10 dias, 39 páginas; 1 dia, 70 páginas

o-condenado-graham-greeneSou um cara insistente. Quando pego um livro ruim, tento ir até o fim. Sempre fiz isso. Gostaria de contrair imediatamente a Síndrome de Gambardella, personagem principal do filme A Grande Beleza. Ele dizia: “Tenho 65 anos, não posso mais perder tempo fazendo coisas que eu não quero fazer”. Pois ler sem vontade, ler achando ruim, é penoso. A gente lê e o pensamento sai por aí. A gente lê e lembra do Facebook. A gente lê e pensa na agenda, nos pagamentos. Quando avançamos duas ou três páginas, damo-nos conta de que nada se fixou na nossa mente e temos que voltar. É frustrante e burro. Chego a pensar se os 57 anos não estão queimando todos os neurônios, ou ano ao menos os destinados à leitura.

Eu estava às voltas com um traste desses até domingo. Então, ontem, olhei para minha hoje diminuta biblioteca e decidi pegar um dos confirmados. Escolhi um romance de Graham Greene, daqueles antigos. Tratava-se de uma tradução do célebre Brighton Rock — O Condenado, no Brasil. E simplesmente grudei no livro. A narrativa é elegante e inteligente. Pinkie, líder de uma gangue adolescente, quer tronar-se um mafioso na cidade inglesa de Brighton. Ele decide casar com a ingênua garçonete Rose a fim de comprar o silêncio dela sobre um assassinato que cometera. Mas há mais pessoas que sabem do fato.

Greene dividia seus livros entre os “sérios” e os “de entretenimento”. Jamais imaginaria, mas ele classificou Brighton Rock no segundo grupo. Toda aquela discussão sobre apenas acreditar no Diabo e no Inferno, caso de Pinkie, enquanto Rose também crê em Deus e no Paraíso e Ida, a perseguidora, na justiça terrena e no prazer… Tudo isso é entretenimento? Só para Greene e só em 1938. Hoje, Brighton Rock seria coisa muito séria.

9 comments / Add your comment below

  1. Milton, em termos de boa literatura ‘lado B’, terminei na semana passada ‘O que faz Sammy Correr’, do Budd Schulberg. Já leu? Na linha do ‘Dia do Gafanhoto’, do Nathanel West, ambientando nos anos 1940, na velha Hollywood dos sistema de estúdios. Amargo e genial.

  2. Pelo que me lembro das memória do Greene, ele começou o livro como um policial pra entretenimento, coisa que se notaria nas primeiras páginas. Mas aí a coisa escapou de controle e deu no que deu. De qualquer forma, um livro classificado como entretenimento, Nosso homem em Havana, é divertido, sim, mas vai mais longe do que muitos que chegam cheios de pose e seriedade. Aliás como dezenas e dezenas de outros.

  3. Já estava por ficar puto com vc, achando q falava mal do greene. Todos os livros q li de GG são maravilhosos e ultra divertidos. Curiosamente este do post é o q menos simpatizo. Recomendo o Os farsantes, q tem um dos inícios mais cabulosos q já li.

    No seu face teve alguém q cometeu o mesmo erro q eu, sem verificar, e pensou q era para sentar o sarrafo no greene.

  4. Milton, você já viu a adaptação para o cinema de “O Condenado”? Virou um filmaço de Carol Reed, em que o diretor já ensaia aquela fotografia fabulosa de “O Terceiro Homem” filmado 3 anos depois.

Deixe uma resposta