Temperatura possível

Quem conhece Porto Alegre sabe o quanto ela pode ser quente no verão. É o chamado Forno Alegre. Há locais no interior que é ainda pior, mas vivo aqui e já é ruim o suficiente. Fico desanimado para trabalhar, mas ontem houve algumas horas — entre às 18 e às 24h — de trégua do calor. Estava uns 26-28 graus, acho, e quando cheguei em casa tinha 6 horas pela frente nas quais poderia produzir alguma coisa confortavelmente, sem ficar suando como um louco.

Aquilo — a possibilidade de não precisar correr para o quarto onde tem ar condicionado — me causou uma certa vertigem. Havia imenso e inédito tempo livre pela frente, 6 horas! Fui olhar meus e-mails e havia dois bastante graves. Um erro bobo num conto meu que será publicado e , putz, eu tinha prometido (e esquecido) um artigo para quinta-feira de 4000 caracteres sobre jornalismo eletrônico. Só que a vertigem foi tanta que me deitei na sala e dormi um raro sono fora do ar condicionado e dos sprays de Repelex e Off, meus perfumes desta época. Acordei às 20h, tomei um banho e fui jantar. Depois, fui ver um jogo de tênis na TV e não fiz nada.

Sou um neurótico que fica puto com a perda de tempo. Se é para fazer nada, melhor fazê-lo interagindo com outras pessoas. Mas ontem, não. O alívio era tamanho que gostei de ficar vadiando. Não abri um livro, não escrevi nem corrigi nada, não olhei o twitter, não procurei aquele livro perdido. Nada.

Bom, vou corrigir o conto. Com licença.

8 comments / Add your comment below

  1. Sabe os lugares do interior que você disse que podem ser ainda piores? Pois é, moro num deles. Santa Maria apesar da fama de panela de pressão, porém, não é a pior.
    Há dois anos, quando estava grávida, o Guto resolveu que seria legal ir pesquisar em Uruguaiana em pleno verão. Preparei-me para ir junto, levar o guri não nascido para conhecer suas raízes na fronteira. Meus pais, acostumados aos meus desmaios de pressão baixa, usaram de uma antiga autoridade e vetaram. Em Uruguaiana é possível ver o asfalto derreter e colar na sola do sapato em dias de verão. Não, isso não é uma metáfora.
    Já morei e Porto Alegre em duas ocasiões e concordo que a estação do bafo (que é algo muito além do simples verão) pode ser insuportável, mas sempre me consolei olhando aquele mapinha que aparece no jornal da noite: podia ser pior.

  2. Em janeiro de 2006 fui à formatura de uma prima em Uruguaiana, numa semana em que os termômetros encostavam nos 40 graus. E lá estava MELHOR do que em Forno Alegre… Umidade menor, abafamento menor, mesmo que a temperatura possivelmente estivesse mais alta.

  3. “Nada melhor do que não fazer nada”, canta a grande filósofa do rock nacional: Rita Lee.
    E eu mesmo, há alguma tempo, cometi:
    “Com razão duvida o padeiro se a vida é um inferno ou um forno mal regulado.”

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