O Condenado (Brighton Rock), de Graham Greene

O Condenado (Brighton Rock), de Graham Greene

o-condenado-graham-greenePor favor, fujam desta antiga edição ao lado. Se este romance de Greene é uma obra-prima, a tradução e os inúmeros erros de digitação são espetaculares. Nos últimos anos, no Brasil, as traduções melhoraram muito. Esta, de Leonel Vallandro, é lá dos anos 50 e tem trechos difíceis de entender, seja hoje, seja na época em que foi lançada. Ademais, cadê a revisão? Espero que a nova edição da Globo, de 2003 e com uma bela capa, traga uma versão revisada.

Aliás, Brighton Rock parece fadado a ter problemas. Após uma notável adaptação para o cinema com Rincão de Tormentas (1947), o romance recebeu uma segunda versão para o cinema, O Pior dos Pecados (2003), que é de absoluta ruindade.

Greene: só bebendo para aguentar tanta transposição ruim!
Greene: só bebendo para aguentar tanta transposição ruim!

Brighton Rock é a história patética de um adolescente que tenta tornar-se um mafioso — ou chefe de gangue — num mundo adulto. O livro é um curioso exemplar de multi-estilismo. É suspense, é filosófico-religioso, policial, tem crítica social, além de ser um violento drama psicológico.

Logo no início temos o assassinato de um homem logo após ter conhecido a prostituta Ida Arnold. Pinkie, o adolescente que o matou, resolve eliminar todos os vestígios do crime. Para tanto, terá que eliminar alguns comparsas e se forçará a casar com a garçonete Rose, também adolescente, a fim de calá-la.

Só que Ida — desinibida, inteligente e debochada — resolve investigar o caso da morte do novo amigo por conta própria, achando que deve isso a ele. OK, gente, sem spoilers.

A história serve perfeitamente a Greene. O suspense vai até o final — quem vencerá, Pinkie ou Ida? O catolicismo do autor está representado pelo jovem casal. Pinkie acredita apenas no inferno e crê estar condenado pela religião. Rose busca o céu e uma vida melhor, mas com um futuro chefe de gangue. A crítica social perpassa tudo, mas explode brilhantemente na figura do advogado de marginais Prewitt. O mesmo vale para o poderoso drama psicológico, principalmente o que envolve o casamento arranjado de Rose e Pinkie. Ele a detesta desde o primeiro minuto, ela se acha obrigada a amá-lo, mesmo que veja só desprezo em Pinkie.

Escrevi tudo isso rapidamente e não creio ter dado ideia da grandiosidade de Brighton Rock. Mas é da vida. Ah, o livro tem um final estarrecedor do ponto de vista humano, mas esplêndido do ponto de vista de solução ficcional. Indico o romance a meus sete leitores.

10 dias, 39 páginas; 1 dia, 70 páginas

10 dias, 39 páginas; 1 dia, 70 páginas

o-condenado-graham-greeneSou um cara insistente. Quando pego um livro ruim, tento ir até o fim. Sempre fiz isso. Gostaria de contrair imediatamente a Síndrome de Gambardella, personagem principal do filme A Grande Beleza. Ele dizia: “Tenho 65 anos, não posso mais perder tempo fazendo coisas que eu não quero fazer”. Pois ler sem vontade, ler achando ruim, é penoso. A gente lê e o pensamento sai por aí. A gente lê e lembra do Facebook. A gente lê e pensa na agenda, nos pagamentos. Quando avançamos duas ou três páginas, damo-nos conta de que nada se fixou na nossa mente e temos que voltar. É frustrante e burro. Chego a pensar se os 57 anos não estão queimando todos os neurônios, ou ano ao menos os destinados à leitura.

Eu estava às voltas com um traste desses até domingo. Então, ontem, olhei para minha hoje diminuta biblioteca e decidi pegar um dos confirmados. Escolhi um romance de Graham Greene, daqueles antigos. Tratava-se de uma tradução do célebre Brighton Rock — O Condenado, no Brasil. E simplesmente grudei no livro. A narrativa é elegante e inteligente. Pinkie, líder de uma gangue adolescente, quer tronar-se um mafioso na cidade inglesa de Brighton. Ele decide casar com a ingênua garçonete Rose a fim de comprar o silêncio dela sobre um assassinato que cometera. Mas há mais pessoas que sabem do fato.

Greene dividia seus livros entre os “sérios” e os “de entretenimento”. Jamais imaginaria, mas ele classificou Brighton Rock no segundo grupo. Toda aquela discussão sobre apenas acreditar no Diabo e no Inferno, caso de Pinkie, enquanto Rose também crê em Deus e no Paraíso e Ida, a perseguidora, na justiça terrena e no prazer… Tudo isso é entretenimento? Só para Greene e só em 1938. Hoje, Brighton Rock seria coisa muito séria.