Os ateus saem do armário

Um artigo que saiu no El Mundo da Espanha na semana passada — Los ateos salen del armario — dá conta de que 24% da população espanhola já se declara ateia. No Brasil, abro a Época de hoje e o físico Lawrence Krauss está lá dizendo que a ciência finalmente chegou ao ponto de poder explicar a criação do Universo e que Deus nada tem a ver com isso. “Acreditar que Deus criou o Universo é apenas preguiça intelectual”, afirma ele na página 82 da revista.

Já disse e não canso de repetir: a religião é inextirpável do ser humano, mas há que trabalhar contra ela. Acreditar ou não é algo de foro íntimo. Ela prejudica o mundo, as relações sociais e é a mais funesta das intervenções da subjetividade sobre a sociedade. Creio que a grande vitória a ser obtida por nosso século seja o recuo das religiões.

O ateísmo, meus queridos, como explica o filósofo e escritor Gonzalo Puente Ojea no El Mundo, apenas nega o teísmo. O ateísmo não existe com a finalidade de atacar os crentes (quem faz isso sou eu, por exemplo): “Defendemos a liberdade dos indivíduos para a prática de qualquer religião. Somos racionalistas”, diz Albert Riva, presidente da União dos Ateus e livres pensadores da Espanha no El Mundo. “O número de ateus está crescendo, é uma coisa geracional, mas a maior fábrica de ateus são as religiões”, diz Eugenia Biurrun, coordenadora geral da Iniciativa Atea da Espanha. Ela enfatiza que o objetivo da iniciativa é a ascensão do ateísmo e do laicismo para a criação de uma sociedade secular que permita qualquer religião ou nenhuma.

Claro, isto vai liberar espaço para vários avanços sociais e para lenta extinção dos vários países religiosos, de suas guerras imbecis e também certas bancadas tão reverenciadas por políticos. É a mais inteligente das lutas.

P.S. — A propósito, desde a época que Soninha era uma ídola do PT e da esquerda, eu adivinhava sua estupidez. O sinal? Ora, seu apoio à criação de um estado religioso no Tibete. Não apoio as ações da China, mas também acho ridículo o outro lado. Um estado religioso governado por seu sacerdote supremo? Pelo amor de “Deus” !!!

Nem tão lentamente assim, a gente vai virando o jogo. Na foto, Richard Dawkins e uma ateia típica.

29 comments / Add your comment below

    1. Fecho,
      sempre achei esta estória apoio ao Tibete um clichezão, ou maniqueísmo.
      recomendo aos ilustres ler “O futuro de uma ilusão” do agnóstico (não ateu) Freud

    1. raras vezes a gente lê um discurso de alguém de 150 anos ou mais. foi divertido, apesar de obsoleto.

      acho vc deveria só contratar funcionários ou domésticas evangélicos… assim vc garante a moralidade. hehehehe

      que modo de pensar mais preconceituoso, antiquado e idiota !

    2. De tudo isso a gente depreende uma coisa só e simples: o que você não tem é fé no Brasil. Digo isso no sentido religioso; sob qualquer razão, o que a gente não pode ter fé é em qualquer país e nacionalidade, pois todas estão imbricadas uma noutra, sob um regime de opressão e exploração universal. Felizes são os extraterrestres: tão perto de deus e tão longe dos EUA…

        1. Primeiracoisa, sou assinante de Carta Capital e leitor contumaz de blogs “de esquerda”, de forma que tô sabendo das estripulias de Cachoeira, Demóstenes, Perillo et caterva, que incluem dezenas de membros do empresariado e outros tantos do mundo politico, de todas as legndas possíveis e imagináveis. Cito a mim mesmo;

          “todo e qualquer setor do Estado fica sob mira dos empresários com dedicação muitas vezes exclusiva aos empreendimentos e demandas de insumos estatais, isto porque os montantes são maiores, bem como a possibilidade de ganhos, ainda mais se eles sofrem acréscimos para fazer face às contribuições ilegais a funcionários públicos e partidos políticos. Infelizmente não há poder público que não se corrompa nesses processos de compra e contratação de serviços. Felizmente há leis sobre a matéria, mas a aplicação delas por um Judiciário também corrompido, a exemplo do Legislativo, etc.. Abrir as contas públicas ée abrir uma Caixa de Pandora com um aviso similar às portas do inferno dantesco: “Deixai toda esperança, ó vós que abristes esta caixa!” Pior que isso: “Deixai toda esperança, ó vós que NÃO abristes esta caixa!” Mato sem cachorro”

          A tal Primavera Árabe tem alcance tão curto quanto o Coppy Wall Street: continuam a mandar a grana do petróleo e das maquinações em torno dos papelórios capitalistas.

          Quanto a manifestação em Goiânia, ela pode representar um bom começo para a posterior cassação de Perillo. O diabo é quem vai entrar no lugar dele…

          1. Achei o texto do Morgantini um perfil por demais psicologizante; talvez ele devesse especificar alguns processos movidos por Perillo contra a “liberdade de opinião”, que só serve para eles e é execrável nos outros, bem como as absurdidades de sua gestão e a violação mesmo das decisões do Judiciário que não o favorecem, como no caso dos professores.

