O estranho concurso da Ospa (Parte V – Que Banca é essa?)

O estranho concurso da Ospa (Parte V – Que Banca é essa?)

A Banca Examinadora do Concurso Público para preenchimento de vagas de músicos na Ospa foi publicada dia 10 no Diário Oficial do Estado do RS. Ninguém de fora. Ninguém de nome, apesar da alta qualidade de alguns maestros e solistas que participam de concertos com a Ospa. Só gente da própria orquestra. Vários alunos serão julgados por seus professores; vários amigos serão julgados por amigos; e se houver inimizades? Como garantir a imparcialidade?

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O estranho concurso da Ospa (Parte IV – A Banca)

O estranho concurso da Ospa (Parte IV – A Banca)

O crítico tem que educar o público; o artista tem que educar o crítico.
OSCAR WILDE

Verdade. Aprendi muito e me senti muito honrado ao receber diversos textos com opiniões de mestres a respeito de concursos para músicos em geral. Como o fluxo de informações não foi estancado pelo final de minhas publicações — ao contrário! — fico obrigado a elaborar um curto post a respeito das últimas manifestações. Alguns músicos, ao lerem as publicações anteriores e verem garantida a confidencialidade, acharam interessante meterem sua colher no assunto com uma franqueza aparentemente impossível de se usar num ambiente tão pontuado pelo compadrio como o gaúcho ou o brasileiro. (Isto ocorre não somente na música, os escritores também trocam elogios de forma baratíssima). Vi elogiada a minha “coragem” de colocar em discussão algo que não costuma ser tema em nosso ambiente. Grande coisa…

Outra conclusão a que chego é que a maioria dos músicos leram corretamente em minhas manifestações o mais profundo interesse em guindar a orquestra a um patamar artístico superior, fato que permaneceu obnubilado para alguns membros da orquestra que simplesmente não concebem tal interesse. Espero que minha atitude não lhes pareça por demais inusitada. Quero uma Ospa melhor — penso que ela seja deficiente — e acho que melhores músicos mudarão também o perfil cultural da cidade. Além disso, poderão também trabalhar como professores e aumentarão o número de recitais de música de câmara. Enfim, teriam o potencial de arejarem o ambiente musical da cidade, deixando-o mais rico e diverso.

Sigo achando o edital apressado e torto. Obviamente, não sou contra o concurso, mas que deveria ter sido feito antes, que a primeira parte deveria ter obras solo já que não tem piano, deveria ter prazos maiores, deveria ter uma abertura bem clara aos estrangeiros, e, bem… Já disse que tinha ficado muito decepcionado porque nenhum dos “comentaristas” que me mandaram suas opiniões haviam falado numa coisa que considerava fundamental, ou seja, a banca?

julgamento

Claro, já que ninguém falou nela, não devia ser tão importante e recolhi-me ao silêncio. Porém, na quinta e sexta-feira, eu recebi belas explicações sobre a composição de bancas e, se algumas pessoas da orquestra ficaram furibundas com meus posts anteriores, este irá deixá-los dez vezes mais contrariados. E só vou colocar trechos leves.

Um dos discursos é este: “O importante é garantir a entrada dos melhores músicos. A OSPA não tem em sua estrutura membros capazes de formar várias bancas completas de primeira linha. Há bons músicos somente aqui e ali. A sociedade não cobra suficientemente seus secretários de cultura e governadores para que pensem a OSPA como uma grande representante do RS em uma das esferas de produção cultural. A orquestra poderia ser excelente. A banca examinadora pode e deve ter músicos da orquestra, principalmente aqueles de primeira linha, porém os locais não devem jamais formar uma maioria. Isto somente funciona nas grandes orquestras internacionais — aquelas em que os próprios músicos cobram de si mesmos e de cada colega que apresente o seu melhor em cada ensaio e concerto. Não é o caso de Porto Alegre”.

E vem um velho músico aposentado e enfia o dedo ainda mais profundamente: “Acho que os erros de avaliação podem ocorrer não como um pacto combinado, mas como reflexo do referencial pobre dos membros da banca. A maioria não consegue detectar arte de alto nível porque não têm cultura de alto nível. Por isto, a banca deveria ter convidados incontestáveis que formassem maioria em relação aos locais ‘sem horizonte'”.

E outro: “Na Europa, por exemplo, o comum é que cada banca seja formada pelos spallas dos naipes junto com convidados e o regente titular. Os naipes devem assistir e, quando dois ou mais candidatos chegam no final com a pontuação igual, o naipe é perguntado sobre quem cabe melhor no grupo”.

