Aos 94 anos, morre Wilhelm Brasse, o fotógrafo de Auschwitz

Brasse era fotógrafo antes da guerra. Por este motivo, foi convocado à tarefa de tirar e revelar fotos dos judeus de Auschwitz. Elas serviam para documentação e controle dos nazistas. O resultado pessoal é que, após a guerra, Brasse teve de largar a profissão. Passou os últimos 67 anos de sua vida sem tocar numa máquina fotográfica. Estava traumatizado.

Quando recomecei a tirar fotos depois da guerra, vi os mortos. Eu estava tirando uma fotografia de uma menina, um retrato comum, mas por trás dela imaginava fantasmas de mortos. Eu vi todos aqueles grandes olhos, aterrorizados, olhando para mim. Eu simplesmente não podia ir em frente.

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  1. Quando eu criança, meu pai me mostrou a certidão de desembarque da minha avó, que deixou a Austria com 19 anos, após o ‘anschluss’. Chamou a minha atenção a foto ser tirada ‘meio de lado’, não exatamente de lado, nem de frente. Meu pai me disse que os alemães identificavam os judeus também pelas ‘orelhas de abano’. Minha avó, judia, tinha olhos azuis e orelhas pequenas. As fotos de Brasse, fotos de identificação, mostram esta disposição.

  2. O perigo aqui é sempre chover no molhado.

    Diria que nenhuma consciência resiste ao ataque da curiosidade. Seriam os judeus, comunistas, ciuganos, oposicionistas, retardados mentais, todos eles mortos, testemunhos de um erro do passado, ou de um acerto no futuro? Diante do erro que se apresentava, e do quadro horrendo do presente, o fotógrafo abdicou. A púlga que lhe ficou atrás da orelha persistoiu um breve tempo. A humanidade, ainda assim, pode agradecer ao sujeito. Ao documentar os arquivos alemães, certificou o massacre. E, ainda que por vias tortas, se juntou aos humanos.

    Tenho dificuldade em reconhecer nele um “inocente”.

  3. Não acredito em Deus. Mas se dizem que a fé infla amplidão, leveza e beleza ao mero viver diário, isso lá me parece muito palpável e real. Essa fé não precisa ser religiosa, mas deve ser capaz de criar um vínculo vivo com este mundo. Deve ser capaz de lhe atribuir uma compreensão de que tudo que aqui está, importa, simplesmente por aqui estar. A fé na capacidade criativa me parece ser o que me norteia. Não gosto de pensar que sou meramente um massa de ossos, carne e impulsos elétricos. Pois, obviamente, não é só isso que sou.

    Explico-me: enxergar as coisas na base preto no branco, bem e mal, através de uma dicotomia débil é fatal. Fatal para o milagre de estar vivo, pois, cientificamente falando (se é que de fato podemos falar assim), é realmente um milagre estar vivo, dadas a todas circunstâncias que são necessárias para que eu esteja aqui, neste momento, escrevendo. Simplificando: estar vivo é complexo, e como toda complexidade ela é interligada em níveis onde o mero entendimento lógico, racional e emocional não é suficiente para sequer vislumbrar a imensidão de aqui estar.

    Daí que chegamos ao sofrimento. E a produção de sofrimento. Em si mesmo e no outro. Não creio que um ato de crueldade se dissolva com a morte de quem sofre e muito meno de que causa o sofrimento. Aquilo continua. Na retina de quem viu, no ouvido de quem ouvi, na mancha de sangue que entrou pra dentro da terra, na alegria do vitorioso e no desespero do perdedor.

    Tudo isso é só pra perguntar: por que sofremos? por que fazemos o outro sofrer?

    A mesma lógica serve para os gestos de generosidade e compaixão. Eles não se esgotam no cessar do gesto. Eles reverberam. Minha fé é nisso.

    Gosto de pensar que assim é.

  4. Todas essa fotos são importantes para registar o holocausto existente na Europa, especialmente em terras polonesas, aliás 17% da população da Polônia foi assassinada pelos nazistas e comunistas durante a II Guerra Mundial. Uma infâmia ignominiosa que o planeta terra não deveria ter visto.

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