            Quanto à indignação, ok, mas continuo a achar que falta uma expressão mais programática a tal indignação, que está muito genérica e tende a ruir tão logo o sistema responda com uma tímida recuperação. As pessoas tem que ter na consciência duas coisas: 1) a crise capitalista é permanente, deixou há muito de ser cíclica e hoje é um estado de execelência para a extração dos lucros mais abusivos e pagamento dos salários mais aviltantes; 2) para se contrapor ao capitalismo é precisoter mais que indignação: é preciso ter um programa social novo, que deixe bem claro que não se pretende reformar o capitalismo, mas por um termo nele através de novas práticas de socialização do que é produzido sem tomar como meio de distribuição um sistema de recompensa e lucro para “os mais aptos” ditadores.

          2. …o engraçado nessa discussão é que ela não tem nada a ver com os tais ateus que estariam a sair do armário…

            O legal de viver é justamente o horror de viver com mil perspectivas pela frente e de repente todas elas dão num tiro n’água, aí vem outra coisa e passa de passagem por cima de tudo que nem centroavante trombador sobre beque clássico. Nesse universo de mil especulações podemos inferir dos tipos: a) as filosóficas e com objetivos humanistas, que se desdobram em teorias e práticas afins às relações humanas e ecológicas capazes de viabilizar um universo de possibilidades criativas em um contexto de mínima destrutividade; a) as econômicas cuja melhor expressão são as instituições em torno do papelório universal que, além de não oferecer nenhuma importância para o lastro de suas especulações, vê na destruição dos meios ótimas oportunidades para a criação de mais do mesmo.

  1. Depois da leitura dum livro escrevi o poeminha abaixo:

    Ai Cai

    O espírito é apenas
    o imaginário ébrio
    doente de si

    Não basta, porém, tirar o espírito da jogada. para eliminar o delírio, só mesmo eliminando o homem. Mas é como escreveu o Millor, parafraseando humoristicamente um russo ébrio:

    “Se deus não existe, então tudo é divertido”

    O diabo é colocar essa “diversão” na dimensão da liberdade; se a gente for por aí, é conversa pra mais de quilômetro.

    O título do artigo original, e do subsequente, é completamente fora de sentido: ateus nunca ficaram no armário, eles sempre foram um contingente ativo e declarado em qualquer sociedade; não são heróis, porém, uma vez que, tal como os crentes de qualquer fé, também perseguiram seus opositores, com menor sanha e estrutura, mas que perseguiram, perseguiram também, Revoluções Francesa e Russa não o desmentem.

    Será que tem algum inocente e são nessa História toda?

    1. A física de hoje em dia tem o poder de explicar porquê existe alguma coisa e não apenas o nada, mas não explica de onde surge as suas próprias leis. Para os religiosos, acho, não faz muita diferença. O Deus das lacunas existirá sempre.

      Este tipo de debate não importa, claro, é coisa lá dos escolásticos. É justamente por isto que acho insólita a defesa da inexistência de Deus por (bons) cientistas como o Krauss e o Hawking com base na ciência.

      E olha que eu sou ateu e físico.

      1. Para que não seja mal entendido, quero dizer que o debate da existência ou não de Deus é coisa do passado.

        Agora, se a religião vem conseguindo o que pretende – nos tornar uma versão melhor de nós mesmos – é outra coisa. E a resposta é não, claro.

  2. A Espanha é bem contraditória, tudo aqui remete a religião, as crianças sempre lembram do “dia do santo”,os nomes sempre remetem a algum santo, creio que junto com Itália é o país mais fervoroso do continente principalmente nos pueblos,por outro lado, o papa andou por aqui e foi marretado por todos os lados e estamos a anos luz do Brasil no que diz respeito a forte influencia religiosa e aprovação de leis: aqui os gays se casam tranquilamente, o aborto é oficial e custeado pelo estado e confesso que nas igrejas só se veem velhos(os dos pueblos). E meu marido para escutar algum concerto ou órgão. De resto, a população realmente começa a cagar e andar prá religião.Ainda bem.

  3. AOS DE TRÊS PATAS
    by Ramiro Conceição

    Ah, essa cultura de massas caracterizada por sua ‘espizzalidade’ de mandar brasa na lenha, pois depois de cozido – tudo se devora de qualquer maneira.
    Basta um “cabra” dizer que a ciência, hoje, pode explicar a existência de Deus… Pronto! Um outro “cabra”, dito, jornalista faz uma matéria; e um rebanho de “cabritos” começa a defecar um monte de sandices ‘quadrupedeláteras’ em meio a arrotos quase pseudo-esféricos: em terra de bestas, quem sabe pouco é um sábio manco de três patas.
    Na verdade, a ciência chegou a um ponto em que não consegue explicar nem se explicar. Isso o proparoxítono colégua de profissão, o tal “cabra-cientista”, não explica nem comenta.
    Não acredita, então vamos lá:

