O caso do blog "Não gosto de plágio"

O excelente e combativo Não gosto de plágio foi processado por ter acusado… mais um plágio. Há um gênero de trapaça pouco conhecida e muito, mas muito sacana. É o plagiador (ou copiador) de traduções alheias. Imaginem que o plagiador, normalmente o próprio editor ou um funcionário, faz a tradução de uma obra de, digamos, Philip Roth; porém, em vez de traduzir a obra, pega uma edição portuguesa, dá uma “tropicalizada” e manda bala.

Denise Bottmann foi processada por denunciar uma tradução suspeita. Trata-se de uma tradutora  profissional que apenas deseja manter o espaço que é dos tradutores autênticos, daqueles que suam para compreender e mimetizar um autor. Minha mulher faz traduções do italiano e já me mostrou livros que continham 10 erros — de todo gênero — por página. Erros incríveis, que talvez fossem herança de um mau tradutor de primeira mão. O que Denise apontou afeta muito a mim: uma versão da editora Landmark para Persuasão, de Jane Austen…

Neste post, Denise nos dá detalhes sobre o que seria um indiscutível crime. O tradutor é o Sr. Fábio Cyrino, um dos proprietários da Landmark; sua versão do clássico apresentaria grandes semelhanças com a tradução portuguesa de Isabel Sequeira, publicada pelas edições Europa-América em 1996. Ao que tudo indica seria mais um caso de editor que rouba mercado de trabalho de quem sabe traduzir — e cobra adequadamente por isto. A Landmark costuma editar principalmente obras sobre maçonaria, mas também gosta de ornamentar seu marasmático catálogo com coisa mais divertidas e inteligentes como A volta do parafuso e O morro dos ventos uivantes. Espero que James e Brontë estejam tranquilos em seus túmulos. Tenho pena de Jane Austen, que deve estar louca por um chá de camomila, preocupada com o destino de nossa heroína Anne Elliot.

Como vocês sabem, tenho alguma vivência nestas coisas de processos contra a blogosfera. Já digo que não vai dar em nada e peço a quem concordar comigo que dê o devido destaque ao caso. Também sugiro à Denise que publique ipsis litteris a inicial em seu blog. Afinal, o juiz declarou o processo como público — contra a posição do advogado do Sr. Cyrino — e penso que as pessoas ainda podem amparar-se em pressupostos morais como este: quem processa outrem deve estar pronto para sustentar e defender os motivos alegados em qualquer lugar e ocasião.

P.S. — A blogueira Raquel Sallaberry, do Jane Austen em Português, também está sendo processada pela editora.

P.P.S. — Sabem o que o Sr. Cyrino pediu? A retirada imediata do blog, além de uma indenização de 400 salários mínimos por calúnia e difamação. 400 mínimos? Retirada do blog do ar? O pior é que Denise vai perder tempo, gastar uma grana em advogado, etc. Tudo para nada.

13 comments / Add your comment below

  1. Até isso existe!!

    Parece-me que para ser decretado legalmente um plágio, tem de haver um número de repetições tal que tudo fica subjetivo e salvaguador para o ladrão (bastando maquiar a coisa devidamente), assim como na música. O caso do Coldplay copiando o Satriani, p. ex. A mim sempre pareceu que o clássico “sabão cra cra” dos Mamonas Assassinas, é a cópia descarada da principal frase do primeiro movimento da terceira sinfonia de Beethoven.

    Sobre as traduções: há aquelas que dá vontade de bater no tradutor; o famigerado José J. Veiga, escritor goiano autor de “A Hora dos Ruminates” (que o diabo o tenha!), perpetrou uma tradução de três volumes dos contos completos de Hemingway, lançada pela Globo. Há tantas incorreções que mesmo não confrontando com o original o leitor percebe-as na a-musicalidade do texto. E há um acidente gravíssimo: no melho conto de Hemingway, “Montes como Elefantes Brancos”, a parte onde a mulher repete taxativamente 7 (SETE) vezes a frase “por favor”, criando um arrepio no leitor de completa estranheza, o JJ repete a frase apenas duas vezes!!!

    A companhia das letras tem ótimos tradutores. Também a Cosac e Naify.

    Abraço.

    1. Tchê, eu fui amigo de um cara que morria por uma frase mal traduzida: Herbert Caro. Acho que o prazer que dá uma tradução dá ao traduto e AO LEITOR não pode ser maculado por este gênero de trapaça.

    2. charlles campos:

      O sabão Cra Cra, se os Mamonas registraram como deles vão queimar no inferno.

