Zimbros, as velhinhas

Zimbros, as velhinhas

Estamos, eu e Elena, aqui na praia de Zimbros em Bombinhas (SC). Fui buscar nosso almoço num restaurante próximo de nossa pousada e fiquei alguns minutos sentado numa mesa. Entraram quatro pessoas. A primeira era uma velha de uns 85 anos que vinha de bengala mas rápida, seguida por seu filho que devia estar pelos 60. Logo depois, junto com uma auxiliar de idosos, entrou uma senhora que devia ser quase centenária. A moça a segurava por trás, enquanto ela jogava para a frente um andador de idosos na esperança de chegar de novo até ele.

Por algum motivo, achei que havia certa animosidade entre as duas velhas, ambas de cabelos branquíssimos. Uma entrando na frente a toda velocidade, como se desse uma demonstração de força; a outra vindo lenta e inexoravelmente atrás.

O filho começou a negociar o pedido. A primeira queria comer uma anchova grelhada, mas já foi dizendo que a mana não poderia dividir o prato com ela porque anchovas tinham espinhas e ela poderia morrer com uma delas enfiada na garganta. A outra disse que queria anchova, é claro. O filho emitiu uma voz toda carinho:

— Tia, pode ser perigoso. Acho que a mãe pode ter razão.

A velhíssima foi sensível à delicada voz de tenor do sobrinho. Sorriu, fez uma cara de sacaninha e disse:

— Quero risoto de mariscos.

A velha rápida deu um salto:

— Você sempre odiou mariscos. A vida inteirinha. Quem AMA mariscos sou eu! Viu só, Amâncio, ela passa todo o santo dia, 24h, me provocando.

Amâncio olhou para mim. Desviei meu olhar para o livro que estava aberto à minha frente enquanto o ouvia dizer:

— Tia, é isso que a senhora realmente deseja comer?

— Sim, hoje eu quero mariscos.

— Amâncio! Ela só quer me deixar irritada — atalhou velha rápida.

— Ora, mas por que você pediu logo anchova? Você come a minha anchova e eu me refs… refes… refestelo com teus AMADOS mariscos. Hoje, eles estarão maravilhosos. Tenho certeza.

Rindo para mim, Amâncio chamou o garçom.

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