    1) PRIMEIRO MISTÉRIO: Parece não haver dúvida de que, de acordo com a mecânica quântica, na escala atômica, existem partículas ditas “entrelaçadas”, isto é, por exemplo, há uma probabilidade de existir partículas idênticas, quer dizer, se ocorrer alguma transformação em uma, então a outra, “entrelaçada”, sofrerá a mesma transformação, não importando a distância entre ambas. Isto quer dizer o seguinte, por exemplo: imagine uma supernova num milionésimo de milionésimo de segundo antes da sua explosão final à etapa de nebulosa; pois bem; neste instante, no interior da estrela moribunda, átomos de ferro e átomos de oxigênio já estariam formados sob pressão e temperatura colossais e inimagináveis, nestas condições, poderia haver a probabilidade da formação de duas moléculas de Fe2O3 idênticas. Ou seja, a formação de uma solução iônica de íons Fe3+ e íons O2-. Tal arranjo é denominado de hematita (o mais estável dos óxidos de ferro). A hematita possui estrutura cristalina conhecida como hexagonal compacta. Portanto, as duas hematitas possuiriam o mesmo arranjo. Bem, depois de trilhões de trilhões de anos da explosão da estrela e da expansão da nebulosa, as duas irmãs idênticas estariam existindo, porém, vamos supor, a trilhões e trilhões e trilhões… de kms de distância. De acordo com a mecânica quântica, se, por exemplo, umas das hematitas sofresse uma mudança de reticulado, por exemplo, para cúbico de corpo centrado, a outra, no mesmo instante, sofreria a mesma mudança estrutural. de acordo com os físicos, especialistas em mecânica quântica, tal fenomenologia seria possível dentro do leito das equações da referida teoria. contudo, não faz sentido!!!!. não se consegue compreender tal fenômeno!!!. ou seja, é inexplicável à luz da ciência!!! pois a velocidade de transformação, da hipotética transformação dos íons, seria superior à velocidade da luz. o que constradiz a teoria da relatividade de eistein.

    2) SEGUNDO MISTÉRIO: parece ser verdadeira, até o momento, a teoria do Big-Bang. Segundo ela, o Universo estaria em expansão vertiginosa. Quer dizer, daqui a trilhões e trilhões e trilhões e trilhões de anos o Universo não teria mais nenhuma estrela: restaria apenas um escuro nada absoluto onde a entropia seria zero e a temperatura, 0K (zero Kelvin) – de acordo com a terceira lei da termodinâmica. Pois bem, tal acontecimento só é possível se o Universo for um sistema aberto, pois se fechado o número de eventos seria finito e, forçosamente, cairíamos na teoria do eterno retorno de Nietzsche, isto é, o presente aconteceu, acontece e acontecerá trilhões e trilhões e trilhões de vezes – igualzinho! Mas admitamos que o eterno retorno seja falso, portanto, advém a necessária pergunta: a ser o Universo aberto, então do que consiste a sua vizinhança?!

    Logo diante disso: pensar-sentir que se sabe pouquíssimo… Nestas condições, se calar e, sob o escuro do céu, inocentemente crer: pois ainda há O TERCEIRO MISTÉRIO: aquilo, aquele, aquela, a trama, a natureza, o amor, a energia a entrelaçar partículas idênticas, e outras diferentes, à qualquer distância e tempo, no universo.

    A César, o que é de César. Ao É, os tempos do Ser.

    1. Já uma coisa engraçadinha aí, ramiro. para dizer que deus não existe você tem que ter todo o conhecimento universal, mas todo ele não basta. Ou:

      1) você não tem alternativa, não pode dizer não, mas está cansado de saber que os deuses cultivados pelos humanos são apenas extensões da própria estupidez de sua raça;

      2) você acredita em algum deus qualquer e não precisa saber de ABSOLUTAMENTE NADA para justificar sua fé.

      Muito interessante.

      1. É por isso Marcos,
        que prefiro tentar pensar-sentir
        cada presente.

        A maior parte é assustadoramente estúpida, porém, às vezes, raramente, parece que dou um salto muito além do previsível…

        Vê, Marcos, então que procuro migalhas que contém a imensidão. Talvez por isso que eu seja um poeta…

        O comentário que fiz me deu extremo trabalho. À noite parecerá que nada aconteceu… Amanhã começarei de novo. Até quando? Até onde me for permitido…

        1. Até onde me for permitido…

          Não por nenhum deus, decerto. Há uma coisa que defensores da ideia divina não entendem: ateus não tem que provar a inexistência de deus, uma vez que NADA a prova; crentes tem que provar a exist~encia de deus, pois são eles que a afirmam. Nada além disso.

          No mais, ok, a conversa do mistério, do vagar pelo universo e encontrar na razão a obscuridade e o som que não se revela à consciência desperta, etc. Mas não tente querer me converter a qualquer regime de crenças dizendo que por ser indemonstrável o indemonstrado existe, né?

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