Não lembro de ter lido detalhes sobre a formação da banca no edital. Só lembro do anúncio da banca para o dia 11 ou outro dia. Não se sabe quantos convidados haverá lá. Espero que vários. Se eu estiver errado, bastará explicar calmamente nos comentários. Não estou aceitando ofensas, OK?

Concluo a quarta parte com duas ou três afirmativas. (1) Se o salário da Ospa não é maravilhoso, há estabilidade, o que torna cada vaga objeto de cobiça. (2) Os candidatos serão numerosos e a banca, a ser anunciada em 11 de novembro  — se não me engano –, é fator CRUCIAL para o sucesso do concurso. Espero realmente que haja maioria de autoridades de fora para que não haja isto, tão comum em nossas instituições federais e estaduais — já trabalhei com estatais e sei como é. (3) Mantenho as posições que expus anteriormente. Não li nada que me convencesse cabalmente de que estou equivocado. (4) Com a (lamentável) vitória de Sartori, é provável que o diretor artístico esteja de malas prontas. Sua presença está prevista na banca?

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O estranho concurso da Ospa (Parte III – final: Os Requisitos)

O estranho concurso da Ospa (Parte III – final: Os Requisitos)
Venezuelanos, stay at home!
Venezuelanos, stay at home!

A primeira parte está aqui e a  segunda aqui.

Nas duas primeiras partes, contei com o auxílio de várias pessoas — citadas ou não — que falaram com muita seriedade e conhecimento a respeito do assunto. Finalizo mantendo a seriedade, mas contando apenas com o pouco brilhantismo de minhas opiniões.

Antes de analisar alguns dos requisitos, gostaria de escrever algumas frases sobre a pressa e o momento inoportuno em que ocorre o concurso. E nem falo mais no final do mandato do governo do estado.

O edital foi publicado no DOE (Diário Oficial do Estado) no dia 3 de outubro e o final das inscrições ocorrerá nesta sexta-feira, 24 de outubro, às 23h59. Penso que tudo foi feito dentro da lei, mas fora do bom senso. As provas serão realizadas em novembro, que é uma parte do ano em que todos estão muito ocupados. Também o pequeno prazo torna complicado marcar passagens, cancelar compromissos, etc., para as pessoas de fora de Porto Alegre. E acredito que a Ospa pense em obter os melhores instrumentistas para a orquestra, facilitando ao máximo o acesso ao concurso. As vagas não são milionárias mas há a estabilidade logo ali no horizonte. Por isso, muita gente se interessa. Seria o caso de fazer tudo com mais tempo, acredito.

Bem, a questão dos requisitos é delicada e costuma agredir os brios de muita gente. O primeiro problema é com o item b) no caso de estrangeiros, estar em situação regular no Brasil. Ora, estar em situação regular significa ter visto de trabalho. Ou seja, os que podem participar do concurso são os brasileiros, os estrangeiros naturalizados e aqueles que já estiverem trabalhando no país. Isso exclui o pessoal do Prata e, principalmente, os venezuelanos do El Sistema. Desta forma, podemos ter médicos cubanos, mas não violinistas venezuelanos! Ou seja, o item b) é limitador e, diria, provinciano. A Osesp, para dar um exemplo de alta qualidade no país, faz o mesmo — pois a lei exige, é claro, situação regular no país –, mas dá um prazo para que o estrangeiro regularize sua situação. A Ospa não poderia fazer o mesmo? Outro problema é que o formulário de inscrição da fundatec.org.br só fala português e, para poder chegar até a tela de inscrição, há que se informar o CPF… E há músicos desempregados e orquestras desmanchando-se na Espanha, Itália, etc.

Paradoxalmente, o item d) é extremamente democrático. É assim: podem participar do concurso os que d) possuir(em) escolaridade nível médio completo ou equivalente (estrangeiros) (sic). Tal indulgência extrema é empobrecedora ao não valorizar a educação e a cultura. A falta de uma formação musical acadêmica não deveria ser eliminatória, mas tal formação deveria ser pontuada. A Ospa não dá muita bola, mas creio que não precise explicar para meus sete leitores que educação é uma coisa boa. E talvez não precise explicar que a entrada de músicos de outras culturas melhoram o nível da orquestra, apesar do estado orgulhar-se de seu caráter insular. Não pontuar por títulos, não diferenciar a experiência, a vivência, o conhecimento e a cultura… Desculpem, mas eu ri. Com seriedade.

Faria mais alguns reparos, mas é semana de eleições e as obrigações me chamam.

Antes de terminar, gostaria de acrescentar à Parte I desta série que recebemos um telefonema informando que há 22 pessoas trabalhando na administração da Ospa. Destas, 20 seriam CCs. Pergunto: é verdade? Os espaços para comentários — nosso guichê de atendimento — está sempre aberto para esclarecimentos, elogios, choros, ofensas e bombons.

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