Nossa peregrinação ao Grande Pato

Nossa peregrinação ao Grande Pato

Deus Pato da Paulista

No último domingo, hordas de crentes dirigiram-se ao Grande Pato gritando “Quac! Quac!”. Sabemos que todo brasileiro adulto é obrigado a, pelo menos uma vez na vida e desde que disponha dos meios econômicos e goze de saúde, visitar o Grande Pato da Av. Paulista em São Paulo. Ele é nossa imagem, apesar de ter sido criado por um pessoal que vive de tenebrosas transações (obrigado, Chico).

A peregrinação do último domingo é nosso Hajj, nossa ida a Meca. Fiéis de todos os pontos do país acorreram ao local em busca de salvação e alento. Mas, desta vez, ao lado da religiosidade do brasileiro — tão desenvolvida em nós que nosso Congresso é em boa parte fundamentalista — ao lado o espírito místico da salvação, havia certo desespero.

Pois já que está difícil de Jesus voltar, já que o governo está ao pedaços, já que somos liderados por uma pessoa que não conversa e fala mal, já que ela que não faz política, já que perdeu o Congresso, restou-nos o Grande Pato.

Já que se tirarmos a Dilma entra o Temer — que é um nome e um verbo –, já que se tirarmos o Temer entre o Cunha — que é um nome e uma primeira sílaba –, restou-nos o Grande Pato.

Já que o varguista Pré-Sal vai nos fazer nadar num mar de fuligem e poluição, restou-nos o Grande Pato.

Já que desfizemos as proteções ambientais e partimos para a ofensiva contra os povos indígenas, restou-nos o Grande Pato.

Já que desprezamos a política, restou-nos o Grande Pato.

Já que algumas Operações da Polícia federal vão de vento em popa, enquanto outras ficam em calmaria, restou-nos o Grande Pato.

Já que 2013 afogou-se em 2014, restou-nos o Grande Pato.

Já que as merendas não chegam, restou-nos o Grande Pato.

E o Grande Pato é nossa imagem. Clarice Lispector diria que ele nos é. Ou que nós o somos.

Meus amigos, o fim do mundo está próximo. Iremos e veremos. Não esqueçam que Vá e veja é nome de obra-prima cinematográfica e citação do Apocalipse. .

Que Ciro Gomes e Marina Silva permaneçam quietos em suas casas, orando junto ao Grande Pato. E que Deus permita que seus carros fiquem sempre limpos, porque esse pessoal das garagens é muito perigoso. Às vezes, levam até as esperanças dos candidatos.

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O Iluminado Reloaded (e mais apavorante ainda)

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Uma festa de velório

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Enquanto o PT e o PSDB brigam, o Estado Laico vai pro brejo

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Salve-se quem puder
Salve-se quem puder

A dicotomia tipicamente gaúcha foi exportada para a política nacional faz mais de uma década. O Grêmio e o Inter, a noite e o dia, o bem e o mal, o preto e o branco, deus e o diabo, o céu e o inferno, o PT e o PSDB. Isso é empobrecedor demais. A Veja e assemelhados fazem seu discurso de ódio ao PT, enquanto vários pequenos veículos e blogs respondem. Um trata de demonizar o outro em exageros espetaculares, como se o mundo se resumisse a detestar a Dilma ou o Aécio.

No entanto, há mais coisas no ar. Houve uma bancada que conseguiu enorme projeção no primeiro mandato de Dilma: a Bancada Evangélica. Segundo dados da própria Frente Parlamentar Evangélica, nas eleições de 2010 a bancada cresceu de 46 deputados (9% do total da Casa) para 68 deputados (13,2% do total), um crescimento de quase 50%. No Senado, os evangélicos têm 3 representantes: Walter Pinheiro (PT-BA) da Igreja Batista, Magno Malta (PR-ES) da Assembleia de Deus e o bispo Marcelo Crivella (PR-RJ), um ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.

Os evangélicos cresceram tanto que o comando da campanha à reeleição de Dilma Rousseff está preocupado com o voto deles, um eleitorado que representa 22,2% da população, ou 42,3 milhões de brasileiros, segundo o último Censo do IBGE. Agora será mais difícil conquistar esse eleitorado, sobretudo diante da candidatura de um de seus representantes, o Pastor Everaldo Pereira, do “Partido” Social Cristão (PSC) e da Assembleia de Deus. Em seu primeiro dia de campanha, Everaldo anunciou que criará o Ministério da Segurança Pública. E disse: “Com a Bíblia e a Constituição Federal nas mãos, inicio aqui, com Fé, minha caminhada para mudar o Brasil de verdade”. Assim vai nosso Estado Laico.

Dei uma passada no Facebook, blog e site do pastor. É de um retrocesso constrangedor. Inverdades vendidas como “verdades” e mais ódio, ódio e ódio à, digamos o termo exato, felicidade. Os evangélicos preveem um maior crescimento nestas eleições. Pensam que aumentarão em 30% sua presença no Congresso. Já há partidos políticos que se colocam frontalmente contrários ao Estado Laico, casos do PR e PSC. As mulheres e os homossexuais que se preparem, ainda mais que as leis de financiamento de campanha nunca são alteradas. Os caras têm grana e Everaldo já teria 4% dos votos, segundo as pesquisas. Isso sem contar com Marina Silva, vice de Eduardo Campos, terceiro colocado nas pesquisas.

Aberrações como o tal Estatuto do Nascituro — com sua consequente proibição do aborto –, cura-gay, homofobia, retirada da diversidade de gênero do Plano Nacional de Educação, o impedimento do kit gay — que foi retirado do MEC por Dilma e que era apenas um kit educacional contra a homofobia — e outros fatos foram os primeiros passos contrários a um Estado Laico onde a religião seja uma escolha íntima, uma necessidade pessoal. O que virá? Olha, me cago de medo dessa gente.

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