Tú me acostumbraste a todas esas cosas…

Publicado em 26 de dezembro de 2007 (com complemento de hoje)

O Natal até que estava bom, apesar da máquina de lavar louça ter resolvido estragar justo no dia de maior demanda, fato que me deixou lavando as coisas do jantar até às 5h10 da madrugada. Mas — qual é o problema? — , ao meio dia eu iria buscar os guris para o almoço das sobras e estava numa boa, até porque alguns de nossos comensais me causaram aquela típica euforia sentida quando vislumbramos a possibilidade de boas e frutíferas amizades.

Após o almoço, no meio da tarde, eu estava repassando 14 CDs de Goran Bregovic para o pen drive de um amigo, tendo já agendada uma piscina com meu filho, enquanto minha filha assessorava meu afilhado num jogo de computador. Tudo tranquilo e besta como sói acontecer num dia de Natal. Na piscina, convidei meu filho para ir ao cinema conosco ver O Amor nos Tempos do Cólera. Propus buscar sua namorada para agregar-se a nós. Sorrisos sob o sol já baixo.

Mas ela, Pâmela ou Suélen (nunca lembro seu nome), tinha que participar.

Quinze minutos depois, eu finalizava meu banho. Ao sair, vi minha irmã invadindo nosso apartamento, coisa que nunca havia feito, ao menos daquela maneira assustada. Disse que vira meu filho caminhando pela rua com minha filha dez metros atrás. Ele, transtornado; ela, irritadíssima. Minha irmã travou o carro, deu ré e alcançou meu filho. Ele disse que tinha dado merda e que não poderia falar. Ao ouvi-lo, ela pensou que tínhamos brigado feio, talvez tivéssemos trocados alguns inéditos sopapos (Sopapos, nós?). Ele não quis carona, pegaria um táxi. Minha filha não falava. O que poderia ter acontecido para tanto estresse?

Quando minha irmã me abordou — eu de cuecas — , a primeira coisa que ouvi foi a pergunta: “que merda aconteceu”? Eu não sabia de nada. A Claudia disse que ela havia telefonado por causa de um mal entendido de horários. Que gritara e ofendera o Dado no telefone. Tudo normal. Tudo igual. Sempre.

Ocorre muito, mas há certa preferência por efemérides. Há dois anos, fora no Ano Novo, estávamos na praia e ela conseguiu desligar um celular que eu pago, pois, após uma série de raciocínios fantasiosos, concluiu que eu tinha sido roubado… Há três meses, foi no aniversário da Bárbara; há um ano e meio, em pleno Dia das Mães, o qual deveria ser feliz e sem minha presença. Só que me ligaram chorando e pedindo para que eu fosse pegá-los, pois nem no naquele dia ela ficara em casa e tinha deixado-os sós para ir a um concerto. A sós, à noite. Todo mundo tem o direito de se divertir no seu dia, não?

…Y tú me me enseñaste que son maravillosas.

Fico pensando no livro maisquememória, de Marcelo Backes. Na página 303, ele define a mais bela palavra da língua portuguesa, a palavra serenidade, assim:

Serenidade é alegria, tranqüilidade, sabedoria e clareza, tudo isso num som que ecoa o azul do céu e a claridade do éter.

(Porém, cada vez que leio ou ouço a palavra serenidade, a primeira coisa que vem à cabeça deste ser futebolístico é a imagem de Ademir da Guia correndo com a bola, de cabeça erguida. É alegria, tranqüilidade, sabedoria e clareza. Nada a ver com Suélen. Ou Pâmela, nunca lembro.)

E hoje, cedinho,em pleno 1º de novembro de 2010, 9 anos completos de separação, encontrei-me com um velho conhecido que diz que Suélen segue falando mal de mim… Notável e inacreditável. Ela quis a separação, deixei tudo para ela, há um outro marido. O que mais ela quer?

4 comments / Add your comment below

  1. Dei pra mal dizer o nosso lar
    pra sujar teu nome, te humilhar
    e me vingar a qualquer preço
    te adorando, pelo avesso
    pra mostrar que ainda sou tua
    até mostrar que ainda sou tua.

    Palavra de quem vê a mãe falando mal do pai mais de 25 anos depois.

  2. Tenho para mim que falar mal de ex depoe contra quem fala. Não acho que necessariamente quem fala mal é porque ainda gosta. Quem fala mal é porque ainda se incomoda com o outro. Porque ainda espera. Espera atenção, grana, um pedido de perdão, vai saber. A gente deixa de falar mal (de se incomodar) quando já não espera rigorosamente nada. Nem para a gente, nem para os filhos. Porque compreende que nada virá do outro, ou porque o outro é bacana, e assume junto com a gente aquilo que ficou, no caso, os filhos. Ou, melhor ainda, uma amizade.

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