John Milton escreveu:

Porque os livros não são de todo coisas mortas (…) preservando, como um frasco, a mais pura extração do intelecto que os criou. Sei que são tão vivos e vigorosamente produtivos como os fabulosos dentes de um dragão e, sendo fomentados, podem unir em paz homens armados. Por outro lado, a não ser que se use de toda a prudência, destruir um bom homem é quase o mesmo que destruir um bom livro; quem destrói um homem destrói uma criatura razoável; mas aquele que destrói um bom livro destrói a própria razão, destrói a imagem de Deus. Muitos homens constituem um fardo para o mundo; mas um bom livro é a encarnação preciosa de um espírito superior, conservado e estimado com o objetivo de viver para além da morte.


Boa, xará.


Capa da edição bilíngüe da Topbooks.

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  1. Merda, tava escrevendo um troço aqui, a luz caiu e foi tudo para a casa do caralho! Tô puto e nem um pouco a fim de refazer a bosta do raciocínio, por isso tentarei sintetizar:

    Não passa de bom-sensismo de filósofo, raciocínio pseudo-elegante imerso em contradições irresolúveis. Um exemplo: pessoas que são um fardo (para quem?) também escrevem livros, e estes não são encarnações preciosas de espíritos superiores (o que e quem são eles?), vide vida e obra de Hitler, para ser mais brutal. Ao sobrepor aos homens suas próprias obras Milton abre precedentes perigosos para justificação de barbáries.

    Enfim, não passa de metafísica aplicada à criação humana. Só falta apelar para “o livro é a materialização da vontade de deus manifesta nos homens sob sua determinada graça”.

  2. O que o Marcos estava escrevendo e se perdeu com a queda de luz deveria ser muito bom para ele chutar o balde desse jeito. mas a propósito, marcos, vc não sabe que o livro é, por natureza, elitista? o livro que não o é não merece ser lido.

    1. Não, o livro que não merece ser lido é o livro ruim, e o bom livro, que merece ser lido, pode ser encontrado por qualquer um nas livrarias, internet, etc. O livro não escolhe leitor, seu conteúdo é para todos, mesmo que ao mesmo tempo seja para ninguém. Você objetaria: “Ah, mas ao traçar diferenças entre o bom livro e o livro ruim você reconhece uma distinção que é, essencialmente, elitismo”. Também não: tenho por livros ruins aqueles que, subliminarmente ou não, defendem cretinices que orbitam na esfera ideológica do que podemos chamar, sim, de direita, ou os livros cheios de boa intenção, mas má arte, pois não basta defender belas idéias, mas é imprescindível burilar também a forma e combater os clichês, inclusive os de esquerda. Mas a discussão é longa, e não cabe aqui.

  3. tá bom… vamos lá, então! a própria palavra “clichê” já é um clichê, e faz parte da lista de palavras condenadas. “Direita”, “esquerda”, francamente, causa uma dor física só de ouví-las.E o mais estranho é que você as usou em comentários desabonadores a John Milton, o cara que criou o Satanás mais humano e complexo da literatura, não igualado nem pelos Satanáses de Thomas Mann e Dostoiévski_ o Satanás fundador de toda uma estética da rebelião.O excerto citado acima, para mim, é profundamente belo e verdadeiro, e o pode ser a qualquer leitor que não veja nele o mau cheiro de evangelismos ou da poesia barata sobre redenções antropocentricas, o que não condiz com sua afirmação de “o livro não escolhe leitor”. O livro escolhe, sim, seu leitor; ou você acha que Marx e Engels (meu Deus, a que ponto cheguei!), dois intelectuais favorecidos em diferentes graus pela comodidade financeira da (arg!!) burguesia, produziram o 18 brumário e o Capital para o semianalfabeto afundado no cotidiano insipiente do proletariado? Vários “doutores” que conheço, jamais estenderam a captação de suas antenas de interesse literário além de seus manuais técnicos estritamente específicos_ juízes ou médicos que achariam uma perda de tempo se afundarem em Pynchon, Cees Nooteboom, Bolaño, Edward Said, mas que sabem de cór os labirintos de tédio de seus MERK e Códigos Civis comentados. todo grande livro é esotérico, e esta não é uma frase minha. E, por mais que isto já me afligiu, grandes escritores estão longe de serem grandes seres-humanos, e não vou dar exemplos para não parecer ter uma cultura que só me esforço por ter. concordo com aquele grande alemão sifilítico que tanto pregou a castidade, que disse que todo grande livro é escrito com sangue, e não é destinado ao populacho. e esse sangue, nesta nossa era do asfixiar da escrita,é composto pelas mesmas antigas e tradicionais organelas firmada nas belas palavras e na erudição estética (seja no barroco citado acima ou nos palavrões de um texto de Bucovski). Portanto, nada menos democrático que um livro, Marcos. graças a Deus!

