Porto Alegre e o calor senegalesco

Porto Alegre e o calor senegalesco

Ainda bem que a temperatura caiu nos últimos dias em Porto Alegre. Na semana passada, quase todas as pessoas com as quais eu mantive contato estavam irritadas, muito irritadas e cansadas. Vivíamos sob 37 graus e sensação térmica de 46. Os antigos narradores de futebol falavam em “temperatura senegalesca”, o que revela que os narradores de antes eram tão desinformados quanto os de hoje, pois, se a temperatura do Senegal chegasse aqui, seria uma dádiva a ser saudada por qualquer porto-alegrense.

Saibam que o Senegal é um país de clima muito agradável. Tem, basicamente, duas estações. Uma estação seca de novembro a maio, quando nunca chove e as máximas ficam entre os 23 e 25 graus. A outra estação é úmida e mais quente: de junho a outubro há alguma chuva, principalmente no sul do país. A média das máximas fica em 29, 30 graus.

Então, meus filhos, quando a coisa estiver insuportável por aqui, não fale em temperatura senegalesca e pense em Dakar como um bom destino. Ah, prepare algumas frases em francês. Ou em uolofe.

O Monumento do Renascimento Africano em Dakar, Senegal | Foto: Black History Heroes

Temperatura possível

Quem conhece Porto Alegre sabe o quanto ela pode ser quente no verão. É o chamado Forno Alegre. Há locais no interior que é ainda pior, mas vivo aqui e já é ruim o suficiente. Fico desanimado para trabalhar, mas ontem houve algumas horas — entre às 18 e às 24h — de trégua do calor. Estava uns 26-28 graus, acho, e quando cheguei em casa tinha 6 horas pela frente nas quais poderia produzir alguma coisa confortavelmente, sem ficar suando como um louco.

Aquilo — a possibilidade de não precisar correr para o quarto onde tem ar condicionado — me causou uma certa vertigem. Havia imenso e inédito tempo livre pela frente, 6 horas! Fui olhar meus e-mails e havia dois bastante graves. Um erro bobo num conto meu que será publicado e , putz, eu tinha prometido (e esquecido) um artigo para quinta-feira de 4000 caracteres sobre jornalismo eletrônico. Só que a vertigem foi tanta que me deitei na sala e dormi um raro sono fora do ar condicionado e dos sprays de Repelex e Off, meus perfumes desta época. Acordei às 20h, tomei um banho e fui jantar. Depois, fui ver um jogo de tênis na TV e não fiz nada.

Sou um neurótico que fica puto com a perda de tempo. Se é para fazer nada, melhor fazê-lo interagindo com outras pessoas. Mas ontem, não. O alívio era tamanho que gostei de ficar vadiando. Não abri um livro, não escrevi nem corrigi nada, não olhei o twitter, não procurei aquele livro perdido. Nada.

Bom, vou corrigir o conto. Com licença.