A carta de despedida de D`Alessandro

A carta de despedida de D`Alessandro

Publicada no perfil do Facebook do jogador

Colorados!

Estou diante do maior desafio da minha vida. Jamais pensei que dizer ou escrever essa frase seria tão difícil: Estou de saída do Internacional !! Eu sabia que esse dia iria chegar em algum momento, em alguma circunstância… tentei me preparar para essa hora, mas não tem como: é difícil dizer “tchau” para o lugar em que fui mais feliz em minha vida. Dizer que estou emocionado seria redundante… Chorei muitas vezes até tomar essa decisão… Não sai da minha cabeça todos os momentos que vivemos desde aquele 30 de julho de 2008, data que desembarquei pela primeira vez em Porto ALEGRE. Nem nos meus maiores sonhos de infância sonhei que seria tão bem quisto em um lugar longe da minha casa.

Jamais vou esquecer da recepção que vocês me fizeram no aeroporto, jamais vou esquecer daqueles torcedores que se penduraram na arquibancada para pegar um autógrafo meu naquele Inter x Santos, no Beira-Rio. Eu sequer havia vestido a camisa do clube e já estava sendo tratado como um rei. Aquilo foi inacreditável para mim. Não tenham dúvida que esse carinho que recebi logo no primeiro contato esteve na minha mente em todas as 340 partidas em que vesti com o maior orgulho do mundo a camisa colorada.

Nosso caso de amor foi inesquecível logo na primeira vez que joguei pelo Inter. Estrear em um Gre-Nal. Não poderia ter sido mais bonito o início da minha história no clube. Também lembro até hoje do primeiro gol. Foi contra o Botafogo, no Engenhão! Jogada do Guiña com o Taison, recebo na entrada da área, avanço, corto para o meio, dou uma última ajeitada na bola com a canhota e chuto cruzado, rasteiro. Que emoção! Nunca imaginei que viria a fazer outros 75 gols.

A primeira vez que balancei a rede contra o Grêmio também foi marcante. No Gre-Nal 373, ganhamos por 4 a 1 e pude fazer meu primeiro gol nesse que é um dos confrontos de maior rivalidade no mundo! Desde pequeno, as grandes rivalidades sempre me fascinaram. Quando entro em campo para jogar com o maior rival, sempre sinto uma sensação diferente. Graças a Deus, eu fui muito feliz na maioria das vezes que joguei Gre-Nal. Tenham a certeza que cada um dos clássicos que defendi o Inter foram diferenciados.

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Quando assinei com o Inter, uma coisa eu tinha certeza: ia levantar taça! Esse é uma garantia que você tem quando assina com um dos maiores clubes do mundo. Minha previsão demorou pouco tempo para se confirmar. Aquela decisão contra o Estudiantes, pela Sul-Americana de 2008, foi de arrepiar! O ambiente criado no Beira-Rio foi sensacional. Um baita time + uma torcida sensacional. Impossível ter outro resultado: CAMPEÃO!

Em 2009, passei a usar a camisa 10! Que responsabilidade enorme! Também foi a vez de conhecer o Campeonato Gaúcho. Nossa jornada beirou a perfeição. Entramos em campo 21 vezes e ganhamos 18. Campeões invictos! Foi muito bom! E quem diria que viria mais por aí? Ao longo da minha carreira pelo Inter, ganhamos seis dos sete Campeonatos Gaúchos que disputamos.

Durante esses sete anos e seis meses que fiquei no Inter, jamais encerramos uma temporada sem ganhar título. E para falar de conquistas não posso deixar de mencionar como 2010 foi um ano especial. A Copa Libertadores me fascinava desde menino. É uma competição que tem extremo valor na Argentina (e no Brasil também). Nossa jornada de 2010 foi repleta de momentos especiais. Na fase de grupos, fizemos uma campanha como mandam os manuais: três vitórias em casa, três empates fora. Classificados, na liderança do grupo. Veio o mata-mata e o bicho pegou! Logo de cara, o Banfield. Um adversário difícil, em um campo difícil. Sofremos muito no jogo de ida, com o poder do rival e com erros de arbitragem. Teríamos que reverter um placar adverso de 3 a 1 para que nosso sonho não terminasse ali. E aí voltou aquele ambiente infalível: time com sangue no olho + torcida fantástica. 2 a 0, passamos, e ganhamos muita força!

Nas quartas-de-final, outro argentino, o Estudiantes! Missão duríssima. Na ida, no Beira-Rio, insistimos até o fim e fomos premiados com um gol do Sorondo, aos 42 minutos do segundo tempo. Na volta, uma verdadeira batalha! Perdíamos a vaga até os 43 minutos do segundo tempo. Mas veio o gol! Passamos de forma heroica e cada vez mais sentíamos que estávamos no caminho certo!