    1. “A discussão não cabe aqui”. O blog não é meu, é do Milton. Vou deixá-lo com suas dores físicas e as metafisicises do objeto em busca de almas gêmeas e sei lá mais o quê, juntamente com seu deus inexistente, e ficarei com meus amigos médicos, advogados e procuradores gerais (nenhuym juiz, infelizmente), todos eles leitores de coisas além de seus manuais técnicos. Ah, não esqueci de tua certeza de pertencer a uma casta befejada pelo requinte inútil (portanto, mais requintado ainda) do esteticismo literário.

      Ah, não esqueça: nada disso acima é demonstração de mau humor ou menos ainda de sua superior operosidade intelectual. É só tédio de esquerda.

  4. Oh! Marcos, pra que tanta raiva, cara! Os comentários também fazem parte do blog. Não é um pedido de desculpas nem bajulação, mas a isca para meu interesse por este blog foi, primeiramente, uma pesquisa na rede sobre Bolaño, o que me levou ao seu comentário sobre “Amuleto”, aliviante por fugir à idolatria onipresente. Confessa: não foi boa essa reação? não fez o sangue correr? Fiquei ansioso o dia inteiro pra ver sua resposta, pensando: o cara vai ficar puto! E ri à beça ao ler sua tréplica. Fui quase tão bom quanto um apagão de luz (não teve o “a casa do caralho”, mas o “requinte inútil” compensou). fica bravo não!

    (E que história é esta de deus inexistente???)

    1. Não, eu não tô puto não… mas é que não vivo nas substâncias etéreas do Olimpo, daí que argumentos semelhantes ao do porta chapéu (e também do porta sobrancelha e todos seus aprendizes) me entediam. Amuleto? Quando escrevi alguma coisa sobre esse livro? Deus inexistente? Bem, não existe deus nenhum, existe? Nem democracias (que cê deve entender como regime gestor de mediocridades, como quis Nietzsche et caterva). Parou de chover. A Baía de Guanabara, de longe, é bonita. Há alguma coisa de errada com meu olho esquerdo: ele insiste em olhar para o lado.

  5. “Tenho lido todos os livros do Bolaño publicados no Brasil; obviamente, incluso O Amuleto e o outro mencionado, Os Detetives Selvagens. Gosto especialmente de Noturno do Chile, um pouco de A Pista de Gelo, e menos de As Putas Assasinas, volume que contém alguns contos fracos. Dá para entender a excessiva produção, e às vezes até algum desleixo, do autor chileno, às portas da morte e pensando na vida de seus descendentes diretos. Não quero dizer que ele é mau escritor, longe disso, mas suas obras sofrem de certa supervalorização, talvez porque um autor defunto seja ainda mais fácil de roubar do que os autores vivos ou meio-vivos ou meio-mortos. Suspeito disso. Como também suspeito que Bolaño deveria ser um sujeito incrível para conversar a esmo sobre literatura (li um diálogo dele com o argentino Ricardo Piglia, ambos ratos de biblioteca, e Bolaño tinha todos os nomes, estilos e citações de autores completamente desconhecidos por mim na ponta da língua), daí que seu Os Detetives Selvagens é bem exemplar do seu talento, capaz de explorar várias vertentes e formas literárias, e de maneira menos, digamos, pomposa, que o Italo Calvino (também excelente) de Se Um Viajante Numa Noite de Inverno. Voltando ao Amuleto, um livro decalcado de Os Detetives Selvagens, o que, novamente suspeito, nos oferece a medida das exigências editoriais e financeiras sobre o autor que, não creio, necessitasse desenvolver para além das bases do livro anterior, um calhamaço e tanto. A abordagem é curiosa, o clima novamente é de delírio e desatino mas… creio que algo repetitivo, com relação aos Detetives. A repetição da atmosfera onírica, fazendo-nos ingressar nos interstícios da linguagem poética e começar a desconfiar, desde o começo, da “realidade”, é um trunfo, mas também, aqui, um pouco gasto. Esperamos que a denominada obra-prima de Bolaño, 2666, nos oferece algo a mais, embora saiba que isso talvez seja exigir demais de quem, afinal, já nos deu o bastante, e teve tão pouco tempo de vida.”

    Reconheces o estilo?

    abraços, e vamos partir para outra.

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