O importante é o conteúdo

A ocupação de Wall Street é um movimento sem líderes, feito por jovens indignados com a situação econômica, a Guerra no Afeganistão, as questões ambientais, os EUA, o mundo e a vida  em geral. A ocupação foi inspirado pela primavera árabe. E, bem, há ativistas cultas que mereceriam um Porque Hoje é Sábado, não? Também sou goethiano como Mann.

Fui expulso de Porto Alegre por José Fortunati

No último sábado, o prefeito de Porto Alegre participou de uma marcha evangélica (Marcha para Jesus) e entregou, de forma definitiva, a chave da cidade para deus. Sim, ele disse que entregava, de forma definitiva, o comando da cidade à divindade. Ignoramos se, na marcha para Jesus, este foi encontrado, mas certamente, em seu logo caminho, os comungantes foram obrigados a desviar de vários buracos e talvez, ao passarem por algumas de nossas ruas prenhes de escuridão, tenham ansiado fortemente pela luz do salvador.

Analisando a fala de nosso prefeito, constante nesta matéria do mui leal e valeroso Felipe Prestes, podemos depreender que Fortunati acha que foi colocado na prefeitura não pela descompatibilização do cargo feita por José Fogaça a fim de concorrer a governador, mas pelas mãos de deus. E, já que deus o havia colocado lá, Fortunati concluiu que deve servir de intermediário entre o ente imaginário e seu povo. O novo jeito de governar de Fortunati é super medieval e temo que a prefeitura se mude para um castelo com fosso.

José Fortunati tem 1,98m de altura e, portanto — o que sabemos nós? — , pode estar efetivamente privando da companhia de deus quando está em pé. Porém, quando põe a bunda em sua cadeira de prefeito fica da nossa altura. Nestes momentos, deve ver ateus, católicos, espíritas e todas as religiões africanas que pululam na cidade. Não gosto de nenhuma delas, pois sou fã dos ateus, mas afirmo ao prefeito que vi uma procissão por demais africana quando passei na Vila Cruzeiro na semana passada. Parece que havia outro deus na área, prefeito. Eu respeitei, claro. Os ateus têm disso, são gente discreta e educada, que não vende nada nem sabe fazê-lo.

Agora só me resta sair da cidade. Me prometaram um estado laico, mas depois entregaram a chave do lugar onde nasci a deus. Eu juro que a única vez que ataquei uma igreja foi há quase 40 anos atrás, eu era um adolescente de pichei um “Pubis pro nobis” numa igreja lá na praia. E foi só. Minha punição veio agora. Fui proscrito.

Prefiro o "Pubis pro nobis", prefeito | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Anotação sobre a defesa do politicamente correto

Eu acho que as reações do pessoal de nossa trincheira política à Rafinha Bastos são equivocadas no sentido de defender o politicamente correto. Claro, o cara é um imbecil e não pretendo de forma alguma justificá-lo — nem saberia como. Mas, por exemplo, acho que este elogio ao politicamente correto, que está sendo repassado, copiado e recopiado em muitos blogs de esquerda, ainda vai causar arrependimento. Ali, o politicamente incorreto aparece limitado a gente que ataca líderes LGBTs, defende homofóbicos e racistas, aplica bullying, ri dos outros por seus defeitos e defende a criminalização do aborto e a Igreja Católica (???). Sei não.

Eu concordo com o artigo quando ele ataca alguém tão desqualificado quanto o “humorista” gaúcho, mas sigo achando o politicamente correto burro. O politicamente correto, se ler atentamente Graciliano Ramos, acabará qualificando-o de alguma coisa qualquer da mesma forma como acusou Monteiro Lobato no Brasil e Mark Twain nos EUA de racistas. Em minha sacrofobia, não livro Lobato de racismo, mas daí a censurá-lo, emendá-lo ou deletá-lo vai alguma distância. Acho legal manter a complexidade das coisas. Os leitores e os professores que interpretem e expliquem Emília, por que não?  O politicamente correto deveria submeter-se à Segunda Lei de Milton: Toda qualidade que possamos ter transforma-se em defeito quando algum fato externo a leva ao paroxismo.

