A Ospa saiu vencedora no tremendo duelo travado contra a acústica do Auditório Dante Barone na noite de ontem. Cheguei ao local no momento do início do concerto e os lugares mais à frente já tinham sido ocupados. Então, sentei lá atrás. Digamos que ouvi mais do que vi, pois onde eu estava tinha uma dificuldade extra: a necessidade de driblar os dois câmeras que ficaram em pé, fazendo seu trabalho no meio do auditório, mas também atrapalhando o público. Então, sob o meu ponto de vista, o concerto foi mais espreitado do que assistido.
A primeira obra do programa foi o divertido Concerto para violino e cordas – Série Brasil 2010, nº 6, de Dimitri Cervo. Melodioso, cheio de ecos brasileiros e de citações barrocas, o concerto recebeu luxuoso tratamento do solista Emmanuele Baldini, spalla da Osesp e primeiro violino do quarteto de cordas da mesma orquestra. Ontem, Baldini solou e regeu a Ospa. Os aplausos para o santa-mariense Cervo foram inteiramente justos. O pós-modernismo e o poliestilismo é um guarda-chuva que permite grande liberdade aos compositores – uma liberdade que é perigosa, porque deve ser exercida com bom gosto. Cervo passa longe da vulgaridade com sua música bela e acessível, pois igualmente afastada das incomunicabilidades de algumas vanguardas do século XX. Gostei de tudo, das melodias do primeiro e segundo movimentos, assim como da brincadeira com as citações no terceiro.
Depois tivemos o Concerto para violino nº 22 de Giovanni Battista Viotti. Não posso dizer que tenha gostado da música, gostei mesmo foi da interpretação do Adagio pelo violinista Baldini. De forma estupenda, ele realmente “cantou” uma ária para o público. Ah, não sei como ele faz aquilo, só sei que poucas vezes ouvi um cantabile tão pleno. De qualquer maneira, o concerto de Viotti funciona com suas duas longas cadenze dos dois primeiros movimentos e um Agitato assai que é uma verdadeira mola para o público. Ao final, é difícil não levantar para saudar o solista.
(Aliás, o extraordinário Emmanuele Baldini foi fisgado – ou fisgou, nestes casos pouco importa saber quem figou quem – por uma belíssima gaúcha. Espero que o fato contribua para que ele faça muitos pit stops em nossa modesta capital. Sinceramente, acho que ele não seria deselegante a ponto de apenas fugir com ela).
Na última parte do concerto, veio a icônica Sinfonia nº 4, Op. 60, de Ludwig van Beethoven. Muito diferente de suas contíguas, a quarta traz consigo muita espontaneidade e alegria, além de ser um modelo de equilíbrio. O primeiro movimento é construído como os das sinfonias de Haydn – formato também utilizado por Beethoven em suas três primeiras sinfonias. Há uma curta introdução e depois a orquestra acelera, no caso da quarta, para um magnífico e dançável Allegro. Após um apaixonado Adagio, temos um minueto a la Haydn (Allegro Vivace) e um Finale que não deixa dúvidas: Beethoven estava muito feliz em 1806, quando estava prestes a completar 36 anos.
Para finalizar, há que ser dito que a Ospa esteve num daqueles dias iluminados e, se devo destacar um grupo de músicos da orquestra, destaco a cozinha formada por flauta, oboés, clarinetes, fagotes e trompas, especialmente o clarinetista Diego Grendene de Souza, que tocou demais. Ou seja, se ignorarmos as peripécias acústicas e os câmeras, tivemos um excelente concerto ontem à noite.
concerto lindo do Cervo, de chorar.
meu problema com os câmeras foi que eles ouviam orientações pelos fones de ouvido, e nos movimentos lentos tudo vazava.
raro beethoven ser ponto baixo da noite.