      Esta musica eu conheço desde o inicio da decada de 80, todo mundo cantava ela em excursões de escola e provavelmente a melodia deve vir de algum classico.

      O que o Mamonas fez foi gravar a brincadeira em estudio, sem mudar nada.

  2. Oi Milton

    Bom retorno!
    Estou acompanhando o caso desde o início da semana e, juro, fiquei chocada. Corri para minha novíssima aquisição, uma edição bilíngue de [b]Orgulho e Preconceito[/b] (da citada editora) com uma sensação de ser duplamente enganada. Primeiro porque (me perdoe a tradutora, se ela trabalhou realmente nisso) tradução é muito ruim. E fica ainda pior com o texto original ao lado que permite comparação. De fato, a tradução consegue alterar o sentido da mais do que clássica frase inicial do romance. Ela traduz “good fortune” por “grande (??) fortuna”, o que a meu ver altera o sentido direto da frase. Somado a este desagrado, agora vem a horrível possibilidade de que a editora possa ter desprestigiado o importante e complexo trabalho dos tradutores.
    Quem lida constantemente com livros sabe o quanto um boa tradução é fundamental e não apenas no domínio da literatura. Na história, temos livros fundamentais cujas tradução nos fazem chorar e precisamos corrigi-las em aula para nossos alunos. E isso, muitas vezes, nem é culpa do tradutor, mas do fato de a editora não pagar um revisor da área para ajustar os termos técnicos.
    Um exemplo que me dói: a Cambridge University Press tem uma excelente coleção de assuntos diversos publicada em grandes livros de colecionador. Um deles, sobre História da Medicina e contando com os maiores nomes entre os pesquisadores anglo-saxões da área, foi publicado no Brasil, mas tendo como publico alvo: médicos. Contudo, o texto tem absurdos que até para o leitor não familiarizado com termos históricos soam quase ofensivos. Tipo: dizer que no passado as pessoas acreditavam adoecer por culpa de [i]olho do mal[/i] (“evil eye”, facilmente traduzível por “mal olhado”, o que faria sentido para nossa históra da medicina) ou de [i]charme[/i]!!!! Isso mesmo!! Charme! Charmed (encantamento, feitiço) traduzido por charme (de pessoa que é charmosa!!)??
    Talvez, o caso da Denise traga à tona coisas tão importantes quanto a liberdade de expressão e de denúncia. Nosso direito de não sermos enganados. Nossa necessidade de respeito pelo trabalho bem feito. Nossa (esquecida) possibilidade de exigir que as obras traduzidas valham o preço que nos cobram por elas.
    Estou adotando a postura que vi no [i]Livros e Afins[/i]: quero o nome do tradutor na capa e (esta eu adiciono) quero que todo o texto traduzido tenha um bom revisor!!

    Desculpa Milton, a madrugada me faz escrever demais.
    Abraço!

  3. Não vai dar em nada? Lógico que vai! A imagem da editora já foi para o espaço! Mas acredito que tudo depende do Juiz e dos valores acordados 😉 Veja o caso da Editora Globo e Nova Cultural – Tanto alarde para nada e os leitores/blogueiros, nem aí.
    Como você disse, a Denise Bottmann é tradutora antes ter um blogue, então não é um caso de processo contra a blogosfera.
    Até porque como blogueira ela não tem uma didática muito boa para explicar bem como se constata um plágio em tradução para o grande público, ficando este assunto marromeno entendido, já que o assunto, interessa mesmo aos defensores da classe, que têm por obrigação, proteger os leitores das gambiarras publicadas. Apontar os falsos tradutores é um caminho, mas eles boicotariam trabalham em editoras maiores que usam de ‘fakes’?

  4. Pingback: apoiodenise
  5. Gravada em1981,uma melodia gospel, intitulada profundo amor, foi plagiado 8 compassos inteiros da primeira parte ,fazendo somente um ornamento no 7 e oitavo compassos. Creio que vai ser esclarecido por peritos comprovando a veracidade dos fatos.Qualquer informação a respeito ,estou para esclarecer.
    Maestro David Monteiro

  6. O plágio de 8 compassos de uma melodia gospel,é real registro de fato, gravado em 1981 ,pela gravadora D.m.Da Silva,e o titular é compositor da melodia ,está esperando a justiça resolver,mas por enquanto não se manifestaram a outra parte. .Gravadora EMI com certeza vai se manifestar ainda ,sobre a melodia pelados em santos.

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