Voltando a Rafinha. Sei que os movimentos sociais usam tais seres — refiro-me a Rafinha — como mote, base e exemplo para suas teses e têm razão nisso, mas, porra, como foi dado espaço para o cara! Eu, nesta anotação quase pessoal, digo que nunca vi o CQC e só conheço o cara de fotos. E não li ainda ninguém falando mal da  TV e de sua indústria de celebridades. Caberia.

Mas as piadas são boas. Ricardo Cabral escreveu ontem no Facebook:

Projeto de lei: A partir do meio-dia de 03-10-2011, aquele que em alguma queixa, comentário, crítica, desabafo e afins mencionar as expressões “politicamente correto” e/ou “politicamente incorreto” terá o seu acesso à internet bloqueado por seis meses e deverá ficar no canto da sala, ajoelhado no milho, durante duas horas seguidas. (Maiores de 65 anos sofrerão penas alternativas.) Ficam excluídos destas medidas penas apenas os que fizerem análises mais aprofundadas sobre o uso dessas expressões.

E a resposta de Fernando Monteiro:

Acho politicamente incorreto exibir assim um tom de tanta autoridade imaginária.


Lingerie

Copiado do blog Championship Chronicles.

– Querido?

— Hum?

— Posso falar com você?

— Claro.

— Olha para mim?

— Pronto. Desculpe… Ei, nós vamos sair?

— Não, por quê?

— Então porque você está trocando de roupa?

— Não estou me trocando.

— Então porque você está só de calcinha e sutiã?

— Porque eu quero falar com você.

— Mas você precisava estar sem roupa?

— Sim.

— Você não está doente, está?

— Como assim?

— Você aparece aqui quase sem roupa e dizendo que precisa conversar. É sinal que eu vou ter que apalpar algo. Não é câncer de mama, né? Você sentiu algum caroço?

— Não é nada disso!

— Ok, mas você precisa concorda comigo. Eu apareço na cozinha vestindo cuecas e dizendo que preciso conversar com você. Aposto que você ia pensar na mesma hora que era sobre aquele meu joelho bichado.

— Não. Eu iria achar sexy.

— Oi?

— Sim, eu acharia sexy. Você não me acha sexy com esse lingerie?

— Acho. Essa calcinha fica bem em você. Era isso?

— Não. Eu quero contar uma coisa.

— Diga.

— Eu bati o carro hoje.

— Pelo amor de Deus! Quando? Você está bem?

— Mas não foi nada grave… Só arranhou a porta lá na entrada do prédio.

— Quando foi isso? Você se machucou?

— Não, não. Eu estou bem, só me assustei um pouco.

— Mas quando foi isso?

— Foi agora, quando cheguei, faz uma meia hora.

— Mas não está doendo nada? Tem certeza? Quer ir ao hospital?

— Não, estou bem. Pode ficar tranquilo.

— Mas por que você não me avisou? Você entrou em casa, me deu oi, saiu e voltou de novo!

— Então, é porque eu fui até essa loja comprar a lingerie.

— Oi?

— Sim, esta que estou usando.

— Essa calcinha é nova?

— Sim.

— Espere. Deixe eu entender. Você bateu o carro, entrou em casa, e não falou nada. Saiu, foi comprar uma calcinha, voltou, vestiu e decidiu falar sobre o carro?

— Isso.

— Maristela, você está bem?

— Claro. Eu já disse, não machucou.

— Não, não é isso. Você não poderia ter entrado em casa e falado “arranhei a pintura do carro, mas estou indo ali comprar uma calcinha e já volto”?

— É que eu queria estar sexy para você.

— Por causa do carro?

— Sim.

— Mas não tem porque ficar bonita para isso!

— Eu queria.