Veio a semifinal com o São Paulo. Dois jogos duríssimos. Mais uma vez repetimos a dose! Vitória mínima em casa, derrota com gols fora! A torcida colorada outra vez deu show. Eram mais de 2 mil presentes no jogo de volta, no Morumbi. Uma festa linda!

Chegou a final e sabíamos que não poderíamos parar por ali. No México, conseguimos ganhar do Chivas de virada e encaminhamos a taça. No Beira-Rio, outro jogo duríssimo, mas ganhamos de novo! Campeões da Libertadores! Um momento mágico.

E 2010 não parou por aí. Além das conquistas coletivas, o timaço do Inter me ajudou a ganhar distinções individuais. Fui escolhido o melhor meio-campista do Brasileirão e das Américas. Ainda ganhei o prêmio de melhor jogador das Américas. O título mundial não veio, ficou esse gostinho amargo, mas o amanhã é imprevisível. Quem sabe um dia, em alguma outra ocasião, eu não estarei junto com o Inter outra vez para pagar essa conta?

Os anos foram passando e minha identificação com o Inter não parava de crescer. Em 2012, passei a ser o capitão. Uma responsabilidade imensa. Na época, eu só pensava em quantos craques tinham usado aquela braçadeira. Logo no Campeonato Gaúcho já tive a responsabilidade de levantar a primeira taça nessa nova condição.

Em 2013, experimentei uma sensação que não conhecia. A de ser o goleador. Foi um ano em que estive com a pontaria afiada. Fiz gol no Gauchão, No Brasileiro e na Copa do Brasil. Foram 20 gols, uma marca significativa para um meia… Terminei como artilheiro da temporada!

Veio 2014 e mais um momento marcante. Estreávamos o novo Beira-Rio. Um amistoso contra o Peñarol e um ambiente repleto de história. Coube a mim a honra de fazer o primeiro gol da história da nossa nova casa! O resultado do jogo? Ganhamos! Mais uma vez!

Minha história no Inter rompeu a barreira das quatro linhas. Fiquei esse tempo todo aqui não apenas pela identificação que criei com o clube. Foi muito mais que isso! Em Porto Alegre, finquei raízes. Minha família foi muito bem tratada aqui. Nós, argentinos, com toda a rivalidade que se diz entre os dois países, vivemos anos maravilhosos aqui! Posso dizer que sou gaúcho de coração! Sou porto-alegrense (até título de cidadão da cidade ganhei). Meu filho, Gonzalo, nasceu aqui! É brasileiro, gaúcho e, claro, COLORADO!

Agora, chegou a hora de voltar para as minhas raízes. Para deixar o Inter, eu só poderia ir para o dono da outra metade do meu coração: o RIVER PLATE. Um clube que me deu tudo quando eu não tinha quase nada. Um clube que me abriu as portas para o mundo, me deu a oportunidade de seguir a profissão que sempre sonhei. É com muito orgulho que voltarei a Núñez, é com muita alegria que voltarei a reencontrar pessoas que foram importantíssimas no início da minha carreira, é com muita felicidade que voltarei a estar perto de minha família e dos meus amigos de infância.

Chegou a hora de um novo desafio! Campeonato Argentino, Copa Libertadores e Recopa! Vamos com tudo! Vai ser emocionante voltar a vestir a sagrada rojiblanca, vai ser emocionante voltar a sentir a hinchada Millonaria.

Saio de Porto Alegre, mas o Inter, os colorados, e todos que me deram carinho jamais vão sair do meu coração. Estarei aqui do lado, não mais jogando, mas torcendo muito pelo colorado! Não tenham dúvida que em todo o planeta não encontrarão um argentino mais fanático pelo Inter do que eu! E isso não é um adeus, mas sim, um ATÉ LOGO!!! MUITO OBRIGADO POR TUDO! SEREI ETERNAMENTE GRATO!!!

‪#‎NuncaTeEsquecerei‬ ‪#‎VamoInter‬

Andrés Nicolás D’Alessandro

Hoje, os 70 anos da morte de Virginia Woolf

Meu querido Leonard.

Tenho a certeza de que estou enlouquecendo novamente: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Comecei a ouvir vozes e não consigo me concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor.

Deste-me a maior felicidade possível. Foste em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia querer. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou a destruir a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser.

Não consigo ler.

O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Foste inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom.

Quero dizer isso — toda a gente sabe. Se alguém pudesse ter-me salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos.

V.

Virginia Woolf em 1902