Convidado pela TVE logo após a inauguração da Casa da Música da Ospa, acho que fizemos um programa cheio de conteúdo. Coloco abaixo a íntegra do mesmo.
Showing all posts tagged Ana Laura Freitas
Ospa: muito boa, mesmo entre os carros da Cristóvão
No bom concerto de ontem à noite, a surpresa correu por conta da boa acústica da Paróquia São Pedro, da Cristóvão Colombo. Ouvi murmúrios de que os ensaios foram extremamente difíceis em razão do trânsito da avenida durante o dia — mesmo à noite pudemos notar que alguns sistemas de freios dos ônibus de nossa cidade estão desregulados… Posso imaginar o sofrimento nos ensaios, não sei como conseguiram chegar ao final deles, pois a porta da igreja dá para o leito da Cristóvão… Para nós, espectadores, os bancos são a porcaria habitual oferecida aos devotos: mesmo tendo levado almofadas, minhas costas começaram a incomodar no meio da Sinfonia de Haydn e resolvi ficar em pé. Como é duro o amor de Deus! Mesmo assim, a Ospa deveria priorizar a Cristóvão no lugar da medonha Igreja da Ressurreição do Colégio Anchieta. Talvez lá os ensaios sejam possíveis, mas a acústica é de matar. Ou seja, a vida da Ospa é complicadíssima.
Na Igreja lotadíssima — como têm sido as apresentações da orquestra — , o concerto de ontem iniciou bem veemente e simplório com a Sinfonia Op. 18, nº 2, de Johann Christian Bach. Pecinha curta que não faz muita diferença. Depois tivemos a maravilhosa Fantasia sobre um tema de Thomas Tallis, de Ralph Vaughan Williams, obra belíssima que não conhecia. A Fantasia de Vaughan Williams (1872-1958) consiste em variações altamente polifônicas, contendo belos episódios camarísticos de uma orquestra dividida em três, com uma seção respondendo à outra. O tema original é de Thomas Tallis (1505-1585), compositor renascentista inglês. É o tipo de música interessante de ser ouvida e muito mais de ser vista. Já Haydn raramente nos decepciona, sua Sinfonia Nº 99 é a mais desconhecida de suas sinfonias londrinas, mas é irresistível como as outras com grande destaque para o Adágio (2° mvto).
O regente suíço Nicolas Rauss é nosso conhecido. Sua indiscutível competência também. E sua paciência então? Afinal, ele regeu a Sinfonia Nº 2 de Sibelius na Igreja da Ressurreição em março de 2011. É um santo. Quando chega no Aeroporto Salgado filho deve pensar: “Ah, aqui é aquela cidade sem salas de concerto!”.
Bem, o próximo concerto da Ospa traz boas músicas e um cartaz estranho.