O Questionário de Proust (XVI) – Responde Tiago Casagrande

Publicado em 7 de março de 2007

Apresentar Tiago Casagrande, o Tiagón? Fiquei um bom tempo na frente do monitor pensando em como somos parecidos. Ele não sabe disso. Sinto-me muito próximo a ele. Ele é mais ou menos eu há 22 anos atrás. Espero que dê mais certo… Um exemplo: só li suas respostas hoje, mas já tinha pensado em dizer que meus momentos mais felizes ocorreram enquanto ouvia música e quando vi meus filhos pela primeira vez. Ele respondeu o que eu responderia e colocará seus filhos na resposta quando tivé-los. Estou escrevendo este parágrafo – agora!, em linguagem Tristram Shandiana – e vejo a Olivia no MSN. Peço-lhe para que ela apresente o Tiago. Ela escreve o que segue e não acrescentarei mais nada porque não precisará:

Tiagón é uma mente que transita por entrelinhas de idéias, nisso de captar o que existe em planos outros. Um escritor meio musical ou talvez um músico meio literário perdido – perdidíssimo – entre publicitários. E ele só faz mesmo sentido em sua falta de sentido, olhando o mundo com seus olhos de rei anacrônico feito criança que não sabe ler e vira o livro de ponta-cabeça porque afinal são tudo pequenos desenhos enfileirados. E só não digo que Tiagón é gênio porque gênio é coisa de poeta romântico e crítico bardólatra mal-resolvido.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Ultimamente os humanos andam me irritando muito. E a maioria desses defeitos pode ser englobada numa categoria “desrespeito”.

Como gostaria de morrer?

Sonhando. Ei, na verdade eu não gostaria de morrer! Essa é uma pergunta capciosa? ;-D

Qual é seu estado mental mais comum?

Ocupado, como um pregão da bolsa de valores. Na minha cabeça tem sempre um monte de gente gritando, confundindo e geralmente me vendendo.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Space Ghost, versão talk show host. Meu alter ego é burro e sem noção de nada.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Um ao vivo pirata do Black Sabbath, gravado em 74. Na época, custou quase uma mensalidade da Famecos (que era, imagina, 350 pilas).

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Provavelmente, o Faustão.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Woody Allen.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Ah, só se fosse alguém muito rico, tipo Príncipe de Dubai, essas coisas. Se é pra voltar pro miserê, me deixa em paz!

Em quais ocasiões costuma mentir?

Em eventos e festinhas de publicitários. Mas só porque é de bom tom.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

A ausência total de angústia. (Soou muito dramático? Dá pra botar um drum roll no final, se achares melhor ;-))

Qual é seu maior medo?

Um ataque simultâneo de mais de 150 espécies de insetos, sendo metade deles (mais um) formada por unidades de ataque voadoras. Agh!

Qual é seu maior ressentimento?

A vitória da Yeda nas últimas eleições. E o futebol do Ronaldinho na final do mundial de clubes passado.

Que talento desejaria ter?

Barba e costeletas.

Qual é seu passatempo favorito?

Ler os blogs da Verbeat! Ler continua refrescando.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Adicionaria uma tia rica, generosa e moribunda. E um primo fanho. Primo fanho é diversão garantida!

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Rabada!

Onde desejaria viver?

Numa Porto Alegre com a segurança de 20 anos atrás. E que tivesse mais bares legais perto da minha casa. E um súper melhorzinho, porque aquele da Carazinho tá muito bagunçado. E num Petrópolis que não tivesse tanta lomba. E o Barranco não cobrasse tão caro.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Vida saudável. Ergométricas, broto de alfafa e despertar às 6h da madrugada não conjugam com o verbo “viver”. Tá todo mundo maluco.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A sorte.

Quando e onde você foi mais feliz?

Acontece seguido, esteja onde estiver, ouvindo música. De tempos em tempos, surge *aquela* música, que não é só uma grande música mas também tem aquela rara capacidade de traduzir musicalmente o que a palavra “beleza” significa a toda a sensibilidade do nosso córtex. Sendo capaz de desafiar áreas inexploradas da nossa subconsciência. (Inclusive houve hoje; descobrindo “Holy Ghost”, do Owls.) E no momento desse encontro a torrente elétrica que se cria vai levar os harmônicos do som pra tocar pertinho do lugar onde ficam as melhores memórias, e o resultado é uma sensação de plenitude e compreensão alavancada pela música e formada pela fumaça de todas as felicidades das mais felizes memórias. É como se *aquela* música pudesse traduzir os códigos inconscientes do que é mais puro e bom naquilo do que somos formados, sem que o raciocínio estrague tudo. E quando isso acontece, eu me sinto feliz pelo que tenho e pelo que sou. Sem ter que pensar no que “felicidade” significa.

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