquela(e) amiga(o) está tendo um “relacionamento sério” com outrem (analisamos quem é e examinamos as fotos, se tivermos permissão), reagem quando um destes status se altera (às vezes com alegria, outras vezes com inveja ou ódio), ficam preocupados com a falta de uma resposta (“será que ele(a) não se conecta ou não deseja responder?”), compartilham imagens e textos entre os amigos (“gostei tanto daquilo que meu amigo escreveu que repassei a todos os meus seguidores”) e bloqueiam seus desafetos (“para que ela(e) não saiba nada de minha vida!”).

Surgem com grande frequência notícias que relacionam o site com fatos que parecem saídos de revistas de fofocas do gênero a-mulher-que-descobriu-que-o-marido-já-era-casado ou pai-descobre-filhos-desaparecidos-há-anos, mas o site — concebido justamente para utilização pessoal — também passou a ser utilizado com finalidades políticas e pelos jornais que buscam interatividade com seus leitores e divulgam suas notícias.

A tela de abertura do Facebook original

Mas antes um pouco de história. O Facebook foi um sucesso instantâneo. Mark Zuckerberg, juntamente com Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris Hughes, fundou o “The Facebook” enquanto frequentava a Universidade de Harvard. Era 4 de fevereiro de 2004 e, até o final do mês, mais da metade dos estudantes da Universidade foi registrada no serviço. Então Zuckerberg partiu para a promoção do site e o Facebook ficou disponível também para a Universidade de Stanford, Columbia e Yale. Esta expansão continuou em abril de 2004 com as universidades de Cornell, Brown, Dartmouth, Pensilvânia e Princeton. Logo foi aberto para fora do ambiente universitário e… Bem, o número de usuários chegou ao primeiro milhão em dezembro de 2004, apenas 10 meses após a fundação.

O serviço é gratuito e a receita é gerada por publicidade, incluindo banners, destaques patrocinados na coluna de notícias e grupos patrocinados. Os usuários criam perfis que contêm fotos e listas de interesses pessoais, trocando mensagens privadas e públicas entre si. As pessoas e empresas que estiverem interessadas em serem vistas na timeline de usuários escolhidos por profissão, interesses, região etc., podem pagar uma módica quantia que Mr. Zuckerberg divulga a eles. A visualização dos perfis detalhados dos membros é restrita a amigos confirmados e para membros de uma mesma rede, conforme as opções de privacidade. Há também opções de jogos. Trata-se de uma receita aparentemente perfeita e que faz com que cada usuário tenha uma média de 200 amigos e permaneça cerca de 750 minutos por mês no site.

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Kindle, o fim do livro

OK, o título é pura provocação, não acredito nisso. As previsões são previsões, como diria Gertrude Stein. A Folha de São Paulo que o diga. Vejam uma página de tecnologia que o jornal publicou em 1996 e que foi garimpada pelo Tiago Dória:

Muitos já anunciaram o fim do rock, do romance, de um monte de coisas, mas tudo o que mexe com paixões são complicadas de matar. As únicas coisas que efetivamente acabaram foram a privacidade e o cinema de primeira linha. A nova moda é proclamar o fim do livro e a grande novidade é que tal morte é apoiada por boa parcela dos ecologistas, os quais falam nas vantagens de se produzir menos papel. Só que, como sabemos, os ecologistas não contam. Como em Copenhagen, quem decide é o mercado.

Não adianta. Eu gosto de livros. Eles existem há séculos, bem mais do que os disquetes que ainda insistem em aparecer em minhas gavetas e que têm quanto? 10 anos? Creio que o formato convencional acabará junto com o mundo, mas, neste ínterim, dividirá o espaço com os e-books.

O que é Kindle? É isso aqui:

É um aparelho criado pela Amazon que tem como função principal ler e-books (livros digitais) e outros tipos de mídia digital. O Kindle 3 lê também jornais, os mais famosos blogs dos EUA, toca mp3 e faz o diabo. É como os celulares de hoje. Pode armazenar uns 1500 livros em formato pdf ou Kindle, mas isso depende, claro, do tamanho da memória. Dizem que a luz ambiente não interfere na leitura, que podemos sublinhar e anotar nossos pitacos no texto, que tudo é maravilhoso — só faltaria o cheiro do livro — e que serão riscados da face da terra os jornais em papel, os livros, etc.

Como se publica um livro? Simples. Manda-se um arquivo para a Amazon e ele te devolvem no formato Kindle sob um módico pagamento. Como colocar à venda? Não sei, mas é óbvio que é só pagar mais à Amazon para fazer também isso.

Já há Kindles com conexão à internet — permanente ou não — , o que permite a compra de livros eletrônicos sem passagem por nenhum PC. Claro, os Kindles um dia terão as funções de um PC e talvez até possam ser guardados dentro dos saltos de nosso sapatos, apesar de que não vejo grande utilidade nisso. Os livros vendidos pelas editoras através da Amazon custam em média US$ 9,99 cada um e, se eu quiser disponibilizar meu blog lá, custaria US$ 1,99 mensais ao leitor, sendo 2/3 para eles e o resto para mim. Um jornal pode ser entregue diariamente no Kindle por US$ 2,99 mensais.

Será mais um gadget caro. Alguns o considerarão vital a ponto de verem ameaçadas suas contemporaneidades quando o vizinho comprar um Kindle que mostre séries de TV americanas ou que substitua o celular e o liquidificador. Já pensaram um que escolha a música conforme a leitura? Eu já estou esperando o Kindle câmara de vídeo com a finalidade de fazer estudos lombrosianos de comparação entre quem lê Kafka e quem vê House. Ou entre quem lê Paulo Coelho e Thomas Bernhard, sei lá.