— Você não bateu a cabeça quando bateu o carro? É normal ficar um pouco desorientada…

— Claro que não! Estou ótima!

— Mas por que você quis ficar sexy para me contar que a porta do carro está amassada?

— Ai, Alfredo… Vem cá para perto…

— Para de esfregar as mãos nos seios! O que você está fazendo?

— Você não gosta?

— Claro que gosto, mas você acabou de bater o carro! Não faz sentido. Bater o carro te excita?

— Claro que não!

— Porque você está estranha.

— Ai Alfredo… Estou apenas seduzindo você.

— Mas e o carro? Você não está nem aí?

— Não, e você?

— Não, eu fiquei aliviado por que você não se machucou. Mas fiquei aliviado, e não morrendo de tesão.

— Ai, Alfredo… Você é tão devagar…

— Tem certeza que isso não te excita? Eu vi um filme uma vez…

— Chega, Alfredo.

— É sério. As pessoas se excitavam com porrada de carros…

— Desisto.

— Você não é assim, é? Teve aquela vez que eu dei ré e enfiei o carro num poste e você não ficou assim. Se ralar a pintura deixou você acesa desse jeito, aquela vez deveria ter deixado você em ponto de bala. Foi uma baita pancada.

— Como você é grosso, Alfredo!

— Não, eu só não entendo a lógica da coisa. Você bate o carro e vem aqui de lingerie me contar. A gente vai comemorar?

— Ai, Alfredo, esquece!

— Não, eu quero saber. É como se fosse um aniversário de casamento? Esta é a nossa primeira porta amassada do casamento, então você coloca uma calcinha nova, vamos abrir uma champagne… É isso?

— Esquece!

— Não, senhora! Quero saber de onde você tirou essa ideia!

— Não. Vou para o quarto colocar uma calça.

— Primeiro, responde. De onde você tirou essa ideia?

— Eu vi na TV, ok?

— Quê?

— Vi uma propaganda que diz que a lingerie sexy ajudar a contar notícias ruins para o marido.

— Oi?

— É. É isso. Pronto, falei! E você cortou o clima!

— Sério, Maristela… Eu não fiquei bravo porque você bateu o carro, eu fiquei preocupado com você. O carro que se foda. Para de alisar a barriga e fazer biquinho!

— Esquece, Alfredo. Você é insensível demais!

— Não tem lógica! Quer dizer que se eu perder o emprego, tudo o que preciso fazer é entrar em casa, tirar a roupa e ficar usando uma cueca nova para te contar a novidade?

— Eu vou para o quarto!

— Isso. Eu vou descer para ver o carro e você vai colocar uma roupa.

— Pode apostar que eu vou! Você nunca mais vai me ver de lingerie!

— Para de gritar, Maristela. O que é isso? Essa nota aqui?

— Que nota?

— Maristela, você pagou oitenta paus nessa calcinha!

— Não é calcinha, é lingerie!

— Oitenta reais? Nisso aí?

— Sim! Porque eu queria que você não se magoasse com o carro!

— Eu não me magoei! Mas oitenta reais!? Com oitenta reais eu compro cuecas para uns dez anos! E ainda pego umas meias!

— Alfredo, você é um insensível mesmo.

— Não importa! Oitenta reais?

— Eu queria que você não ficasse bravo com o carro!

— Não estou bravo com o carro, mas sim com você pagar oitenta reais numa calcinha!

— Não é calcinha! É lingerie!

— Você que vai pagar a funilaria desse carro, Maristela!

J. S. Bach – Kantate BWV 54 – Widerstehe doch der Sünde – 3 – Aria, Altus

Essa coleção me invoca, me bouleversa, me hipnotiza. Cabe mais uma ária de Bach aí? Claro que sim. Se me perguntassem: Queres ser estrela? queres ser rei? queres uma ilha no Pacífico? um bangalô em Copacabana? Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero três Cantatas de Bach: O meu reino por três Cantatas do sabon… de Bach!”